“São quase 120 mil crianças que deixaram de nascer em Portugal e, em virtude disso, muitas escolas estão vazias e muitos professores ficaram sem turmas a quem dar aulas”
Este é o problema maior da senhora Isilda Pegado. Como um auto de fé esta senhora levanta em armas a sua luta pelo retrocesso civilizacional e humano pregando em toda a parte contra as abortadeiras pecaminosas. «Por considerar que muitas destas interrupções não se teriam realizado caso as mulheres se sentissem apoiadas na gravidez, Isilda Pegado diz que chegou a altura de alterar a lei.»
É hábito que a dona Isilda profira das coisas mais estranhas (absurdas mesmo – como a falta de alunos nas escolas por causa dos abortos), é hábito que a comunicação social lhe dê palco. Tudo isso é normal.
O que não é normal é contrariar com factos as coisas mais abstrusas que são ditas e se tomam como naturais, até mesmo como verdade. Em 2008 gritavam aqui d’El Rei que vão matar tantas criancinhas!, nossa senhora que os abortos vão aumentar desmesuradamente!, ai que o SNS vai ao fundo só a pagar abortos!
Isilda volta à carga e diz que os professores não têm trabalho e que o SNS continua a financiar abortos, dinheiro, exigindo «justiça» e «responsabilidade» até mesmo invocando a classe para dizer que é injusto «que os impostos de um operário que ganha 600 ou 700 euros por mês sirvam para pagar o aborto de uma mulher que se calhar até é economicamente abastada». Pois, dona Isilda, note bem:
Sobre o impacto da despenalização do aborto e o impacto directo nos números das complicações e de mortes por aborto clandestino: a média do número de atendimentos por complicações entre 2002 e 2007 foi de 1258; entre o 2008 a 2012 foi de 241.
Mortes maternas por complicação de aborto: os resultados dos inquéritos epidemiológicos de 2011 e 2012 enviados à DGS mostram que não houve mortes maternas associadas à interrupção da gravidez.
Em 2012 verificou-se um novo aumento na categoria “Desempregadas” com 22,7% do total dos registos, sendo agora a categoria predominante. A categoria de “Trabalhadoras não Qualificadas” aumentou.
No que diz respeito ao grau de instrução 35,2% das mulheres têm o Ensino Secundário, 28,2% o Ensino Básico (3º ciclo), 20,0% o Ensino Superior e 12,1% o Ensino Básico (2º ciclo).
Entre as mulheres que efectuaram uma IG em 2012, 73,9% nunca tinham realizado anteriormente uma interrupção.
Em 2012, 67,1% das IG por opção da mulher foram realizadas pelo método medicamentoso e 31,7% pelo método cirúrgico. Nas unidades do SNS a grande maioria das interrupções (95,7%) são realizadas utilizando o método medicamentoso – logo, sem grandes custos.
Em 2012, cerca de 96,1% das mulheres que realizaram IG por opção escolheram posteriormente um método de contracepção.
Portugal situa-se abaixo da média europeia considerando o indicador IG por 1000 nados vivos para os anos disponíveis.
Dona Isilda, vá fazer outra coisa que não seja tentar aparecer a cada 11 de Fevereiro a invocar o diabo e o fim da humanidade. A lei contribuiu para a melhoria da saúde sexual e reprodutiva, para o cumprimento dos direitos das mulheres. Certamente a política que a dona Isilda refere tem morto muito mais gente sem dinheiro para medicação, sem médicos, sem tratamentos, sem salário, sem prestações sociais.