América em chamas

Nacional

Ahmaud Arbery, Breonna Taylor, Walter Scott, Tamir Rice, Philando Castile, Samuel Dubose, Terrence Crutcher, Trayvon Martin, Eric Garner, Oscar Grant, George Floyd. São negros, americanos, executados, abatidos como animais. As suas mortes percorreram o mundo. Assistimos aos olhos de uma pessoa, com quatro três homens em cima dele, a fazer força com os joelhos no tronco e nas pernas e a sufocá-lo com o joelho depois de o espancarem brutalmente dentro e fora do carro da polícia. Uma mulher que dormia e foi perfurada por dezenas de balas porque a polícia procurava um suspeito já detido e ainda acusou o seu companheiro por ter disparado contra um polícia que foi baleado por outro polícia. Ser negro nos EUA significa que não se pode falar quando a polícia chega. As mãos ficam no volante. Ninguém se pode mexer. A primeira coisa se te mandam atirar ao chão é atirares-te ao chão e ficares calado porque estão doze polícias com uma arma no ar e a qualquer gesto matam-te. Não te prendem.

Matam-te.

Nos protestos que vão enchendo todo o país uma miúda diz que não se senta, que já perdeu três irmãos e que não se vai esconder atrás da sua cor porque ela é a razão pela qual a matam, então que a matem.

Outra mulher negra diz que aprendeu a violência com os brancos.
Uma mulher baixa um joelho diante de um pelotão de bastões em riste.
Carros da polícia avançam sobre manifestantes.

São disparadas balas de borracha directamente às cabeças dos manifestantes pacíficos.
Dois polícias passam e um atira violentamente uma mulher parada ao chão.
Um polícia a cavalo passa sobre uma manifestante.

Tanques enchem as ruas de Minneapolis e disparam sobre as pessoas nas janelas e portas de suas casas.
Às 21:13 vários polícias partem as janelas de um carro e agridem com bastões e tasers um casal de negros que regressava a casa por violação de recolhimento obrigatório, imposto nesse dia, a partir das 21h00.
O presidente ordena que o exército entre a matar.

Nos comentários, uma testemunha da execução de Floyd diz que o polícia o queria matar, estava satisfeito.
8 minutos e 43 segundos, sendo que cerca de três minutos Floyd já estaria morto e o joelho continuava a fazer pressão sobre o seu pescoço enquanto o carrasco tinha as mãos nos bolsos.

Em LA a polícia faz barreira para que a manifestação se desvie para Fairfax e não passe para Beverly Hills. Usa bastões, balas de borracha, interfere com as comunicações.
Em Nova Iorque atiram gás pimenta para cara de crianças.
Jornalistas da CNN são presos porque são negros.
Está tudo documentado.

This is America.

Sempre foi. A América onde ser negro é motivo para morrer.

Kuku, Lbc, Timor, Celso, Cláudia, Rui, Miguel, Paulo, Jakilson e tantos outros cujo nome não sei.
São negros, se a polícia diz pára, têm que parar. Mas se param são culpados e podem ser agredidos. Se fogem são culpados e serão seguramente agredidos e detidos.

O Kuku foi executado aos 14 anos com um tiro na cabeça e o carrasco absolvido. Uma esquadra inteira agrediu e torturou jovens negros e não há penas efetivas e ainda não se conhecem expulsões da PSP. Ainda são agentes. Um cidadão ucraniano foi torturado e morto por autoridades e a diretora nacional do SEF ainda está em funções. O agressor de Cláudia Simões ainda está em funções. A 20 de maio passou um ano sobre o primeiro acórdão que condenou agentes da PSP por agressões e deixou cair o racismo porque preto filho da puta, pretoguês, quero a vossa raça extinta são coisas que o nosso país, as nossas instituições acham que podem ser ouvidas e ditas. E apesar de tudo foi o único processo a esta escala que avançou, com vítimas que resistiram, com uma decisão condenatória. Mas afinal ainda foi pouco. (será mesmo que foi?)

Durante os cinco anos que durou o processo até ao julgamento, resistiram sozinhos e aguentaram.

No último ano, aqueles dois dias por semana em Sintra, a viagem tinha uma banda sonora todas as manhãs. Repetia uma música chamada Doomed to live, da banda sonora da série Gomorra, realizada a partir do livro de Roberto Saviano, sobre a mafia napolitana. Por vezes na viagem cruzava-me com a carrinha da PSP que transportava os agressores, e não raras vezes a viagem era feita em lágrimas como se numa mistura de sentimento de impotência (quem derrota a polícia?), de incompreensão sem saber se valeria a pena que quem passou por tudo aquilo estivesse novamente a arriscar as suas vidas (sim, porque estiveram sempre em risco, não tenham ilusões) e se estariam para sempre condenados a viver assim. E no dia em que os agressores foram condenados, percebi que não e que há muito a fazer. E aqui, em Portugal, ainda não é tarde. É preciso organização, porque combatividade, resistência e luta há. Mas há demasiadas vítimas. E não podemos deixar que avance mais. Ser negro não pode ser motivo para ser agredido, detido ou executado. E nós temos que estar na linha da frente.

