Uma UE a brincar com a saúde dos cidadãos

Internacional

Toda a estratégia de aquisição centralizada das vacinas foi, como já todos percebemos, um autêntico desastre. Em face das críticas públicas de alguns chefes de estado, a própria comissão não teve como não assumir publicamente algumas das falhas. A extrema lentidão da Agência Europeia do Medicamento no que toca à aprovação/autorização de vacinas, facto que alguns tomaram de forma falaciosa por «precaução» e «exigência» da autoridade, parece ter sido afinal uma mistura de burocratismo com «contemporização política». No meio disto tudo, como sempre, houve os que saíram a perder e os que saíram a ganhar. Entre a população e as farmacêuticas, entre fomentar um serviço e alimentar o sistema, a estratégia da UE assentou no lado em que sempre esteve e que corresponde à sua natureza federalista e capitalista. Estranho seria que a UE montasse uma estratégia desinteressada de franco serviço público, e isso, como se vê, nem debaixo da realidade trágica de uma pandemia.

Já se percebeu pelas declarações da OMS, da própria Agência Europeia do Medicamento, de vários especialistas, cientistas e médicos, que não há qualquer diferença, ao nível de segurança e de custo-benefício para a saúde, entre as vacinas da Pfizer ou da Moderna e a da AstraZeneca. Contudo, uma semana após esta última ter comunicado um atraso significativo nas suas entregas, a UE decidiu «responder» de forma concertada. Aproveitando um conjunto de casos inexpressivos e sem relação causal ou evidência científica, os responsáveis europeus inventaram um artifício mediático para pressionar a farmacêutica em questão. Os mandantes contaram, como não podia deixar de ser, com a colaboração dos países subservientes, como Portugal. Esse circo conjugado veio causar impacto na credibilidade da empresa e até serve para disfarçar, de certa forma, a culpa própria da UE em todo este processo: a falta de diversificação na aquisição de vacinas, a dependência excessiva de um restrito leque de entidades escolhidas a dedo por interesses obviamente instalados.

A estratégia tem agora como consequência um atraso na vacinação e uma maior exposição ao risco de doença e de morte. Já para não falar na ajuda que isto vem dar à narrativa dos alucinados anti-vacinação. Por puro e frio acto de gestão política, a UE decide brincar criminosamente com a saúde da população. No meio de uma pandemia, atados pela sua própria incompetência, os (ir)responsáveis europeus apostam no ruído e no tacticismo. No sistema que norteia a União este «jogo» é necessário, faz parte. Mas fosse teoricamente o sistema fiel a si próprio nalguma coisinha, e toda a Comissão estaria já era no olho da rua, despedida por justa causa, ou melhor ainda, por extinção do posto de trabalho.

2 Comments

  • ANTONIO CASIMIRO BAIXINHO BACELOS

    17 Março, 2021 às

    Apoiado!

    • John H.

      21 Março, 2021 às

      As farmacêuticas têm o seu mundo. Como o mundo das Armas, do Petróleo, da Banca, até da comida (carne, peixe, fruta, legumes, água, leite, etc.) e todos acabam a Concertar Estratégias para o Monopólio Absoluto.
      Agora tocou às Poderosas Máfias Farmacêuticas.
      Morre gente por isso?
      Ainda sobram muitos vivos para seguir o negócio!

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