5 razões para ir a Cuba em 2025

Internacional

Ninguém devia morrer sem ter visitado Cuba. A maior ilha das Antilhas não é apenas o melhor destino de férias do mundo, é todo um outro mundo, mais humano que o nosso e, contra todas as probabilidades, possível. Toda a gente sabe que a paisagem cubana é o paraíso, mas Cuba não é só paisagem – é um povo como mais nenhum outro no mundo: culto, generoso, pacífico, talentoso; é uma nação que, apesar de agredida e bloqueada, se dedicou à saúde, à educação, às artes e à paz. Estas são as cinco principais razões para visitar Cuba em 2025.

1 – É o país do mundo com mais beleza por menos km2

Cuba é linda, já dizia a canção, e acto-contínuo saltam imagens de praias de areia branca remansadas no marulho de mares azul-turquesa. Mas Cuba tem muito mais do que, segundo inesgotáveis distinções anuais, as melhores praias do planeta.

Cuba é o paraíso dos fotógrafos, uma fotografia perfeita que aprendeu a esperar pelo disparo de neve, como diria o Sílvio. Esperam os mogotes de Viñales, contra o rumo da história geológica da terra como catedrais de calcário e manga. Esperam as cidades de Cuba, Bayamo, Santiago, Trinidad, Camaguey, Santa Clara, Havana, coloniais e quinhentistas, preservadas não em formol nem em vitrines, mas em vida, como museus onde agora vive o povo, seu senhor e custódio.

Espera o povo Cubano, que insiste, contra todas as imposições externas e probabilidades, a ser um povo alegre: o cubano vai tocar guitarra para cima de um rochedo, dança à chuva porque lhe apetece, dança quando ouve salsa e insiste em casar os casais de turistas que passam.

2 – Segurança e liberdade

Imagina que estás à noite, numa rua empobrecida de um bairro empobrecido num país empobrecido. A escuridão é absoluta e o apagão pode durar muitas horas – ou a noite toda. Não se vê polícia. Por todo o lado jovens que, compreensivelmente, só usam calções e chinelos e ouvem reggaeton aos berros. Em qualquer outro país do mundo, seria avisado o turista que, no mínimo, escondesse o telemóvel, que pode valer um ano de salário. Mas Cuba é diferente. Pode parecer mentira, mas juro-vos que é verdade: em Cuba há mil vezes mais segurança do que em qualquer país europeu. Durante dois meses dormi em casas humildes de bairros periféricos, percorri ruas escuras com o mapa no telefone e só senti simpatia, generosidade e civilidade. Não se vê droga. Nada sugere criminalidade e a polícia anda desarmada. Os cubanos gostam de ajudar, querem oferecer, não pedem nada em troca. Não são gente deste mundo, em que se  assaltam povos inteiros à ponta de pistola, se reduzem cidades a escombros e se trafica influência, droga e seres humanos. Em Cuba a vida humana é o valor supremo.

E quem possa ainda acreditar na ideia de que em Cuba há uma ditadura, prepare-se para uma surpresa! Mesmo a minoria de cubanos que acha que vive numa ditadura, sente-se totalmente livre para dizê-lo alto e bom som, a toda a gente que passa, no meio da rua. Os cubanos discutem tudo e a democracia cubana é  isso: participação directa de milhões de pessoas nas decisões do dia-a-dia, nas Assembleias do Poder Popular, nos municípios, nas províncias, na Assembleia Nacional, nos sindicatos, nos Comités de Defesa da Revolução, na Federação das Mulheres Cubanas, na Federação Estudantil Universitária, em referendos frequentes. Cuba é segura porque é livre e é livre porque é segura.

3 – Tudo é acessível

Em cuba, os portugueses conseguem desfrutar de uma experiência turística que lhes é demasiado cara em qualquer outra parte do mundo. Alguns exemplos: o melhor mojito do universo custa 0,33€; uma noite num hostel barato em Havana, 10€; o bilhete para um museu que encosta Serralves e o CCB a um canto, 50 cêntimos; um bilhete para o teatro, 16 cêntimos, um prato de lagosta, 5 euros; um dia inteiro a mergulhar com garrafa de oxigénio na aguarela tropical dos corais, 60 euros.

Cuba também é acessível no sentido geográfico: em Cuba o turista pode viajar com comodidade até aos mais distantes cantos da ilha nos autocarros Viazul, nos serviços da Transtur e nos voos da Cubana de Aviación. Acima de tudo, conhecer Cuba é fácil porque os cubanos são um povo hospitaleiro que gosta genuinamente de tratar bem os convidados. É inacreditável, mas não conheço ninguém que tenha ido a Cuba e tenha regressado sem uma prenda de um cubano. Pela parte que me toca, guardo com carinho o «Cem horas com Fidel» que me deu o meu amigo George, dono do Hostal Los Pomier.