The great only appear great because we are on our knees. Let us rise. Big Jim Larkin

19 Comments

  • Nunes

    5 Junho, 2020 às

    Através deste video, podemos ver aquilo que são os polícias norte-americanos:

    https://www.youtube.com/watch?v=TPeuPoXxmfA

  • Jose

    1 Junho, 2020 às

    Tudo isso acontece com brancos, e não dá notícias.
    Polícias mortos, também não dá notícias.

    A sociedade americana é violenta, de uma violência armada, não raro organizada em gangues, com um sistema judicial repressivo e violento.

    O racismo é um problema, mas não é definidor da violência.

    • Nunes

      1 Junho, 2020 às

      Como foi que escreveste? Posso voltar a repetir?

      «Não lhe dou é a importância dos que tudo reduzem a que estando o país em guerra em três frentes se sentiam no direto de servir quem no campo de batalha era nosso inimigo.»

      Quem era nosso inimigo, Jose?

      Vamos continuar?

      «O 25A opôs-se ao que vinha sendo uma acção política medíocre, hesitante, incapaz de anunciar um futuro para o país.
      Foi uma festa porque se celebrou um futuro que se adivinhava, não porque se libertava dos horrores que propagandeiam os que por esse meio buscam legitimar-se pelo seu passado e não pelas suas acções no presente.
      Agora, que há anos se vive numa confrangedora mediocridade que sempre anuncia um futuro de ameaças, que paralelo existe entre a festa de 1974 e a mascarada de 2020?»

      Quem escreve este tipo de comentários não é de todo inocente.

      Agora tenta, em vão, dar aulas de moral e de rigor, com a sua confusão já habitual.

      Sugiro que tenhas calma e te afastes do conteúdo destas páginas. As pessoas que escrevem os textos nada têm a ver com a tua confusão mental, Jose.

    • Jose

      1 Junho, 2020 às

      Que te confunda a não conformidade à cartilha do corretês, não é surpresa.
      A placidez mental, cultura dominante, requer recusar a perturbação que é a realidade.

      Que eu esteja confuso…sossega, enquanto escrever fácil e curto, será sinal de pensamento fácil.

    • Nunes

      1 Junho, 2020 às

      Infelizmente, muito fácil. Tão fácil que apanhamos o racista e o retrógrado colonialista que és.

      As tuas últimas considerações sobre a guerra em África são um belo hino à memória do general Kaúlza de Arriaga.

      Começo a perceber toda a miséria desse teu pensamento estranhamente obscuro. Em matéria de racismo, episódios como Mueda, Pidgiguiti ou Wiryamu não devem ser vistos como massacres. Impõe-se aquela tua lógica que explicas as coisas e não explicas. Embrulhas e tornas a embrulhar, para que reveles o teu racismo, mas que lá no fundo sintas que contribuíste com um bom comentário para a tua enorme carreira de cretino.

    • Jose

      2 Junho, 2020 às

      De guerra só deves conhecer as dos heróicos soviéticos que se recuavam morriam.
      De Wiryamo, contou-me quem lá esteve:
      – Estacionou brevemente a tropa na alfeia; relações cordiais; nada a assinalar.
      – Saem e pouco depois um tiro mata o alferes, que bem pudera ter sido identificado na aldeia.
      – Regressam à aldeia e vão vingar-se do que chamam traição.
      E vai daí? Lamentável? Sim, mas…
      Só para vende-pátrias se transforma isso em definidor de política ou de um povo.

    • Nunes

      2 Junho, 2020 às

      Sim, mas… (Que pensamento é este que tu até pões por escrito?)
      Sim, mas… (Eras a favor do massacre?)
      Sim, mas… (Eram apenas velhos, mulheres e crianças africanas…)

      Fazes bem em escrever, pois aquilo que leio é apenas o teu testemunho e aquilo que tu representas em matéria de racismo.

      Identificaste com aqueles que gostam da guerra e com aqueles que matam por matar.

      Sim, mas…
      Sim, mas…
      Sim, mas…

      Novamente, sem desculpa nenhuma.

    • Nunes

      2 Junho, 2020 às

      Identificas-te com Francisco Daniel Roxo e o método de atacar uma população, nem que para isso seja necessário matar crianças?

      Identificas-te com a táctica da PIDE em África e o modo criminoso como mataram vários civis africanos?

      Ou será que também és daqueles que não acredita que a PIDE esteve implicada na morte de Humberto Delgado e que nada foi provado durante o julgamento do seu assassinato?

      Continuo a achar estranha a tua presença aqui no «Manifesto-74». Fazes lembrar um ex-PIDE; daqueles que se intromete entre os seus inimigos apenas para ver o que dizem ou o que pensam.

      És, no mínimo, patético.

    • Jose

      3 Junho, 2020 às

      Vejo que contribuo para que te sintas muito vivo, dizendo nada por ti e muito por mim.

      Sempre assim fazem os frouxos e os ocos.

