Da sondagem encomendada pelo jornal i à empresa Pitagórica, ficamos sem saber se 30,6% dos que responderam que concordavam com haver risco de violência caso Passos Coelho e Cavaco Silva não se demitam o fizeram porque acham que a situação em que vivemos é insustentável. Mas também não podemos chegar à abusiva conclusão do diário quando afirma que a maioria não teme violência nas ruas porque, de facto, a questão não se prendia com temeridade mas com o risco, ou seja, com a probabilidade disso acontecer. Contudo, parece claro que os portugueses temem mais a violência do governo do que a tão propalada violência nas ruas. O que nos faz sofrer não é a dor antecipada das imagens dantescas que nos tentam impingir quando falam de desordem social. O que nos faz doer a pele são as agressões despudoradas de um governo que mais não é do que a linha avançada de uma força comandada pelos grandes grupos económicos e financeiros que têm o FMI e a União Europeia como general. Que abram as portas das redacções a quem perdeu o trabalho para que possam descrever ao país a violência diária com que se deparam. Que tragam os sem-abrigo, os reformados que sofreram cortes nas pensões, os trabalhadores à mingua com o roubo de parte dos subsídios, os doentes oncológicos a que não deixam sequer o direito à dignidade ante a morte, os que pensam diariamente no suicídio como saída para o sofrimento. E então verão que, como disse Bertolt Brecht, “do rio que tudo arrasta todos dizem violento mas não das margens que o comprimem”.
A violência de que poucos falam
30 Dezembro, 2013