4 – A inacreditável cultura dos cubanos

Qual é a primeira coisa que ouve o turista mal diz que é português? Sim: «Cristiano Ronaldo». Em Cuba, ouvi coisas como «Português? Dom Diniz! Grande poeta!» ou «Portugal, José Saramago!». Cuba é uma nação orgulhosamente culta. Caminhamos pelas ruas de Matanzas e vemos dezenas de jovens a aprender artes marciais, dobramos uma esquina em Santa Clara e apanhamos uma orquestra sinfónica a tocar Bach numa garagem, chegamos à praça principal de Santiago e há um clube de xadrez instalado num palácio.

A educação é, desde o início da Revolução, em 1959, uma das grandes prioridades do Estado, que erradicou o analfabetismo, levou a escola às partes mais remotas da ilha e certificou-se de que estudar é, efectivamente, um direito. Da pré-escola ao doutoramento, toda a educação em Cuba é gratuita. O resultado é estonteante: Cuba é o país do mundo com mais médicos por habitante e um dos que mais licenciados e cientistas forma por ano.

A poucos quilómetros do Haiti, onde os cadáveres se acumulam nas sarjetas e o Estado colapsou sob a violência dos gangs e do imperialismo, os cubanos visitam tranquilamente alguns dos melhores museus do mundo, merecendo destaque o magnífico Museu de Belas Artes, em Havana. A cultura Cubana é negra, latino-americana, de todas as cores, em todos os feitios e não exclui ninguém. Só um país com um altíssimo nível de desenvolvimento cultural seria capaz de produzir cinco vacinas contra a Covid-19 em poucos meses, de saltar para o 16.º lugar do mundo na tabela dos países com mais medalhas olímpicas (86 de ouro) ou de ser reconhecido pela UNESCO como um exemplo para todo o mundo em matéria de preservação da natureza. O bilhete de avião para Cuba inclui o bilhete para uma das melhores companhias de bailado do mundo, as explosivas; o Carnaval de Santiago e as literalmente explosivas Parrandas de Remédios. Cuba merece ser visitada porque é um bastião mundial da música, da pintura, da dança, do teatro, do desporto, da cultura e, numa palavra, da humanidade.

5 – Solidariedade

Também é urgente visitar Cuba como um gesto de solidariedade. A administração Trump, num gesto inqualificável, reinseriu Cuba na infame lista dos «Países Patrocinadores do Terrorismo», proibiu todas as transacções financeiras para a ilha e reactivou o título III da Lei Helms-Burton, que permite processar judicialmente qualquer empresa ou banco no mundo que ouse estabelecer relações comerciais com Cuba. O objectivo é matar os cubanos à fome. Não é exagero, é o propósito declarado pela Casa Branca desde 1960: «o único meio previsível de alienar o apoio interno [à Revolução Cubana] é através (…) da insatisfação e das dificuldades económicas. (…) Uma linha de acção que, sendo tão hábil e discreta quanto possível, cause as maiores dificuldades, negando dinheiro e abastecimentos a Cuba, para diminuir os salários monetários e reais, provocar a fome, o desespero e a queda do governo».
A principal explicação para pobreza que se vê em Cuba é o injustificável boqueio dos EUA, que já foi condenado em 30 resoluções da Assembleia-Geral da ONU por violar a Carta das Nações Unidas, a Declaração Universal dos Direitos Humanos, o Pacto Internacional sobre os Direitos Políticos, Económicos e Sociais e toda a legislação internacional aplicável. Jeffrey Sachs, economista insuspeito de simpatias comunistas, calculou recentemente que o bloqueio norte-americano reduz em 75% o potencial económico de Cuba.

O prejuízo causado por apenas 25 dias de bloqueio equivale ao custo de todos os medicamentos básicos oferecidos pelo Estado cubano à sua população durante um ano; oito horas de bloqueio correspondem ao custo de todos os materiais didáticos da escola pública; 18 dias de bloqueio tapam o custo anual da manutenção do sistema eléctrico e o efeito de quatro meses de bloqueio é o custo anual de alimentar toda a população. O bloqueio impede Cuba de se financiar, de comprar e de vender livremente seja o que for, a quem quer que seja. Qualquer empresa ou banco, em Portugal ou na China, que decida forjar relações comerciais com Cuba arrisca-se a perder o direito de permanecer no mercado dos EUA, a usar os seus instrumentos financeiros e pode ser alvo de sanções económicas. Quem vender combustível, cimento, medicamentos contra o cancro, ou leite em pó a Cuba entra para a lista negra de Donald Trump.

Corolário directo deste castigo colectivo, em Cuba há escassez de quase tudo, menos de dignidade e soberania. É por isso que visitar a ilha é mais do que turismo: é um gesto de resistência contra a injustiça e um abraço de solidariedade a um povo que, apesar de tudo, continua de pé. Quem planeie viajar até Cuba pode e deve levar os medicamentos, o material escolar e os bens de higiene feminina que o cerco dos EUA não permite que cheguem à ilha. Basta contactar a Associação de Amizade Portugal-Cuba, que presta todas as informações a quem queira ajudar de alguma forma o povo cubano.

*Fotografias da Milene Vale

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