O estranho caso do jornalismo-comentador

Nacional

Tem grassado crescentemente uma certa “estirpe” nas nossas televisões, rádios e jornais, um subtipo específico de comentadores que deve merecer toda a nossa atenção. Não falamos de óbvios militantes assumidos deste ou daquele partido, nem sequer daqueles que sempre foram comentadores, ainda que nada o pudesse ou devesse em algum momento justificar. Referimo-nos a uma moda relativamente recente, talvez mais perigosa, sub-reptícia, mas cada vez mais incisiva e presente. Referimo-nos a jornalistas, pivots, repórteres, “polígrafistas”, que, de vez em quando, saltam de uma cadeira do estúdio para outra cadeira do mesmo estúdio, mas agora para assumir o papel de “comentador”. Regra geral, é quando acontece esse momento televisivo «mágico», mas pleno de embaraço e constrangimento público, em que o entrevistador trata o entrevistado e seu colega por “tu”, estendendo a passadeira da relevância a quem dele em nada se distingue.

Os jornalistas-comentadores são, assim, uma espécie de “explicador” da realidade mas com o pretenso cunho de serem “ainda mais isentos”. Quem os vê e ouve, sabendo que “alto lá, que este é jornalista”, interpreta todo o arrazoado como algo bem mais sério do que aquele que é dito por um político militante assumido ou comentador “de profissão”. Se aquele “é jornalista” é porque tudo aquilo que está ali a dizer é pura “informação”, é “notícia”, é “explicação”, é clarividência, é verdade pura e cristalina.

Eis, pois, aquilo que não é senão uma recente arma de poluição mediática. Uma forma de moldar a opinião pública, uma estratégia mais de manobra política e ideológica de quem controla os meios e, por via destes, os desejados fins. É uma malabarice que aparentemente finta qualquer código deontológico, que tem escapado a qualquer pretensa comissão de ética ou de salvaguarda dos deveres profissionais.

Identificar é a primeira forma de resistir. Cabe, por isso, cada vez mais, a atenção, a crítica, a denúncia e o repúdio. Aqueles que, pela frente, invocam e atiram a outros comportamentos ditatoriais, antidemocráticos, extremistas, persecutórios, de controlo e de repressão, são precisamente aqueles que de facto controlam, que dominam sem contraditório, que quebram regras democráticas, que sob a capa de isenção propagam mensagens políticas e ideológicas. São aqueles que atacam reiteradamente este ou aquele partido, que usam e abusam da sua exposição pública para garantir o domínio e prevalência dos seus interesses, ou dos interesses corporativistas que representam.

Foto: César Lomba / MoveNotícias

28 Comments

  • Luis

    2 Dezembro, 2020 às

    Julgam-se, isso sim, mais espertos do que os outros ( leia-se, do que os restantes cidadãos portugueses). Chicoespertismo!
    São uma espécie de juízes em causa própria, sem qualquer contraditório…

  • Artolas da Silva

    2 Dezembro, 2020 às

    Tudo gente manhosa, mas em linha com o patrão Francisco que continua a enrriquecer com o que é meu e nem sequer vejo esse canal. O problema é que eu também lhes pago parte do salário, porque sou obrigado, mas não posso correr com eles. Como é que isto é possível: pagas e não mandas em nada. Isto é próprio de uma ditadura.

  • Jorge Manuel Barreira

    1 Dezembro, 2020 às

    Se repararem os “grandes comentadores Jornalistas” estão todos associados à SIC Coisa curioa.

  • Dinis Ribas

    30 Novembro, 2020 às

    Povos serenos, aceitemos todo o sistema, mas por favor, pensemos como uma criança vadia e livre ,
    pela nossa cabeça!

  • antonio costa

    30 Novembro, 2020 às

    TUDO MUITO BOA GENTE11111 O DIABO QUE OS CARREGUE

  • António Serzedelo ansef

    30 Novembro, 2020 às

    É uma táctica da direita à moda do Trump ou Bolsonaro. São promotores de ideiasfake e são pagos para isso

  • Filipe

    30 Novembro, 2020 às

    Só tenho pena que não tenham percebido antes.
    Já tem, talvez, mais de uma década.

