Mariposas, a eterna luta pela igualdade

Nacional

Patria, Minerva, Maria Teresa, três das quatro irmãs Mirabal, que a 25 de novembro foram brutalmente assassinadas por Rafael Trujillo, ditador dominicano. Assumidamente antifascistas, lutaram contra a opressão e empobrecimento das camadas trabalhadoras e por isso foram presas e torturadas, repetidamente, até à sua bárbara execução. E é em honra a elas que se instituiu o Dia Internacional para a Erradicação da Violência sobre as Mulheres.

Não é a primeira vez que aqui me detenho sobre a moda do feminismo. Uma quinta vaga, talvez. Um feminismo pop que se desliga das razões políticas de fundo das desigualdades e repete palavras de ordem, agora transformadas em slogans, mas que trazem consigo pouca ou nenhuma transformação.
Se, por um lado, seria positivo celebrar a chegada à luta de quem nunca lá andou, por outro lado causa-me um mal estar que me é de difícil descrição – esta forma leve e despudorada com que se grita igualdade ao mesmo tempo que se tomam medidas que aprofundam a desigualdade.

Foi, por isso, com algum espanto que li esta notícia que dá nota de centenas de pessoas a marchar, assinalando o dia. Entre elas ministros como Eduardo Cabrita, ministras, secretárias de estado, enfim, algo que não é comum – ver o governo não a manifestar-se mas a marchar.

Mas o meu espanto é um presente envenenado. A desfaçatez com que se agarra um pano exigindo igualdade contrasta com a acção ordenada por Cabrita que manda a polícia carregar sobre estivadoras no porto de Setúbal que defendiam os seus postos de trabalho. Com o encerramento de dezenas de tribunais que afastaram as mulheres da defesa judicial dos seus direitos ou com um código das custas judiciais que as impede de se divorciarem ou regularem responsabilidades parentais, de apresentarem queixas por violência doméstica (neste último caso, requisito essencial para obter o estatuto de vítima e beneficiar da isenção) porque não têm dinheiro para o fazer (e a lei só concede apoio judiciário a quem seja praticamente indigente.

Desfaçatez que contrasta com a tomada de zero medidas de prevenção contra a violência no trabalho, seja ela moral seja ela sexual, com a tolerância total com as desigualdades salariais, com o desinvestimento de meios na Autoridade para as Condições do Trabalho (e as trabalhadoras do setor bancário que o digam, cada queixa por assédio moral, cada arquivamento).

Mais do que desfaçatez, a total falta de vergonha daquelas que, como Catarina Martins ou militantes do Bloco de Esquerda e da Umar se batem (e desunham) pela aprovação de uma lei que permita que os proxenetas explorem livremente as mulheres na prostituição, perpetuando estereótipos de dominação masculina sobre o corpo e mente das mulheres e a mercantilização das suas vidas.

Desfaçatez de quem se diz feminista porque é mulher (e pronto, é bastante) e põe na mesma prateleira a Assunção Cristas e a operária corticeira sobre quem nunca sequer foram Capazes de falar. Ou das operárias da Triumph (são todas iguais, mas só se não trabalharem em fábricas).

Que marchem, é um bom princípio. Mas que então que digam exactamente ao que vêm. É que ter o governo a marchar significa que as suas políticas não são suficientes e estão a falhar.

Aproveitem pois a oportunidade de deixarem o seu casulo do privilégio e comecem a voar pela realidade – a realidade que eles e elas constroem e apoiam e que foi objeto de luta das irmãs Mirabal – a luta contra a opressão, o empobrecimento da classe trabalhadora, as discriminações.

Tenho as maiores dúvidas que neste caso, as mortas estivessem hoje ao seu lado.

2 Comments

  • Nunes

    29 Novembro, 2018 às

    Cínico, fascista e provavelmente nazi; eis a melhor descrição de um parasita que dá pelo nome de «Jose» e que comenta em todos os textos do «Manifesto 74».

  • Jose

    27 Novembro, 2018 às

    «das razões políticas de fundo das desigualdades»

    A biologia, a organização da família, tudo matérias acessórias das razões políticas!
    E onde há razões há Luta, e a Luta é nos salvará. Amen!

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