No horizonte de 2017 só a luta

Nacional

Fim de ano e aparecem os costumeiros balanços nos quais aparece alguém nas televisões e jornais a decidir por nós o que foi “bom” e o que foi “mau” nestes 366 dias. À excepção das tragédias e mortes, que por norma reúnem unanimidade, sempre aparecem os “mais” e os “menos” do ano, os “factos assinaláveis” e as “figuras marcantes”, exercícios subjectivos mas sempre orientados no sentido de transmitir determinada mensagem, de valorizar esta ou aquela ideia, esta ou aquela personalidade. É o produto desse “balanço”, tal como o que entra em todas as casas durante todo o ano, que conta e que marca. Chegará o dia de uma maior equidade e de uma maior justiça. Chegarão tempos de maior liberdade de consciência individual e colectiva. Chegarão tempos de menor formatação e maior dialética. Contudo, é praticamente certo que esses tempos não serão os de 2017.

Recuperar a dignidade perdida não é uma questão de negociações; é uma exigência

O ano que se avizinha não promete maior justiça social. 2017 não servirá de muito para corrigir as gritantes desigualdades ou reverter em prosperidade o verificável empobrecimento. O fosso entre ricos e pobres não será resolvido, antes agravado. As medidas que visam estancar a sangria desgraçada de ataque aos trabalhadores e ao povo que vinha sendo imposta pela direita mais reaccionária do pós-25 de Abril, foram e serão de relevo para desacelerar a agressão, mas insuficientes para inverter o rumo de muitos anos de espezinhamento salarial e fiscal das classes trabalhadoras e dos pequenos e médios empresários.

Não é novidade para ninguém, excepto para quem não perceba verdadeiramente o “papel” da concertação social na estratégia de domínio do capital, que os patrões se preparam para impor a este governo – como aos anteriores – a sua vontade e os seus interesses. Como sempre, a dita concertação social servirá teatralmente para legitimar, mesmo que com oposição da CGTP, a decisão de não aumento dos salários para um montante que corrija os anos de estagnação e cortes face ao imparável aumento do custo de vida. Fazer frente a esta investida será o primeiro grande desafio da luta consistente e organizada. Recuperar a dignidade perdida não é uma questão de negociações, cedências ou contrapartidas; é uma exigência que, face à gravidade do esbulho, já nem sequer se pode questionar.

Contaremos também nos próximos tempos – tal como já vai acontecendo aqui e ali – com manobras de diversão, telenovelas e espectáculos mediáticos, sobre candidatos autárquicos, coligações, arrufos e casamentos. Não pode haver margem para desconcentrações e alheamentos. Nem esses assuntos poderão abafar as lutas que importam a quem vive do seu trabalho, nem a questão das autárquicas se resume às tricas de certas individualidades, certos partidos e certos interesses. É não só necessário concentrar esforços nas dinâmicas de intensificação da luta laboral, sindical, social e legislativa, como também encarar a luta eleitoral do próximo ano como parte indissociável de toda essa luta, de toda essa busca de justiça, por um futuro melhor, por anos efectivamente mais prósperos e felizes.

Umas boas festas e um bom ano de luta!