A PSP, os lesados do BES e seus chutos e pontapés

Nacional

Zapping matinal. Num dos canais de informação passavam imagens dos “lesados do BES” em manifestação em frente à sede do defunto banco, renascido como Novo Banco. Barulho, algumas pessoas, entrevistas semi-audíveis. Cinco minutos disto e continuação do zapping. De repente chego à CMTV, que continuava em directo do local. A temperatura subia, vertiginosamente. Manifestantes que tentavam entrar na sede do Novo Banco empurravam, insultavam e berravam aos ouvidos dos agentes do Corpo de Intervenção da PSP. Bastões à vista: zero. Resposta da PSP: pacífica, apenas mantendo a posição.

Cinco minutos disto e continuação do zapping. Volto à CMTV – entretanto só a TVI24 voltava ao directo por breves momentos. O que parecia uma dispersão da manifestação, transformou-se num corte do trânsito da Avenida da Liberdade. Pelo meio, um carro da PSP que tenta cruzar a Avenida furando por entre os manifestantes, é parado. Há quem se sente na bagageira, há quem insulte os agentes que estão no interior e há quem decida dar uns valentes sacolões ao carro. Bastões à vista: zero. Resposta da PSP: zero. Entretanto o carro segue o seu caminho.

No momento em que deixei o directo e vim escrever este texto, não se via nenhum polícia no eixo central da Avenida tentando repôr a normal circulação.

Tal como na última manifestação do tipo que houve em Lisboa promovida por este movimento, a resposta da PSP é aquela que não vemos em nenhuma outra situação. Pacífica, mantendo posição, não reagindo e portanto não aumentando a tensão que acaba por se desvanecer.
Fora esta uma manifestação que pedisse, por exemplo, a demissão do governo, mais justiça e menos discriminação racial nos guetos que existem pelo país , o fim da presença de Portugal na NATO ou um piquete de greve geral, e fosse este o comportamento dos manifestantes e é garantido que bastões seriam mais que muitos, algemas sairiam ligeiras dos cintos, encontrões, pontapés e outro tipo de agressões da Polícia seriam constantes e justificadas com “a reposição da ordem pública”.

Como duvido que este movimento tenha marcado concentração ou desfile pelo eixo central da Avenida – facto que pode ser comprovado pela inexistência de acompanhamento policial na dita faixa de rodagem, prática obrigatória nestas ocasiões -, mais uma vez percebemos que o comando da Polícia e os seus superiores hierárquicos deram ordens bem claras aos agentes no terreno: permitir uma ocupação ilegal da via pública e proteger com unhas e dentes, mas com calminha, uma propriedade privada de um banco que, até prova em contrário, não só enganou um país inteiro como foi literalmente aos bolsos de milhares de pessoas que perderam assim as poupanças de uma vida.

Nestas coisas, a malta do dinheiro e os partidos que os amparam, não deixam nunca os seus créditos em mãos alheias.

No meio disto tudo há sempre quem se manifeste sem nenhum tipo de razão, porque sabia exactamente o que era papel comercial e os riscos associados, mas isso era outra história.

Uma coisa é certa, quem quiser vingar-se das bastonadas que leva no seu bairro só por causa do tom da sua pele, dos pontapés que leva pelas costas em comemorações desportivas, dos encontrões valentes que leva em piquetes de greve, basta aparecer numa manifestação dos “lesados do BES”.

Entretanto, e tentando perceber se os outros canais davam as imagens, ironia das ironias, a ministra da Administração Interna dava uma conferência de imprensa sobre os fogos. Certamente que ao final do dia dará nova conferência em que justificará porque é que a PSP não teve ordens imediatas para conter um corte ilegal de estrada. Ou então não.

* Autor Convidado
André Albuquerque