A pós-verdade da Venezuela

Internacional

Quando se vive – isto é, quando se forma opinião – sobretudo a partir de artigos do Observador, do Expresso ou do Público – quando não apenas dos títulos – é-se “apanhado” muito facilmente naquilo a que tecnicamente se chama “fazer figura de parvo”. É o que muito tem acontecido a quem, por estes dias, tem levantado especiais brados pelo “caos” na Venezuela e se enche dos sentimentos de “pena” e “piedosa comoção” pelo povo do país. É aquele travozinho burguês, chique, enjoativo, quando não de nojo, que tão bem conhecemos, de gente que “acha mal” que a oligarquia corrupta da Venezuela não possa voltar ao seu glorioso passado de muito “progresso” e “prosperidade”, na sempre eterna “esperança” de um belo dia do horizonte “criar muitos empregos” para aqueles “pobrezinhos descalços”.

A verdade é que até aqui, enquanto a dupla EUA/oligarquia interna andou a minar e a atacar sem tréguas a constitucionalidade, a perturbar a paz social, a alimentar a violência, a sabotar a economia e a conspirar internacionalmente contra o próprio país, ninguém teve qualquer especial “pena” do povo venezuelano. Enquanto o caos andou a ser semeado e instado tanto interna como externamente, com consequências directas no degradar das condições de vida do povo, ninguém apareceu a defender a “democracia” nem desatou a insultar os seus principais mentores. Aliás, o “assunto Venezuela” nunca era tema de debate, sobretudo quando o governo bolivariano erradicava o analfabetismo, ou promovia a saúde pública, a educação e a cultura como nunca antes na História do país.

Mas agora, que certa comunicação social portuguesa, paga bem sabemos nós por quem e para quê, coloca títulos e artigos a preceito sobre um propalado “apocalipse” em curso, fica dado o toque de midas para a “comoção” geral. E “comoção” de quem? Sobretudo daqueles que estão sempre à espreita de um qualquer arranjozinho “jornalístico” que permita dar a sempre tão saborosa – e revanchista, reaccionária – bicadazinha ao PCP. Título a preceito, fotografia do Jerónimo, bandeiras vermelhas, um “caos” como hipérbole, a ligação desejada e pronto, está o ramalhete composto. Enfim, como se diz na minha terra, quem não os conhecer que os compre.

17 Comments

  • Jose

    30 Abril, 2017 às

    Nunes, foi ver o site linkado e lá estava expresso o entusiasmo de um assistente à sessão

    • Nunes

      1 Maio, 2017 às

      Novamente, uma dose suposta de refinada e surpreendente ironia do Jose…

  • Nunes

    24 Abril, 2017 às

    Não mostraram as imagens do embaixador venezuelano, Arévalo Méndez, a ser saudado no teatro chileno de Caupolicán, por uma quantidade de pessoas que gritavam: “Maduro, Maduro, al yanqui dale duro”.

    Está aqui o video para os ignorantes Luís Costa e Jose apreciarem:

    http://www.laiguana.tv/articulos/54887-video-saludan-a-embajador-venezolano-en-chile

    O que está a acontecer na Venezuela, também se passou no Chile, no princípio dos anos 70. Se Chile caiu devido à traição dos generais e dos soldados, a revolução bolivariana mantém-se de pé, graças ao apoio do exército e ao trabalho de Hugo Chávez Frías que conseguiu o apoio dos soldados para a revolução.
    Não esqueçamos as provocações, os boicotes, as ameaças da direita e esse vil senhor chamado Henry Ramos Allup que usou o parlamento para denegrir o trabalho da revolução e da presidência de Nicolás Maduro Moros em prol do povo.

    • Jose

      26 Abril, 2017 às

      '…era la celebracion del refichaje de los militantes comunistas..convirtiendose en el partido mas grande de chile…'
      Extraordinário!
      Surpreendente!

    • Nunes

      26 Abril, 2017 às

      A ironia de Jose…

  • Jose

    22 Abril, 2017 às

    Só mesmo a burguesia corrupta ambiciona ter pão nos supermercados e medicamentos nas farmácias.
    Avante camarada Maduro, pela revolução bolivarians!

    • Nunes

      22 Abril, 2017 às

      Bolivarians? Ai, José, José…

    • Mário Reis

      23 Abril, 2017 às

      Oh José, continuas maroto…
      Mas a burguesia corrupta pode ambicionar a voltar a dominar a sociedade venezuelana (como a dominou durante mais de 90 anos, com a Venezuela, 4.º produtor mundial de petróleo, a enriquecer um punhado e camarilhas, enquanto o povo vivia na miséria como o provam as maiores favelas da América Latina à volta de Caracas e outras cidades) e para isso, retirar o pão dos supermercados e os medicamentos das farmácias.
      Dá-te jeito apagar da memória factos e certos acontecimentos para justificar, hipocritamente, a defesa dos direitos do homem na Venezuela … Onde andavas antes da era chavista? Seu maroto!
      Sim, a burguesia corrupta e criminosa, conjurada com a clientela viciada em festas de "misses" e de vida larga e afortunada, é bem capaz disso e muito mais. Desestabilização, bombas e terrorismo (lembras-te do verão quente de 75?) é uma linguagem tão conhecida da escola que te(vos) inspira que é de meter dó essa tua hipocrisia não fosses tão patético e hilariante.