    Até os programas que atendem os ouvintes por telefone, fazem-no sem rigor para não dizer com uma segunda intenção

  • Antonio malenha

    29 Novembro, 2020 às

    Esses comentadores não sei se tem alguma cartilha, mas quando comentam fico com a sensação de que nos estão a passar um atestado de estupidez, com as suas opiniões, ou é maldade ou narcisismo.

  • Artur Duarte

    29 Novembro, 2020 às

    Hoje não existem jornalistas honestos, verdadeiros e dignos da profissão, mas sim um rebanho de carneiros e ovelhas que invadiram os meios de comunicação sociais e cospem mentiras, críticas sem fundamento e conspiram diariamente contra o governo e contra a democracia.

  • Maria da Conceição Machado

    29 Novembro, 2020 às

    A minha televisão deixou de sintonizar a SIC e a de TVI. A RTP é sintonizada só às vezes. Não consigo ouvir estes e outros iguais a eles. Sobretudo porque quero preservar a minha saúde mental. E não gosto de ser tratada como mentecapta.

  • Manuela Raínho

    29 Novembro, 2020 às

    Tem piada; sempre que ouvia alguns dos «fotografados» pensava com os meus botões: Mas que raio estão a fazer estes totós?! Mas depois, na minha humildade de dona de casa septuagenária, ralhava comigo mesma, »francamente, Maria Manuela, por que razão és tão rigorosa? Se calha os rapazes até são capazes de estar certos e tu é que és demasiado exigente. No entanto, numa outra intervenção assaltava-me novamente essa impressão de me sentir enganada e manipulada. Logo o que fazia? um zapping para o 24Kitchen.
    Há já algum tempo que ao aparecerem estes senhores no ecrã da televisão, vou assistir aos programas de cozinha. Todavia, sempre atenta e vigilante, não vá algum cozinheiro arvorar-se em comentador.

  • Carlos Coutinho

    29 Novembro, 2020 às

    Muito bem comentado . Nos temos filtros integrados so que as vezes nao os sabemos utilizar e certa gente aproveita-se disso , outros gostam mesmo e de se por em bicos dos Pes , senao nao passavam de pequenos porta-chaves.

  • Horácio Pires Santos

    29 Novembro, 2020 às

    O líder do bando é o tal pretenso economista JGF. Os restantes são uns lacaios e lambe botas.

  • Paulo Dolores

    29 Novembro, 2020 às

    Excelente e clarividente artigo. Parabéns para o autor.
    Se quisermos ter uma aula prática sobre o conteúdo deste artigo basta ver um programa chamado “Manchetes 3”, da RTP, claro… Os jornalistas /comentadores/professores universitários/etc., são todos vesgos, atiram sempre para o mesmo lado, defendem sempre o outro e explicam e justificam sempre tudo muito bem. Mas sempre para o mesmo lado…
    Os diversos jornalistas/comentadores que por aí vão governando a vidinha, a pessoal e a dos grandes escritórios de advocacia da capital a que alguns pertencem, estão a precisar de uma vassourada. Estão velhos, chatos e repetitivos…

  • António Brandão

    29 Novembro, 2020 às

    Essa dos jornalistas travestidos de comentadores ou vice-versa parece ser pecha exclusiva da comunicação social portuguesa. Então nisso a SIC leva a palma. Um bando de manipuladores, toscos e servis. Jornalistas dignos desse nome são raros!

  • manuel amorim

    29 Novembro, 2020 às

    ESCROQUES DA COMUNICAÇÃO SOCIAL.

  • Fernanda

    28 Novembro, 2020 às

    Há profissionais e profissionais e este grupinho não é e nunca o será de certeza.

  • Arlindo Oliveira

    28 Novembro, 2020 às

    Qual deles o melhor mercenário?? Ouço-os, mas não embarco na lengalenga deles. Não convencem e o meio irmão do AC por vezes é repelente, mas com postura de grande jornalista. Até foi aos EUA em dia de eleições e apesar de tudo alvitrar incluindo uma previsível guerra civil, para seu desencanto tal como eu previa nada disso aconteceu. Por vezes os jornalistas ou ditos jornalistas fazem o mundo à sua imagem e semelhança que nada tem com a realidade vivida e nessa foto podemos vê-los claramente e isso é bom, para os podermos conhecer e assim distiguir o trigo do joio, se bem que na prática diária, não é fácil não deixar de comer algum joio para podermos saborear algum trigo!!

