Um fascista, combate-se

Nacional

Evidentemente há sentimentos dúbios em muita gente sobre o debate de ontem. Particularmente para quem procurava ouvir. E seguramente ninguém gosta de gritos.

Mas antes de ir propriamente ao debate, duas notas prévias sobre a organização e direcção do mesmo:

a) uma moderadora, Carla Moita, que não só se absteve do papel de moderar como passou grande parte do tempo a dirigir o debate com questões que nada têm a ver com programas ou poderes presidenciais mas com o programa específico de um dos presentes;

b) a análise ao debate, perfeitamente esclarecedora de Pedro Delgado Alves, também ele sistematicamente interrompido pela jornalista, enquanto um dos outros comentadores tem afinidades mais do que conhecidas a um dos presentes no debate e, também ele, com mais tempo de antena.

O que aconteceu ontem foi esclarecedor. De um lado, a alt-right plenamente assumida, com técnicas de debate conhecidas (gritar, interromper, lançar lugares comuns, mentiras, negar tudo), uma campanha financiada por empresas ligadas ao armamento, apoiada por pessoas ligadas a redes bombistas do MDLP responsáveis por ataques e mortes no pós 25 de Abril, por grupos económicos ligados a interesses imobiliários, por grupos racistas, xenófobos incluindo grupos paramilitares com treino junto de tropas fascistas ucranianas (tudo devidamente enquadrado em reportagens da Sábado e do Público para quem quiser pesquisar).

«Eu não gosto desta Constituição», afirmou, despudoradamente.

Do outro lado, João Ferreira. Falou apenas e só quando lhe foi dada a palavra, tentando recentrar o debate e expondo:
– as contradições de alguém que exige demissões a torto e a direito a quem “mente” e se comprometeu com exclusividade e recebe três salários (um deles de uma consultora imobiliária e outro de um grupo empresarial da comunicação social);
– o comprometimento antigo com interesses do grande capital;
– o desrespeito pelo mandato de deputado, faltando a um grande número de sessões e votando de três formas diferentes, em 48 horas, a mesma lei;
– o desconhecimento atroz sobre a maioria dos assuntos nacionais;
– um programa que visa o desmantelamento do Serviço Nacional de Saúde, da segurança social, das leis laborais, o rasgar da Constituição, a adopção de princípios xenófobos e racistas como base de construção da sociedade, a aliança com políticas europeias de extrema direita como é o caso de Le Pen, o desrespeito pela soberania e autodeterminação dos povos.

João Ferreira afirmou:
– o respeito pela Constituição da República Portuguesa;
– pelas decisões tomadas pelo parlamento cuja composição resulta da expressão do voto em eleições pela população;
– o exercício de todos os poderes constitucionalmente permitidos.

Afirmou ainda que jamais o veriam de braço dado com Le Pen ou a desejar a morte a comunidades migrantes.

Não vergou perante o fascista, combateu-o e homenageou os mais de 170 resistentes e ex-presos políticos  antifascistas que o apoiaram esta semana e que durante anos combateram bestas, como a que estava diante de si, e piores, e lhes sobreviveram, porque é nos ombros desses gigantes que andamos.

E ontem, João Ferreira agigantou-se, e, com ele, todos os que lutam para transformar o mundo.

E no fim, não se estende a mão a quem se combate. Todos os dias. E, no Manifesto74, estamos com o João Ferreira.

*Fotografia de António Cotrim/Lusa

15 Comments

  • flavio jose pereira

    4 Janeiro, 2021 às

    Não é fácil a um homem honrado, enfrentar um fascista e mentiroso compulsivo,.Honra seja feita a João Ferreira, que defendeu de forma exemplar os valores em que acredita e, deu sem margem para qualquer dúvida, uma lição de hombriadade e de saber ao galo cantadeiro e á própria moderadora.

