Abril, o “muro” e o apoio da RDA aos antifascistas portugueses

Nacional

Os 40 anos de Abril estão aí e os partidos da maioria governamental abriram a época do gozo à Revolução libertadora. Assim, e depois do PP e dos seus jovens queques (aqueles que querem fazer retroceder a escolaridade obrigatória ao 9º ano) se terem dedicado a espezinhar Abril e o seu legado sobrepondo-lhe o golpe de direita de 25 de Novembro de 1975, é a vez do PSD e da sua “jotinha” vir meter a colher num tema que sempre desprezou, e em data que jamais comemorou para lá do âmbito institucional de que não pode mesmo fugir. Em momentos praticamente simultâneos, a presidenta da Assembleia da República vem propor mecenato para as comemorações de Abril e uma moça que ficou célebre por ter feito uma chamada falsa para a linha de urgência do INEM apresentou uma ideia estapafúrdia que apenas na cabecinha dos jotinhas da Lapa faz sentido: associar as comemorações de Abril à queda do chamado “Muro de Berlim”.

O PSD (e a por arrasto a sua claque jovem) nunca comemorou Abril. Pelo contrário: empenhou-se em destruir Abril e as suas conquistas desde o primeiro momento da sua existência. Abril e o processo revolucionário cujas portas abriu ainda hoje faz estremecer o PSD e o poder económico-financeiro de que é um dos braços políticos. O “grande cagaço burguês”, como lhe chamou Varela Gomes, ainda está bem presente nas suas memórias, e a sua destruição – a destruição do que resta da Revolução – ainda lhes ocupa os dias: privatizações, destruição da legislação laboral, desmembramento do poder local democrático, desmantelamento das funções sociais do Estado, descaracterização da Constituição de 1976.

Abril é-lhes uma data totalmente estranha. Abril é a antítese do seu projecto e prática política. Se vêm agora envolver-se numa certa forma de celebração da data é com o intuito de sobre ela lançarem uma nuvem de fumo.

Felizmente as comemorações populares – aquelas que são da iniciativa das organizações que verdadeiramente pretendem recuperar e continuar Abril, ou que acontecem nas escolas, nos bairros, no seio do movimento associativo ou simplesmente em casa de cada um de nós – continuam a sublinhar o verdadeiro significado da Revolução e a resgatar ao esquecimento todo o contexto em que Abril se deu, desenvolveu e resistiu – tanto quanto possível – aos múltiplos ataques de que foi alvo.

Quando a RDA for metida ao barulho nas comemorações de Abril participarei no debate com todo o gosto, lembrando que a República Democrática Alemã foi sempre porto seguro para os resistentes antifascistas portugueses, para aqueles que lutavam pelo fim da guerra colonial e pela independência e liberdade dos territórios e povos ocupados. Que a RDA foi um Estado amigo da nossa Revolução, que foi um dos Estados que mais se envolveu no apoio activo à libertação dos povos sob o jogo colonial e racista (a África do Sul, por exemplo), que apoiou Abril e as suas conquistas (como a Reforma Agrária) de forma desinteressada e que esteve sempre ao lado dos trabalhadores portugueses contra o processo contra-revolucionário em que o PSD (com o PS e o CDS, naturalmente) foi organização de proa. E que esse papel valeu à Associação de Amizade Portugal-RDA um ataque à bomba, no Verão de 1976.