  • Luís Costa

    20 Abril, 2017 às

    Mas já todos sabem as inúmeras atrocidades cometidas pelos norte-americanos. Em que é que isso vem ilibar o que Maduro tem feito?

    • Nunes

      21 Abril, 2017 às

      Este comentário mais parece um elogio à forma como os americanos continuam a sua campanha de bombardeamento na Somália e Síria.
      Se quiser saber o que Nicolás Maduro tem feito, tente investigar e saber.
      Em vez de se sentar na cadeira do aborrecimento e ler a propaganda que lhe é fornecida por Espanha e os EUA, através da nossa imprensa e televisão, vá ter com os venezuelanos, como eu fui.
      Faça trabalho e deixe de vir aqui com provocações imbecis, muito próprias de meninos da «AD».

  • cris

    20 Abril, 2017 às

    "Fazer porcaria" , que ternurento… Os EUA "fazem porcaria" á farta, historicamente uma bombas de napalm aqui, uns drones assassinos acolá, Vietnam,Chile, Indonésia, Iraque, "porcaria" de mortos aos milhões, mas eles não são uma oligarquia, são uma democraCIA. A "porcaria" que os EUA fazem cheira a petróleo…Sanguinários, brutais, assassinos são os Assad, os Kadafi, os Maduro. Promovamos a agenda "democrática"do Pentágono.

  • Luís Costa

    20 Abril, 2017 às

    Estamos a falar do mesmo Expresso e do mesmo Público que durante dias a fio ignoraram os conflitos na Venezuela, é isso? Estamos a falar dos jornais que preferiram cobrir exaustivamente as parvoíces de um grupo de jovens em Espanha em vez de falar de assuntos realmente importantes, como o da Venezuela, onde por acaso até estão emigrados milhares de portugueses?

    Quem é essa oligarquia de que falam? Aquela de que faz parte Maduro e os seus amigos? Todos sabemos que os EUA estão fartos de fazer porcaria pelos quatro cantos do globo, mas não tentem usá-los como desculpa para ilibar a falta de democracia na Venezuela que acima de tudo é culpa do governo de Maduro.

    E sim, durante o Chavez houve alguns progressos consideráveis no país… embora claramente nem tudo fossem rosas.

    • Nunes

      20 Abril, 2017 às

      Por acaso, Nicolás Maduro foi eleito presidente pelos venezuelanos em eleições livres e transparentes, com supervisão até de pessoas como Jimmy Carter e Jose Zapatero.

      Apesar da agitação e das provocações, a presidência de Nicolás Maduro está viva e consegue encher a maior praça de Caracas com admiradores e votantes do PSUV. Para tal, é melhor ver as imagens obtidas pela «Telesur» dos acontecimentos ontem vividos naquele país.

      Infelizmente, Luís Costa, quando leio textos tão ignorantes da situação venezuelana, como o seu ou aquele de Francisco Sarsfield Cabral que adivinha uma guerra civil neste país, só posso concluir que Nicolas Maduro está num bom caminho.

      Esse caminho pode ser difícil, devido à pressão da propaganda internacional, gerida pelos grandes grupos económicos americanos e espanhóis. No entanto, este caminho já deu imensos frutos e consegue até cativar mais gente da América Latina a fazer revoluções e a transformar o homem deste planeta para algo melhor.

    • Luís Costa

      21 Abril, 2017 às

      Claro, queixa-se da parcialidade dos media ocidentais (e até concordo) mas pede-me para ver as imagens da Telesur, que é super imparcial. Nicolás Maduro foi eleito em eleições livres e transparentes? Cada um terá a sua opinião. Vou só deixar-lhe aqui uns nomes: Trump, Erdogan, Hitler, não sei se quer que continue. Acho que entende onde eu quero chegar.

    • Nunes

      21 Abril, 2017 às

      Comparar Nicolás Maduro a Trump, Erdogan e Hitler é um grande erro e revela falta de compreensão pela realidade política dos tempos que atravessamos.
      O processo venezuelano é revolucionário e não parou após a morte de Hugo Chávez.
      O Luís Costa desconhece o percurso político de Nicolás Maduro, como também desconhece tudo aquilo que os venezuelanos já alcançaram com a sua presidência.
      Se a Telesur (canal alternativo às estações de televisão que a Nos e a Meo lhe dão para ver) é super imparcial, o que dizer da BBC, CNN, Fox, etc?

      Como já entendi, a sua compreensão pela revolução bolivariana e a presidência de Nicolás Maduro Moros, é igual àquela fornecida todas as manhãs pela imprensa do grande capital. Aquilo que os jornais e televisões contam, o Luís Costa aceita como verdade.
      Portanto, nada tenho mais a acrescentar sobre o seu (lamentável) caso.

    • Luís Costa

      22 Abril, 2017 às

      Como queira. Mais grave do que o fanatismo ideológico do senhor, é a forma como rapidamente parte para o ataque pessoal e distorce o que os outros dizem. Cumprimentos

    • Nunes

      23 Abril, 2017 às

      Fanatismo ideológico? Essa é boa.
      Eu apenas acuso-o de ser ignorante dos factos e de não se interessar pelo processo revolucionário existente na Venezuela.

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