Ante a gargalhada geral: o ridículo somos nós?

Nacional

O episódio protagonizado ontem por um Ministro do Governo de Portugal tem sido objecto de sátira, de gargalhada geral, de ridicularização, de misturas musicais, de redes sociais com menções irónicas, foi mesmo epitetada de «Pires de Lima show» (desafio-vos a colocarem o nome do Ministro no google e ver o que aparece) e, ainda assim, não consigo esboçar sequer um sorriso ante qualquer uma delas.

Pires de Lima é o Ministro da Economia do Governo de Portugal. Não é um blogger, um convidado do Prós e Prós, um fazedor de opinião.

Pires de Lima é o Ministro da Economia do Governo de Portugal.

António Pires de Lima tem 51 anos, é casado e tem 5 filhas.

Licenciado em Economia pela Universidade Católica de Lisboa, em 1984, fez um Mestrado em Economia e Gestão de Empresas (MBA) no IESE da Universidade de Navarra, em Barcelona, em 1986, e o Programa de Gestão Avançada do Insead, em Fontainebleau, França, em 1998. Fez igualmente cursos sobre Fusões e Aquisições no IMD, em Lausanne, Suíça, Negociação, no Insead, e Liderança e Motivação, na Epsilon Management.

Foi presidente da Comissão Executiva da Unicer, Bebidas de Portugal, desde julho de 2006, tendo também sido presidente da Comissão Executiva da Compal (desde 1993), vice-presidente executivo da Nutrinveste (desde 2000) e presidente da Comissão Executiva da Nutricafés (desde 2002), todas do Grupo Nutrinveste/Compal, onde se manteve até final de 2005.

Anteriormente, fora diretor Comercial e de Comunicação com responsabilidade nas Áreas de Marketing, Vendas, Comunicação e Ambiente, da Tetra Pak Portugal (1992-93), diretor geral, principal responsável de toda a operação em Portugal, da Scott Paper Portugal (1987-91), e gestor de área, responsável pelo desenvolvimento do negócio em Portugal da empresa de Barcelona Arbora (1986-87).

Foi ainda presidente da EPIS, Empresários para a Inclusão Social, desde 2010, e presidente da APCV, desde 2011.

Foi deputado pelo CDS/PP à Assembleia da República pelo círculo de Santarém (1999-2002) e pelo círculo do Porto (2005-2007), tendo sido porta-voz do CDS/PP de 2002 a setembro de 2004, e vice- presidente do CDS/PP até abril de 2005, e presidente do Conselho Nacional do CDS/PP desde 2007. Foi também presidente da Assembleia Municipal de Cascais (desde 2005).

Pires de Lima é o Ministro da Economia. Não foi eleito, é verdade. Ninguém votou nele nem no seu partido parasitário de governos de direita ou do PS. Mas é Ministro. Da Economia. Alguém que decide o destino do nosso aparelho produtivo. Um homem que vende ao desbarato os recursos portugueses. Que encerra unidades de produção e deixa centenas, milhares de pessoas no desemprego. Famílias cuja única fonte de rendimento é o seu trabalho e que deixou de existir. Que tem vendido o país às postas, pela oferta que aparecer. Que depaupera o Estado. Que afirmou sobre o seu antecessor, Álvaro Santos Pereira que «Temos um ministro das Finanças com enorme peso político e omnipresente e depois temos um ministro da Economia que não tem experiência de fazer e que viveu distante da realidade portuguesa e até da realidade empresarial durante muitos anos, dificuldades que são perceptíveis», reclamando mais poderes a essa pasta, obtendo-os. Pires de Lima quer vender a TAP. Pires de Lima quer vender a PT. Pires de Lima quer nacionalizar os prejuízos do BES.

António Pires de Lima é Ministro. Da Economia.

É por isso que não consigo sequer um esgar, um esboço de sorriso quando assisto a uma discussão parlamentar sobre o Orçamento do Estado para 2015 em que, em total desrespeito pela Assembleia da República e, sobretudo, em total desrespeito pelas pessoas, um Ministro infantiliza uma plateia de gente com desenhos, expressões mais ou menos populares, provocações entre amigalhaços ante a gargalhada da direita parlamentar e a incredulidade da esquerda.

Hoje, o país goza com o Ministro. Mas devia era estar a gozar consigo próprio. Porque há quem tenha votado no CDS e no PSD. Há quem apoie este Governo. Há quem, não tendo votado neles, não se sinta insultado. Eu não consigo gozar com a situação.

António Pires de Lima é Ministro da Economia do Governo de Portugal.