A aposta nos comboios… que os privados hão-de fabricar

Nacional

Chega a ser cada vez mais inacreditável como, à laia de pedronunosantismo e propaganda, este governo consegue aqui e ali granjear fama de «amigo dos comboios». Já aqui tínhamos recordado como, historicamente, o PS se tornou no maior carrasco da ferrovia depois de Cavaco Silva, sendo responsável directo pelos encerramentos das oficinas da EMEF de Coimbra ou da Figueira da Foz, do fecho dos ramais da Lousã, da Figueira da Foz, da Linha do Corgo, entre outros, ou como quando, em 2017, entregou de mão beijada a CP Carga ao sector privado (Medway). Vimos também como, em resultado das políticas seguidas por vários e sucessivos governos, entre 1988 e 2009, Portugal perdeu 43% dos passageiros de comboio, sendo que, nesse período, o PS governara duas vezes com António Guterres e uma com maioria absoluta de José Sócrates.

O famigerado Plano Nacional Ferroviário, que traduzido para língua portuguesa significa “mais parra do que uva”, tem como se esperava um apêndice de oportunidades que mostram bem a quem serve, ou servirá, quem alimenta e se alimentará, até à altura – uns bons anos – em que se possam tirar alguns bilhetes de embarque nas ligações «previstas». Isto porque, no meio de várias indefinições e anúncios genéricos, uma coisa parece certa: o sector privado, as grandes multinacionais, já estão no terreno com o fito de encaixar largos milhões ao fazer aquilo de que o governo, por opção ideológica, pura e simplesmente abdica.

A Stadler e a Salvador Caetano acabam de anunciar a construção de uma fábrica de comboios em Ovar, com o objectivo de produzir os 117 comboios de um concurso lançado pelo estado português. Os privados vêem nisto viabilidade e futuro; o governo não. E porquê? Porque o governo prefere ver viabilidade na viabilidade dos privados, futuro no futuro das multinacionais, e produção nacional nas mãos do capital e não do estado.

Podia ou não, numa lógica de produção nacional e criação de emprego, o estado produzir os seus próprios comboios? Podia ou não, dentro da mesmíssima lógica, o estado assegurar a manutenção dos veículos existentes? Podia ou não, o estado poupar recursos e, ao mesmo tempo, estimular a economia, apostando num serviço de qualidade que potenciasse até a exportação de veículos e de serviços associados? Poder podia, mas o governo não quer. E não quer não é por causa «do contexto», por causa «da guerra», por causa da «inflação», ou de tudo aquilo que tem usado para justificar as suas desastradas opções políticas. O governo não quer porque faz uma escolha política e ideológica muito clara: entre o público e o privado, o governo escolhe o privado. E, pior do que a direita, não o faz às claras, assumindo a opção. Fá-lo com disfarce e propaganda, enganando e mentindo, como é seu apanágio, ao povo português.

1 Comment

  • António Várzea

    8 Abril, 2023 às

    Ao melhor estilo fascista.

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