Desde ontem que se diz que «este não é um orçamento eleitoralista» e ainda assim permitem-se as maiores mentiras sobre o dito.
Em primeiro lugar: o Orçamento é «do» Estado e não «de» Estado – senhores jornalistas e comentadores de serviço, esta é de borla.
Depois afirmam que o governo vai devolver os cortes. Mas devolver exactamente o quê? Ora: Eu tenho cem euros. Roubam-me vinte. Devolver seria restituir-me os vinte para que eu ficasse com os meus cem, certo?
Imaginando que retirariam aos meus cem, durante 5 meses seguidos, 20 euros cada mês. Para que me devolvessem o dinheiro ao fim desses 5 meses, eu teria que receber 100 euros no 6º mês e mais 100 (20×5) que seria a devolução do que me tinham tirado. Receberia 200, passando a receber os mesmos 100 daí para a frente (portanto, os meus cem iniciais, sem roubos). Parece simples. Mas não é.
Esta palavra, tal como o irrevogável, ganhou todo um significado diferente e imaginativo. De facto, este governo tem o dom de alterar o que querem dizer as palavras e, aparentemente, ninguém questiona essa alteração. De repente, aceita-se, até na lei, que devolução signifique isto:
Se tu tens cem euros e eu te tiro 20, ficas com oitenta. Mas eu vou devolver-te. Mas só 20% do que te tirei. O que significa que te vou devolver 4 euros. Ou seja, vais receber 84 euros. Durante mais um ano, em vez de receberes 120 vais receber 84 euros.
Devolução???
Pois, não.
Os trabalhadores da Administração Pública não só vão ver devolvido o que lhes foi retirado desde 2010 como continuarão a ter os salários com cortes brutais nos seus salários. E os cortes não são «apenas» os percentuais.
Num ano, a percentagem de contribuição para a ADSE aumentou 133%.
Aumentou a contribuição para a CGA.
Continuam a pagar a sobretaxa extraordinária de 3,5%.
As pensões estão congeladas desde 2010.
Apenas as pensões mínimas dos 1º e 2º escalões (até 274 euros) serão aumentadas… em 1%.
Continua o agravamento fiscal com a possibilidade do fim das deduções específicas (saúde, educação, etc).
As carreiras e progressões estão congeladas, levando a que nenhum trabalhador possa ver aumentado o seu salário nem a sua carreira valorizada.
Os aumentos salariais não existem desde 2010.
E, no entanto, todos os preços disparam.
Pensem lá outra vez: os trabalhadores da Administração Pública vão mesmo ter «aumento do poder de compra». Vai-lhes ser devolvida alguma coisa?
Não.
Se é um orçamento eleitoralista? Sim, medianamente. Sobretudo, é um orçamento que é ditado e apresentado por uns grandes mentirosos.