Red Light District: as montras da satisfação dos homens

Nacional

São cerca das 22 horas. Todo o dia, desde que saí à rua, todos os caminhos iam dar a um sítio: Red Light District. Por mais que procurasse este ou aquele museu, esta ou aquela rua, as indicações sublevavam o ex libris da cidade, o tal de Red Light. Nas montras das lojas de recordações, objectos fálicos, todo o tipo de brinquedos sexuais i <3 Amsterdam e as afamadas montras. Montras de mulheres.

São cerca das 22 horas. Começo a descer a rua e logo se vêem as luzes vermelhas para as mulheres e as roxas para as transexuais. É difícil ver para além das luzes: são hordas de homens. Deslocam-se em grupo, enchem as ruas, não é fácil andar por ali. De todas as nacionalidades, só um motivo os leva ali: comprar mulheres.

São cerca das 22 horas. São visíveis as luzes vermelhas e por todo o lado sinais de proibido fotografar. E a minha cabeça começa a ficar cheia de dúvidas. Se é normal porque não querem ser fotografadas? Se é o que gostam, porque não querem registos? Entro? Pergunto? Paro?

São cerca das 22 horas e eu decido que vou avançar. Segurei o estômago entre as mãos todo o tempo porque me senti a invadir a intimidade de cada uma daquelas mulheres. Percorri ruelas, becos, edifícios escondidos. Vi cubículos com macas, toalhas, todos com ar de casa de banho. Percebi bem as medidas de segurança: inexistência de almofadas para impedir que alguém as sufocasse, camas altas para que ninguém esconda nada debaixo da cama com que as possa agredir. Em nenhuma vi botão de emergência.

Nas luzes roxas ouvi que nojo, isto não é uma mulher. Quanto queres para ir lá?

As mulheres, nenhuma delas chamava clientes, limitavam-se a estar ali. Na montra. Abriam a porta para negociar o preço (e mais um mito que cai, a ideia de que há tabelas, mais uma das grandes mentiras do embelezamento da prostituição). As mais novas abrem a porta e negoceiam não com um mas com dois ou três ao mesmo tempo. Dizem dez, eles dizem 20. No início da rua, um segurança não para as defender mas para controlar a quantidade de homens para que não se esmagassem nas ruas estreitas.

No meio daquelas centenas de homens não deixei de notar ser das poucas mulheres ali. Olhei para elas e reparei que nenhuma era holandesa. Mais acima, o bairro latino. A América Latina com mulheres mais velhas, numa rua só delas. Praticamente sem ninguém.

Tentei fotografar e ouvi um estrondo num vidro, de uma das mulheres que fechou de imediato a cortina e gritou comigo coisas que não consegui ouvir. Prossegui o caminho ainda de estômago e coração de fora.

As mulheres em montras. Os homens em excursões a avaliá-las e a comprá-las. E toda uma cidade em torno destas ruas estreitas onde vivem fantasmas, com medo de serem captadas por máquinas, com precauções de segurança para não serem mortas enquanto a economia floresce à sua custa.

Todas as setas vão dar ao Red Light District. E até hoje não sei se deveria ter estado num local onde mulheres são exibidas para escolha das hordas masculinas para satisfação única dos seus desejos.

E é isto que alguns querem em Portugal, começando pelo Bloco de Esquerda e Umar. Ali vi predadores, desumanidade, despersonalização, negócio e vidas em perigo.

E podem chamar-me moralista mas eu não quero estar numa montra sujeita à melhor oferta.

Nem quero isso para ninguém. Não quero ver Lisboa transformada numa grande cidade de exploração sexual.

E não quero ver uma única pessoa a ser vendida como mercadoria.

6 Comments

  • Nunes

    8 Dezembro, 2018 às

    Este comentário foi removido pelo autor.

  • Jose

    8 Dezembro, 2018 às

    Estás a ficar insuportável, Lúcia!

    Dizem-me que as putas aspiram ao estatuto de terapeutas o que me parece uma justa pretensão. O mulherio está a ficar tão insuportável e tão igual aos machos (autoritárias, violentas, dizem palavrões, reclamam orgasmos,…) que a função – que nos anos sessenta da longa noite do fascismo estava quase extinta – tem um recrudescimento excepcional como se pode ver pelos jornais que espantosamente não são acusados de promover a prostituição.

    Este último facto demonstra o reconhecimento pelo Estado da função social dessa assistência terapêutica!

    • Nunes

      8 Dezembro, 2018 às

      Jose, deves ter um enorme problema (e grave) nessa cabeça por resolver. Só um tarado faz aquilo que tu fazes nos comentários deste blog. Último conselho: Vai-te tratar e deixa os outros em paz.

    • Jose

      10 Dezembro, 2018 às

      Estás tão azedo, Nunes. Não há terapeuta que te valha!

    • Nunes

      12 Dezembro, 2018 às

      Pareces mais concentrado em escrever textos imbecis no teu computador, Jose. Daí se conclui que a tua vida não é grande coisa.

  • Nunes

    5 Dezembro, 2018 às

    A grande contradição do Bloco de Esquerda, é defenderem políticas que levam ao apodrecimento da sociedade.

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