    • Nunes

      3 Junho, 2020 às

      A prova do teu racismo está nas palavras:

      «De Wiryamo, contou-me quem lá esteve:
      – Estacionou brevemente a tropa na alfeia; relações cordiais; nada a assinalar.
      – Saem e pouco depois um tiro mata o alferes, que bem pudera ter sido identificado na aldeia.
      – Regressam à aldeia e vão vingar-se do que chamam traição.
      E vai daí? Lamentável? Sim, mas…»

      Este «Sim, mas…» é a maior prova alguma vez dada daquilo que és.

      Confuso? Também és.

      Parvo, lorpa, pequenino? Talvez.

      És aquilo que és e sempre que vieres aqui, serás travado.

      Conta comigo.

    • Jose

      3 Junho, 2020 às

      Travado? Não quererás dizer, adjectivado e insultado?

    • Nunes

      3 Junho, 2020 às

      Travado no sentido de contribuir para te desmascarar daquilo que tu pretendes ser; e também para te apanhar na vida real.

      Eu já te expliquei que a literatura não é inocente.

      Quantas mais vezes tu escreveres aqui e te revelares (tal como te revelas no blog «Ladrões de Bicicletas»), mais definido ficas.

      Há muitas contas a ajustar contigo.

      E já sabes… quando esse dia vier, para ti será «Game Over».

      Mantém o teu posto e não percas o ritmo de ser cretino. Mais me ajudas a te encontrar.

    • Jose

      4 Junho, 2020 às

      Ó Nunes estás numa de social?
      Queres te encontrar comigo? e "…quando esse dia vier, para ti será «Game Over»".

      Fala-me de ti, para que te conheça melhor, antes desse encontro. Além de idiota és muito bruto?

    • Nunes

      4 Junho, 2020 às

      Estás tramado.

      Oxalá te decidas a sair do «Manifesto 74» como comentador (ou será antes provocador?)

      Como eu sei que és parvo e que não perdes uma (para a caixa de comentários), vais voltar muitas e muitas vezes (está dentro do teu ADN de maluco).

      Dessas muitas vezes que virás, vai haver um dia em que te esqueces e deixas cair uma que te revela e te deixa descobrir (não basta muito).

      Portanto, estás feito.

      Podes tentar fugir, mas um imbecil como tu é sempre apanhado (e depois lixado).

      Até logo!

    • Nunes

      5 Junho, 2020 às

      Este teu comentário foi agora metido na caixa de comentários do blog «Ladrões de Bicicletas»:

      «Enquanto não houver a coragem de controlar o armamento nas mãos de civis, dificilmente a polícia deixará de ter um padrão brutal de intervenção.
      Censurar a brutalidade sem reconhecer a ameaça, sempre vai dividir.

      E se os saques são tão frequentes nas manifestações é porque a polícia tem medo e só actua com forças concentradas.»

      E o armamento nas mãos dos polícias?

      A polícia americana sempre teve um padrão brutal de intervenção. Não sejas lorpa e vê as últimas imagens que vêm da América.

      Esta tua opinião está muito longe da realidade, mas como é habitual, tu escreves como se a lógica habitasse dentro de ti, ou seja, escreves como alguém que foi abandonado num manicómio.

    • Nunes

      5 Junho, 2020 às

      Novo comentário teu acerca da realidade americana de hoje:

      «Lembro-me como se fosse hoje, dum tempo em que sempre se falava de valores quando se falava de condicionantes da vida pessoal e em sociedade.
      Dos americanos, num perturbador caldo de culturas, lembrava-se a candura em 'do the right thing'.
      Falava-se de racismo e recordava-se o valor da negação da ciência quanto à diferenciação das raças.
      Falava-se de diferenças sociais e sempre se elegiam valores a respeitar na convivência social, sem medida de poder ou de riqueza.
      Falava-se constituir valores em direitos e sempre se lhe faziam corresponder deveres.
      E sempre se propunha que para as pessoas houvesse um padrão de qualidade individual ainda que temperado pela circunstância que lhe fosse reconhecida, mas sempre reservando a irresponsabilidade aos clinicamente irresponsáveis.

      Recordo-me como se fosse hoje.»

      O que é que tu queres dizer com isto?

      «Falava-se…» Para ti falar, significa o fazer? Significa a realidade em concreto?

      Quando escreves: «Falava-se de racismo e recordava-se o valor da negação da ciência quanto à diferenciação das raças.»

      O que é que isto quer dizer?

      Estás a ver os exemplos que dou desta tua confusão, em cadeia?

      Tu és confuso e a tua lógica vem de falta de estudo e disciplina (de atenção, sobretudo).

      Pensas que tens razão, quando aquilo que escreves não tem nexo.

    • Jose

      5 Junho, 2020 às

      Inscreve-te na tele-escola!
      A iliteracia trata-se.

    • Nunes

      5 Junho, 2020 às

      Da tua confusão trato eu, está cansado.

      Nem sabes como escrever «telescola»… Que maior prova de iliteracia pudeste tu dar agora, animal.

    • Nunes

      6 Junho, 2020 às

      Toma lá um poema da minha autoria:

      «Jose, ó calino da «tele-escola!»
      Já foste à escola?
      Se não foste,
      Porque não aprendes na telescola?»

      Até breve

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