O Polígrafo Mente

Nacional

E de forma descarada. Numa publicação de alegado «fact-checking», assinada pelo aferidor da verdade de serviço Rui Oliveira Costa, foi imputada a João Ferreira uma declaração segundo a qual o candidato apoiado pelo PCP «não defende a saída de Portugal do Euro». Nada mais falso, pela simples razão de que não foi isso que João Ferreira disse. Ora, o que João Ferreira disse ontem, no debate com Ana Gomes, cujo vídeo está aí em toda a parte para ser visto e revisto por qualquer pessoa, é que «não defende a saída de Portugal da União Europeia». Contudo, e como se isto não bastasse, o texto tem determinados «requintes» que importa aqui salientar. É que não se trata só da propagação de um conteúdo falso, de uma atribuição grave de declarações falsas, mas de toda uma redacção de texto que visa sustentar a mentira de forma confusa e manipuladora.

Em primeiro lugar, a versão do texto a que acedemos à hora a que escrevemos este artigo – como se sabe o mundo das edições é muito volátil – não cita exactamente as palavras de João Ferreira. Até porque, à partida, se o autor o tivesse feito, tal bastaria para dar cabo de todo o argumentário. Pois nos dois primeiros parágrafos do texto, quem é citado é precisamente Ana Gomes, e nunca, nem uma palavrinha, o João Ferreira. Finalmente, ao terceiro parágrafo, é o próprio «aferidor da verdade de serviço» quem coloca no João Ferreira as palavras que ele não disse:

Será assim?, pergunta o aferidor à afirmação que ELE PRÓPRIO acabara de produzir. Espantoso! Mas calma, que depois vem a estonteante justificação. Se isto já é, em si mesmo, grave e exemplo de manipulação grosseira, o que se dirá daquilo que o desastroso autor veio escrever para se justificar. Começa por citar João Ferreira sobre o Brexit, mudando agora a bitola da «saída do euro» para a «saída da União Europeia». Em nenhuma das três citações apresentadas é dito, ou sequer sugerido, que posição se deveria ter no caso concreto português em face da moeda ou da própria União. Mas há mais.

Não contente com esta patética mistura de grelos, o aferidor de serviço escreve o seguinte:

Certamente que o leitor comum, de boa fé, perceberá rapidamente que João Ferreira o que aqui faz é apenas um balanço, negativo, claro está, da permanência de Portugal no euro. Mas onde o leitor de boa fé vê um balanço, o aferidor encontrou “declarações sobre a matéria” que pela sequência, na sua cabeça e só na sua cabeça, vêm justificar o injustificável.

No final, vem o pináculo de toda esta pouca vergonha em forma de texto de «fact-checking». O autor cita João Ferreira a defender a saída da moeda única, pela simples e verdadeira razão de que a sua posição (e a do PCP) foi sempre a de preparar o país para essa possibilidade (imposta ou não), e não a «saída da União Europeia».

E bingo! A conclusão do artigo está feita! O autor atribui uma FALSA frase a João Ferreira que João Ferreira, evidentemente, nunca disse. Espalhou-se a «verdade» do «aferidor», partilhou-se aos milhares, João Ferreira teria mentido, criou-se um facto. Isto é o «fact-checking» do Polígrafo. O Polígrafo disseminou a mentira, manipulou a opinião, atacou um candidato, contribuiu para o descrédito do próprio site e do jornalismo. E nenhum pedido de desculpas, ou correcção, virá a tempo de salvar a mediocridade do exercício cometido.

4 Comments

  • Francisco Gonçalves

    18 Janeiro, 2021 às

    O circo está montado

  • Celestino Escaleira

    9 Janeiro, 2021 às

    São uns prostitutos. Para isso é que pagam a estes pseudo-jornalistas, sem coluna vertebral. São a voz do dono. Vermes. Sabujos…

  • António José Fernandes

    6 Janeiro, 2021 às

    Um vómito, esta comunicação “social”, servo/vassala, dos grandes interesses….

  • Alexandre Araújo

    6 Janeiro, 2021 às

    É o jornalixo a que já esta o cidadão, que não quer aprofundar os temas, já esta habituado e se conforma e sustenta com o esgoto que sai da boca destes ditos “independentes” comentadores jornalixos, pagos pelo lóbis do grande capital, financeiro, distribuição alimentar e farmacêutica, energias, da saúde, ordens dos advogados, dos médicos, etc que colocam os seus apaniguados como deputados e autarcas, e, sustentam com publicidade paga pelos impostos dos trabalhadores, estes jornalixos/comentadeiros de pacotilha, escroques do sistema.

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