  • Antonio Vieira

    4 Janeiro, 2021 às

    João Ferreira mostrou uma postura séria e honesta no de bate de ideias sobre o que deve ser um Presidenta da Republica. A “moderadora” Carla Moita não tem nível para o cargo que desempenhou, não sei que curso ela tirou, ( se é que tem algum curso?…) mas de jornalista não foi de certeza

  • miguel antonio gonçalves teixeira

    4 Janeiro, 2021 às

    Podem fazer dezenas de debates, mas com a presença do André Ventura a paciència esgota-se. Ele ganha em numero de palavras. O moderador deverá ter o poder de desligar o micro quando o outro interveniente estiver a falar

  • ARMINDO BRÁS FERREIRA NETO

    4 Janeiro, 2021 às

    …NUNCA LUTAR COM UM PORCO.PORQUE ELE GOSTA…

  • Vitor Alves Silva

    4 Janeiro, 2021 às

    Fascismo nunca mais.

  • João Borrega

    4 Janeiro, 2021 às

    João Ferreira, para mim, é o candidato que mais evidencia os valores defender como presidente da República.

  • FRANCISCO JOSÉ MOREIRA BARÃO

    3 Janeiro, 2021 às

    Eu tenho dúvidas que o combate que temos de travar contra o fascismo, passe por gritaria, quando todos sabíamos a peixarada que se esperava. Os candidatos e a política têm níveis de moralidade diferentes, não nos podemos pôr ao nível dos tartufos. “Quem já sofreu a desgraça, odeia a quem desgraçou”

    • Jorge Nunes

      4 Janeiro, 2021 às

      Sem dúvida. No entanto, a serenidade de um venceu a brutalidade e a estupidez do outro.

  • Maria Isabel Vasconcelos

    3 Janeiro, 2021 às

    O debate é um acto democrático, coisa que ventura não sabe o que é. Provocador profissional, hábito que lhe ficou de quando fazia peixeiradas no vergonhoso canal CM. Quanto a João Ferreira, homem bem preparado, mas com nervos de aço para não ir às fuças ao fascista. Lamentável o papel da moderadora, que demonstrou uma enorme incompetência, mas uma grande tendência para defender ventura, demonstrando bem como se comportam os mercenários

    • Henrique Mota

      5 Janeiro, 2021 às

      AS FORÇAS DE <DIREITA ESTÃO TENTANDO INSTALAR-SE NAS ESTRUTURAS LEGISLATIVAS DE PORTUGAL, ou será que atempadamente não conseguimos travar esta escalada? A balbúrdia com gritos pelo meio, só interessam aos que não desejam ouvir a verdade. O fascista André Ventura, devia à partida ser no mínimo afastado como candidato e como deputado, pois a sua actividade política é contrária ao que sobre o assunto, expressa a nossa Constituição política. A maioria dos partidos faz-se de distraida sobre a situação. O PSD anda agora preocupado com a ministra da Justiça. Os fascistas não o incomodam.FASCISMO NUNCA MAIS!

  • Manuela Silva

    3 Janeiro, 2021 às

    Não se vira as costas ao inimigo. Estou muito “orgulhosa” do meu candidato.

  • Jorge Nunes

    3 Janeiro, 2021 às

    Parabéns, Lúcia Gomes, pelo teu texto e análise ao debate.

  • Rosa batista

    3 Janeiro, 2021 às

    Muito bem o diálogo com tamanha besta não é possivel e a moderadora foi um autêntico fantoche

  • Ramiro Gonçalves Venâncio

    3 Janeiro, 2021 às

    Vi atentamente o “debate”, em frente ao televisor não sabia como “descarregar” a minha indignação ao ver o conluio que havia entre a “moderadora” e o candidato populista e nas análises um “comentador” farinha do mesmo saco. Imaginava e previa que o João Ferreira tinha de ter aquela FORÇA que lhe conhecemos e assim foi, PARABÉNS João Ferreira és um digno VENCEDOR.
    Sobre esta crónica, Um fascista combate-se, de Lúcia Gomes, resta-me felicitar a autora que, em minha opinião, espelha o que efectivamente se passou naquele espaço a que muitos teimam em chamar debate.
    Saudações.

  • Luís Matos

    3 Janeiro, 2021 às

    Muito bem João. FASCISMO NUNCA MAIS!

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