Pires de Lima e o aviãozinho

Nacional

Aqui há uns dias, os deputados e deputadas do PSD e do CDS-PP ficaram ofendidíssimos quando o deputado do PEV, José Luís Ferreira, utilizando uma expressão considerada pouco canónica, disse a Luís Montenegro que metesse uma coisa na sua cabecita. Respondia o deputado do PEV ao mesmo Montenegro que colocava em causa a legitimidade da representação do PEV na AR.

Hoje, com a intervenção do ministro da Economia, António Pires de Lima, esses mesmos deputados e deputadas do PSD e CDS-PP riram a bandeiras despregadas. Ora isto demonstra duas coisas: estamos perante gente pouco exigente que gargalha com qualquer piada de caserna mal executada e perante gente que de tanto viver de dedo apontado aos desvios dos bons costumes e de carácter alheios, já perdeu o sentido do ridículo e da auto-crítica.

Não me choca nem a cabecita nem o discurso de “olhóaviãozinho” do ministro da Unicer. Gosto da liberdade de expressão, seja lá onde for, gosto de poesia, de ironia de sarcasmo, de metáforas, de provérbios, de aliterações, elisões e outras supressões. Abomino o protocolo de linguagem da AR – e quase todos os protocolos, na realidade – que nos inunda os ouvidos com “senhora presidente, senhor primeiro ministro, senhoras e senhores membros do governo, senhoras e senhores deputados”, etc.

Mas o que abomino ainda mais é gente que polida e educadamente legisla contra os cidadãos, gente que polida e educadamente destrói tudo que é serviço público, gente que polida e educadamente mente descaradamente, gente que polida e educadamente usa o rigor dos orçamentos para produzir milionários, gente que polida e educadamente confunde política com um colégio de freiras, sem possibilidade de desvios de linguagem.

Senhora Presidente, senhor primeiro-ministro, senhoras e senhores membros do governo, senhoras e senhores deputados do Centrão. Deixem-se de merdas, enfiem o polimento e a lisura nas entrelinhas do rabo e façam política, que é para isso que são pagos. Já não vos peço que façam a minha política, mas que fazendo a vossa não me agridam ainda mais com alarves gargalhadas que usam para disfarçar a mesquinhez, a tacanhez e a desprezível falta de humanidade com que dirigem os destinos do meu país. Em Democracia, mais do que as palavras mais ou menos educadas e rebuscadas no hemiciclo da AR, importam as ideias, os actos e as decisões. O único protocolo que deviam ter em atenção é aquele que obriga a que antes dos números estejam as pessoas.

Senhora Presidente, senhor primeiro-ministro, senhoras e senhores membros do governo, senhoras e senhores deputados do Centrão. Porque já fui rude e mal educado, cesso aqui de me dirigir a vós, que isto das asneiras, como bem lembrou o ministro da Unicer, é como o ketchup e os golos do Ronaldo.

Razão tinha um amigo meu, um tal de Fernando Pessoa, que dizia que o mundo está cheio de príncipes e campeões. Imaculados. Dá-lhe Autran.

* Autor Convidado
André Albuquerque