  • João Manuel Carvalho

    28 Novembro, 2020 às

    Muito bem.Vejo poucos comentários ,mas fazendo zaping para avaliar a miséria das nossas tv´s

  • Pedro Cid - ex director de informação da Antena 1

    28 Novembro, 2020 às

    Acho muito excessivo o comentário e eivado de preconceitos pouco jornalísticos. A generalização também é perigosa e o autor parece agir como virgem ofendida que vai à politic(i)a acusar de violação alguém inocente…. Lamento

  • Valdemar Fernandes Chaves

    28 Novembro, 2020 às

    Na mouche

  • JORGE ROLANDO

    28 Novembro, 2020 às

    Inteiramente de acordo quer com o autor, quer com o primeiro comentário (do António Levezinho). Mas manifesto-me pessimista com a qualidade cada vez mais fútil dos jornalistas-comentadores. A começar pela SIC, que apesar de tudo ainda é um canal de referência em termos informativos. Mas tem um editor de economia que não é economista, (num dos seus anúncios-piblicidade, ao passar pelo Ministério das Finanças, julgo eu, se atreve a dizer: “E o que estarão os políticos a fazer com as nossas pensões”, ou “Quando tomam decisões, a nossa carteira nunca fica igual” – e outras “pérolas” quejandas.), um tal Pedro Cruz, sub-director de informação, balofo comentador do óbvio, mas de firmes convicções anti-governo. Enfim, gente muito longe de saber o básico de deontologia profissional. E só falo da SIC, porque das outras já nem vale a pena…

  • Maria Helena Dias

    28 Novembro, 2020 às

    Não saberia dizer melhor. Que bom saber que há quem pense como eu e o diga, direitinho, com todas as letras.. há uma força, cada vez mais visível, dos ditos comentadores que só tem um objectivo, deitar abaixo um governo de esquerda, com o qual não sabem conviver. Destoiem pessoas, mentem, deturpam verdades e factos, manipulam a opinião pública e põem em causa a nossa frágil democracia. Lutam por uma ditadura disfarçada dedemocracia, e estao-se marimbando para as pessoas . Se não fosse este governo, apesar de muita asneira que faz, estaríamos não sei bem como, mas adivinho, porque não esqueço o que que se passou com PC. Só que agora temos , todos juntos, uma extrema direita agressiva e que não olha a meios para chegar ao poder…aí instalados a direita moderada vai saber o sabor do veneno!

  • Feliciana Amaro Dias

    28 Novembro, 2020 às

    Excelente análise! Em palavras o que muitas vezes, demasiadas até, penso. A isenção e o contraditório que são subjacentes e obrigatórias ao exercício da profissão estão completamente arredadas neste tipo de jornalistas. E já não são evidentes só
    nos chamados jornalistas comentadores. Já se começa a verificar também nas entrevistas feitas por meros pivots.

  • Manuel Gago

    28 Novembro, 2020 às

    Na verdade existe gentalha debaixo da capa de jornalista que passam a comentadores faciosos sempre que tem oportunidade. Por tal motivo cada vez mais deixei de acreditar ler ou ver a opinião desses Senhores. Mudo para a Fox e acabou. Gosto do Expresso gosto da visão embora sinta ultimamente alguma desvio de plano inclinado. A verdadeira independência
    de um jornalista é um facto muito bonito.

  • Gjrodrigues

    28 Novembro, 2020 às

    Bem, alguém tem que falar…
    Antes éramos impedidos de falar, agora a sociedade fala e ninguém dá importância… será melhor encolher os ombros??? Parece-me que nao!!!

  • Fernando Vale

    28 Novembro, 2020 às

    E o autor deste texto é o quê, também jornalista? Eu não sou jornalista, mas sim leitor de jornais e telespetador de canais noticiosos. Que eu saiba, os jornalistas têm um código deontológico e uma entidade que regula o exercício da profissão. Pessoalmente, gosto de ouvir opiniões diversas e fazer a minha interpretação dos factos, seja em relação à opinião escrita como falada. Custa-me, no entanto, bem mais, entender que o comentário político seja feito por “ex-políticos” se é que o termo exista!

  • Antonio Levezinho

    27 Novembro, 2020 às

    Tudo boa gente!
    Com exceção, claro, de alguns bons jornalistas que ainda há, felizmente.
    Hoje em dia o número de cartilheiros da política supera já o daqueles que ainda frequentam os fóruns do futebol.

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