Sou forçado a admitir que o debate parlamentar – e refiro-me a este, que foi o único que existiu – acerca da eutanásia foi, de facto, muito útil. Não para debater as complexas circunstâncias do tema propriamente dito, cujo aprofundamento nitidamente não interessou a quem apresentou as propostas, mas sim para outros fins, bem menos “heróicos” ou “respeitadores” da “vontade dos cidadãos” que alguma ingenuidade da opinião pública pudesse antever nas defesas vigorosas da respectiva aprovação. Das várias latitudes do “interesse” que havia em fazer de forma apressada uma discussão mediática e uma votação atabalhoada, evidenciou-se, muito destacadamente na imprensa, como é habitual nestes casos, a postura pública do Bloco de Esquerda em relação ao PCP.
Não é novidade a diferença substancial entre o que se diz e faz nas bancadas de BE e PCP. Partidos diferentes, com histórias diferentes, com percursos diferentes, reflectindo em quase tudo essas diferenças e manifestando-as, entre outras dimensões, no debate parlamentar. Porém, aquilo a que se assistiu no “debate da eutanásia” (para simplificar) não se confunde com nada, rigorosamente nada, de o que alguma vez se viu ou ouviu da boca de dirigentes do Bloco em relação ao PCP. E seria totalmente errado, para não dizer até pouco responsável, que agora se afastasse da análise que imperativamente deve ser feita, a forma ou a aparência de o que foi dito, concentrando atenções em exclusivo no conteúdo ou na posição de fundo. Casos há – e este é um deles – em que a forma, o tom ou o uso de determinados termos e expressões, encerram em si mesmas não o acessório, mas o fundamental.
A partir de determinados “decibéis” não há nem pode haver espaço para debate algum. Na ambiência de determinado estilo argumentativo não pode haver a mínima correspondência ou resposta. Duvido que, por mais que se esforçasse, algum dos mais empedernidos deputados do CDS alguma vez tivesse sequer a ousadia de se referir ao PCP como o fizeram alguns deputados do BE. Duvido que o desrespeito histórico e até o cínico ataque pessoal – velado, hipócrita, cobarde – a António Filipe, pudessem ser tão evidentes se vindos de PS ou PSD. Ninguém pode, depois de ouvir com redobrada atenção aquelas intervenções parlamentares (ou reler os textos) do BE acerca do PCP e da sua posição nesta questão concreta, continuar a achar que a discorrência foi apenas “manifestação da diferença de posição”. Não foi.
Isto pode ter sido novidade para uns, adivinhável não novidade para outros. O que não pode haver é indiferença, assobios para o lado, desvalorização. E impõe-se uma reflexão séria, colectiva, firme.
18 Julho, 2018 às
Este comentário foi removido pelo autor.
19 Junho, 2018 às
Obrigada pela consideração. De qualquer forma a sua retorica não me elucidou.
Continuo a não perceber (já sei que não li o documento… quem terá lido??!) porque o pcp não votou ou absteve-se a proposta dos Verdes?!? os Verdes também estão em conluio com a comunicação social??
20 Junho, 2018 às
Pode ler a posição aqui:
http://www.pcp.pt/posicao-politica-do-pcp-sobre-provocacao-da-morte-antecipada
Porque o PCP não votou ou absteve-se à proposta de «Os Verdes»?
Como sabe, o PCP tem as suas posições e propostas em cada projecto de lei que diferem de outros partidos e coligações.
Há que ler e como dizia Lenine, «Aprender, Aprender Sempre!»
19 Junho, 2018 às
Não percebo essa citação do José Saramago. No entanto, vindo de si, Maria, é igual.
18 Junho, 2018 às
… tambem poderia acrescentar o que dizia José Saramago que:" mais cego é o que não quer ver…!"
18 Junho, 2018 às
Infelizmente, não leu o documento do PCP.
Ao persistir nesse erro, continuará a não entender a posição do PCP.
Salvo erro, existe uma citação do Padre António Vieira que reza assim: «Quem não lê, não quer saber; quem não quer saber, quer errar.»
18 Junho, 2018 às
Acha mesmo que estou a falar de modas???
Não estou, de maneira nenhuma a falar do pcp deixar de ter os seus principios e valores, mas podia ter-se abstido no projecto dos Verdes. e a discussão mais aprofundada fazer-se-ia na especialidade!!!
o PCP não é um partido de modas! É um Partido de vanguarda! é só isso que espero que continue a ser!!!
nem vou falar da venezuela…. não vou por aí!!
17 Junho, 2018 às
Não li o documento. Não fui atrás da comunicação social. Ouvi a intervenção do António Filipe… e da Heloisa Apolónia! O que o PCP propõe não tinha a ver com o assunto em apreço! desculpa qualquer coisinha…
foi confrangedor ouvir a deputada da CDU, nervosissima a apresentar a proposta do verdes; as expressões faciais dos deputados do pcp… a alinharem com os VOTOS do cds!!
Sou eleitora PCP e prefiro que o partido comunista alinhe com o be do que com o cds!!!
e quando vejo os meus inimigos elogiarem-me, desconfio!!!
17 Junho, 2018 às
Não leu o documento do PCP, mas esteve atenta às «expressões faciais dos deputados do pcp»…
Não leu o documento (por preguiça ou porque não quer), mas ouviu a intervenção do António Filipe e da Heloisa Apolónia na televisão e isso bastou.
É eleitora do PCP e prefere que o partido comunista alinhe com o BE do que com o CDS, mesmo se o BE disser mal da Venezuela, de Nicolás Maduro, por exemplo..
Ou seja, o PCP deixa de ter princípios e valores, para passar a ser um partido de modas.
Se a moda é estarmos todos a favor do projecto de lei que foi votado no parlamento, o PCP deve esquecer os seus princípios e votar com o BE.
Se é eleitora do PCP ou simpatizante, deveria ler o documento, porque o texto diz muito sobre o que esteve em causa e se aquilo que apareceu no projecto de lei, votado no parlamento, era ou não bom para a sociedade.
11 Junho, 2018 às
continuo a não perceber a posição do pcp. foi magnifica a intervenção do antónio filipe, mas parece-me fora do que se estava a debater. porque é que o pcp não votou a proposta dos verdes?? e a proposta descia à especialidade.
realmente não gostamos de quando o ps se junta ao psd em votações tão importantes e agora o pcp junta-se à mais reacionária direita com posições que não são próprias de um partido de vanguarda.
parem, sff, com as picardias com o be! será que não aprenderam com as eleições presidenciais quando apresentaram um candidato que ninguem conhecia!! ok os militantes conheciam…. e os eleitores??? depois vieram queixar-se da carinha laroca da marisa matias?!???
12 Junho, 2018 às
Leu o documento do PCP sobre o projecto de lei que se discutiu no parlamento? Ou simplesmente foi atrás de mais uma campanha da comunicação social contra o PCP (onde o BE apareceu e colaborou)?
5 Junho, 2018 às
No BE não há reflexão séria, colectiva e firme. O que existe, sim, é a indiferença, assobios para o lado e desvalorização.