A «Telmice»

Nacional

O PCP propôs ontem na Assembleia da República uma lei que, no fundo, tinha como objectivo contribuir para a transparência do exercício do cargo de deputado. São, aliás, conhecidas e já várias vezes denunciadas, situações de promiscuidade gritante entre deputados que são simultaneamente políticos e agentes de interesses privados na sede onde se decidem as leis deste país. Como seria de esperar, PS, PSD e CDS votaram e rejeitaram o referido projecto do PCP. E o mais elucidativo é que, tratando-se de matéria de transparência, quem mais acusou o toque e quem mais vociferou contra a proposta foi precisamente o partido dos sobreiros, dos submarinos e de Jacinto Leite Capelo Rego.

Note-se bem… é o CDS, esse mesmo, que vem acusar outro partido de “subserviência” (…) Esse CDS que andou todos estes anos a obedecer às ordens da troika estrangeira mesmo que para isso tenha sido forçado a rasgar todo o leque de promessas eleitorais com que ludibriou “pensionistas”, “agricultores” e “contribuintes”.

Telmo Correia não resistiu a usar contra o PCP e os comunistas os mesmos argumentos que o regime fascista usava nos tempos da Assembleia Nacional. Com uma sobranceria que é proporcional à sua evidente inabilidade para ocupar qualquer cargo político, Telmo Correia, entre outros dislates e observações demonstrativas de uma confrangedora ignorância histórica, acusou o PCP de subserviência à União Soviética. O que é absolutamente caricato é que essa acusação de “subserviência” vem precisamente do CDS. Esse mesmo CDS oportunista que se aninha ao poder (seja PSD ou PS) em troca de dois ou três ministérios. Esse CDS que andou todos estes anos a obedecer às ordens da troika estrangeira mesmo que para isso tenha sido forçado a rasgar todo o leque de promessas eleitorais com que ludibriou “pensionistas”, “agricultores” e “contribuintes”. Esse mesmo CDS, já sem face e sem vergonha, que anda a mendigar a todo o custo uma coligação pré-eleitoral, para ver se o resultado arrasador que o espera – e que merece – se “dissolva” tacticamente nos 20% do PSD.

Com o velhaco recurso a termos como “gulag” e “coreia do norte”, a «Telmice» amplamente difundida nas televisões só serviu para esconder o essencial. E o essencial é que ontem, uma vez mais, foi posta à prova a vontade dos partidos que querem “mais transparência” e dos que querem “menos transparência”. E ficou bem claro, aos olhos de todos, quem são os que estão de um lado e quem são os que estão do lado oposto.