PSD, o partido de sonsos

Nacional

Fico sempre surpreendido com aqueles que acham que o PSD está a passar “por uma crise”. É preciso uma boa dose de ingenuidade, ou estar-se muito desatento, para se supôr que Pedro Passos Coelho está isolado numa qualquer demanda individual perdida e a lutar para “sobreviver politicamente”. Passos na liderança tem os dias contados desde que o PSD foi derrotado pelas suas próprias políticas, e ele, os militantes e os dirigentes do partido sabem-no melhor do que ninguém. A razão pela qual ainda não se demitiu, ou pela qual se arrasta penosamente contra os ventos e as marés negativas – o tal diabo que nunca chegou… – é algo que está muito para lá do calculismo e do imediatismo interno. Passos Coelho está, muito sonsamente, a cumprir um papel. Tal como Rui Rio.

É evidente que a “cama” de Rui Rio está a ser preparada. É evidente que Passos Coelho precisa daquele silêncio purificador de que beneficiaram os regressados Cavaco ou Guterres. O tempo de um e de outro precisa é de ser concertado, coordenado e conjugado, porque valores mais altos se levantam e a “clientela” – o capital – continua a precisar do PSD. Passos tem de aguentar o barco porque vem borrasca nas autárquicas; Rui Rio tem de esperar a noite de nevoeiro para aparecer de forma sebastiânica.

Ninguém no PSD estranha ou desconhece o esquema que está em curso. Não se ouvem, nem se ouvirão, críticas internas significativas a Passos Coelho, nem mesmo sobre esta sua recorrente pontaria de se enterrar todas as vezes que decide abrir a boca sobre o que quer que seja. A missão interna é muito clara: “ele tem de lá estar” e aguentar o embate inevitável das autárquicas. Tem de aguentar ainda o não menos violento embate do não-colapso do actual governo. E só quando o terreno estiver menos pantanoso, quando se achar chegada a ocasião política para novo “assalto” – e no caso do PSD é quase sempre literal – ao poder, lá virá Rui Rio e a sua carteira recheada de interesses fazer a “mudança” de que “todos precisavam muito”.

Este filme não é novo. Vimo-lo já no PSD, como vimo-lo já também no PS. Patrocinados e a reboque de certa imprensa, uns e outros mergulham oportunisticamente nestas tácticas sonsas e ludibriantes (para muitos). Um dia, tudo desembocará daquele que é, no fundo, o seu objectivo final. Com rostos aparentemente desavindos, aparentemente adversários, protagonistas de falsas lutas internas, todos acabarão por convergir naquilo que lhes é essencial: servir interesses, distribuir favores, cumprir promessas a banqueiros e a grandes empresários. Porque para estes, nunca o país esteve “tão bem” como quando para os trabalhadores esteve “tão mal”. E é preciso garantir que nada mude e tudo se “reforme”. Conforme.