Não se ganha uma guerra contra a Rússia, da mesma forma que não se ganha uma guerra contra qualquer potência nuclear. Rússia ou China jamais se imiscuíram ou confrontaram os EUA nas guerras que as sucessivas administrações e presidentes decidiram desencadear, pelos motivos que entenderam, no Médio Oriente, nos Balcãs, na Ásia ou na América Latina. Mas os EUA e seus subordinados entenderam imiscuir-se belicamente na guerra que a Rússia decidiu fazer na Ucrânia. Na sequência de um velho conflito no Donbass e, mais recentemente, da recusa de uma proposta formal russa, de 2021, na qual Putin propunha um compromisso de não-expansão da NATO para leste, a resposta dos EUA foi então a de esticar a corda e avançar, sem medida, para um conflito tão adivinhável e destruidor quanto útil para a indústria de armamento norte-americana. Antes da calçar pantufas, Joe Biden fez questão de garantir mais um encaixe financeiro milionário. O acto arriscado da disponibilização e autorização de uso de mísseis americanos de longo alcance por parte de Zelensky, não se trata, como alguns pretendem e afirmam, de um acesso de loucura ou manifestação de insanidade de um «velho caquético». É o negócio a funcionar. Como tudo o que envolve a «política externa» dos EUA desde há décadas.
Partindo do pressuposto de que não se ganha uma guerra contra Putin, não pode haver outra escolha nem outro caminho: o remédio é negociar a paz. Ou seja, doa a quem doer, a solução passa por fazer exactamente aquilo que até aqui se considerava «putinismo». O que as potências ocidentais têm a fazer para evitar um conflito global de dimensões catastróficas, é dizer a Zelensky que o Donbass está perdido e que o lugar dele próprio é na comédia, de onde nunca devia ter saído. A Ucrânia não irá integrar a NATO – porque a Rússia nunca o permitirá – e a UE acabará por perceber que, a factura a pagar pela reconstrução do território de Kiev, será demasiado elevada para o chão de areia em que assentam os governos dos estados-membros. O esforço financeiro será incomportável e o preço político de um novo apertar do cinto aos cidadãos – que são quem paga, verdadeiramente, todas as crises – fará com que rolem cabeças e as lideranças internas fiquem perigosamente ameaçadas.
Então e a Ucrânia? O primeiro passo terá de ser a urgente redemocratização do país. Nesta altura, todo o regime político e social do país está suspenso e sequestrado. Não há liberdades garantidas, há presos políticos, opositores exilados e partidos proibidos. Estabelecida a paz, será necessário reencontrar rapidamente um caminho para se garantir a liberdade e a democracia. Com o tempo necessário, o povo e os líderes que vierem a ser eleitos, terão o desafio de encontrar soluções próprias, aprendendo a lição de que o devem fazer sem estarem na alçada ou no bolso de nenhuma ingerência externa de nenhuma das duas potências capitalistas e nucleares que provocaram e manobraram este conflito: a Rússia e os EUA.