Discuto todos os dias comigo mesmo. A avalanche de informação contrária às minhas ideias é tão avassaladora que me faz reflectir uma e outra vez se não estarei errado. Tenho de provar a cada minuto que as minhas convicções não são um capricho desligado da realidade. Há um século, Lénine proclamava que a prática é o critério da verdade e nunca deixei de usá-la para medir a distância entre o que penso e o que existe. Ainda antes do génio da revolução bolchevique e antes da própria Comuna de Paris, os representantes políticos da esquerda francesa olhavam com desconfiança para os primeiros operários que tentavam candidatar-se. Advogados, médicos e escritores entendiam que sabiam melhor das reivindicações do que operariado e que não fazia qualquer sentido sentarem-se na mais importante câmara da política francesa. Hoje, como desde então, o preconceito persiste.
Autor: Bruno Carvalho
A empresa portuguesa que promove o arremesso de anões
E se uma empresa de eventos oferecesse para as despedidas de solteiro, jantares de negócios e festas de colegas de trabalho actividades que envolvessem o arremesso de ciganos, amputados ou cegos? É isso mesmo que a Mundial Eventos faz. A empresa de Cascais cujo proprietário é Pedro Raposo propõe pacotes que incluem o lançamento de anões, o bowling com anões e striptease com anões. Este negócio que promove a barbaridade e a humilhação como diversão foi denunciado pela Confederação Nacional dos Organismos de Deficientes e pela Associação Nacional de Displasias Ósseas. Ambas as organizações consideram que esta prática configura um profundo retrocesso, promove a humilhação, atenta contra a dignidade humana e viola os direitos das pessoas com deficiência. O arremesso de anões foi já proibido noutros países e mereceu a condenação da ONU.
BE ataca Venezuela
«Não me custa nada condenar a falta de democracia na Venezuela.» afirmou, hoje, no JN, Mariana Mortágua, deputada do BE. Há uma semana, quando o PCP apresentou votos de solidariedade com os povos da Venezuela, Brasil e Colômbia, o deputado bloquista Paulino Ascenção afirmava que o seu partido rejeitava “qualquer abuso da força ao nível interno ou através de ingerência externa” e que condenava “qualquer limitação à liberdade de expressão e à livre determinação do povo da Venezuela”. Ou seja, o BE alimentava o peditório de que o governo venezuelano abusa da força e limita a liberdade de expressão.
Ao sabor da brisa mediática
Até hoje, nas suas relações internacionais, jamais o BE havia tido um governo de um partido que coincidisse com a sua linha política. Timidamente e muito pontualmente, mostrou-se solidário com alguns governos que na América Latina avançavam com políticas progressistas. Nunca vimos este partido organizar actos contra o golpe na Venezuela, Equador ou Bolívia. Com Cuba jamais mostrou o mais pequeno gesto de empatia e não se sabe qual é a sua posição sobre o bloqueio contra a pátria de José Martí.
Resistência também é nome de mulher
A histórica luta das mulheres trabalhadoras pelos seus direitos teve episódios que não se podem apagar. Um deles é o do incêndio, em 1857, na fábrica de camisas Triangle, em Nova Iorque, em que centenas de operárias, sequestradas pelo patrão, acabaram carbonizadas. Em Portugal, o exemplo da tragédia que se abateu, em 1954, sobre Baleizão com o assassinato da assalariada rural Catarina Eufémia durante protestos por melhores condições de trabalho. A também comunista estava grávida e com um filho ao colo quando foi abatida pela GNR.
Mas o combate abnegado pela reivindicação mais do que justa de direitos iguais não foi palco apenas de tragédias. O sangue das mártires que caíram nesta luta regou a sementeira de conquistas e significou importantes avanços. O Dia Internacional da Mulher foi conquistado sob proposta da comunista alemã Clara Zetkin que o propôs na II Conferência da Internacional Socialista, em 1910, no contexto da luta pelo direito ao voto, à redução do horário de trabalho e ao aumento de salários. A proposta foi aprovada por unanimidade e, em 1911, o Dia Internacional da Mulher Trabalhadora foi declarado com manifestações em todo o globo.
Spinning
No dia 22 de Janeiro, o PSD e o CDS apresentaram uma proposta no plenário da Assembleia da República para a realização de uma auditoria externa ao Banif. O BE, pela voz de Mariana Mortágua, logo a seguir, afirmou que “a primeira iniciativa que o BE vai ter depois de constituída a comissão de inquérito é propor a realização de uma auditoria externa.” O PCP falou pouco depois e afirmou que não estava disponível para encomendar “auditorias externas” que viessem a condicionar o trabalho da comissão de inquérito e que seriam feitas pelas mesmas empresas que são peritas em esconder a verdade. E o PCP disse mais: que rejeitaria essa proposta, fosse quem fosse que a apresentasse.
Recuperar as 35 horas, uma luta de todos.
A imposição das 40 horas semanais de trabalho aos trabalhadores das administrações central e local foi uma das mais violentas agressões do governo liderado por Passos Coelho e Paulo Portas. Esta decisão, sob a orientação do FMI e da União Europeia e correspondendo aos interesses dos grandes grupos económicos e financeiros, representou um dos mais graves retrocessos para os direitos de quem trabalha na função pública. Na prática, quem trabalha para o Estado, passou a exercer a sua profissão de forma gratuita durante cinco horas por semana, o que corresponde a 20 horas por mês. Ou seja, mais de um mês de trabalho que em cada ano o Estado deixou de pagar.
A música que não cabe nas televisões
Tão longe dos holofotes dos media como dos top musicais, há quem faça da música parteira do mundo novo. São os netos de Woody Guthrie, de Victor Jara e de Zeca Afonso. Ao contrário da pop não é a forma que determina a eficácia do disparo e até o alvo é diferente. Da garganta e dos instrumentos, é o conteúdo que funciona como gatilho. Ninguém se importa com o penteado do ‘O Zulù, uma das vozes dos 99 Posse, como ninguém se importa com o que veste o Alex dos Inadaptats. As ideias acima da estética. Não são alvo da histeria adolescente e a sua obra não caminha aos ombros da indústria discográfica.