As cores da CIA, as cores do império… a farsa mal disfarçada.

Internacional

Um olhar atento sobre o que se está a passar na Ucrânia permite perceber facilmente a enorme diferença entre os primeiros protestos(ou a forma como estes foram noticiados) e a realidade presente nas declarações e imagens que nos chegam por estes dias. Se ao início os protestantes(ou a sua direcção política) eram “pro-UE”, “pacíficos” ou mesmo até “defensores dos direitos humanos”, claramente hoje já não disfarçam o seu cariz abertamente violento e fascista. O discurso pro-UE foi-se substituindo por uma narrativa e uma acção que corresponde a este cariz.

A acção dos “protestantes” revela um nível de organização e de estratégia muito elevado, bem como uma preparação e organização de nível militar. Circulam já várias acusações de que é real a preparação(e pagamento financeiro) de milhares de milicianos na região da Galitzia. Não terá sido por acaso que foram apoiados publicamente, em visita a Kiev, há quatro semanas atrás, pelo dirigente republicano americano Jonh Maccain.

A Ucrânia é dominada por um grupo de oligarcas que hoje se tornou muito dependente do capital internacional e por isso mesmo promove esta “separação” com a Rússia, alvejando a sua própria sobrevivência dentro do que é o quadro do capital internacional e, futurando uma dependência servil do país face ao que é e a quem por sua vez serve a UE. Infelizmente algumas camadas do povo ucraniano, vitimas da situação económica e social do país, desesperadas, deixaram-se seduzir pelos “protestos” e pelas miragens que a UE promove de si própria.

Não se pretende neste texto apoiar ou sequer desculpar o poder político ucraniano. Desde o fim da RSS da Ucrânia, portanto desde 1991, que é um poder político sucessivamente apanhado em escândalos de favorecimentos e corrupção, que apenas serve um punhado de grandes oligarcas, que enriqueceram na medida da destruição do país, da privatização de sectores estratégicos e riquezas naturais e destruição do seu aparelho produtivo, da exploração e empobrecimento do povo e dos trabalhadores.

O actual Governo Ucraniano ao invés de restaurar a lei e a ordem, optou por sucessivas concessões e a não inversão deste rumo poderá significar uma importante vitória para o oligarquia local e internacional. Transformando-se a Ucrânia em mais uma dependência do grande capital, num país ainda mais pilhado das suas riquezas, de mão-de-obra barata, reduzido a um triste papel e eventualmente até dirigido por partidários nazis como acontece noutros países próximos, como no Báltico.

As revoluções coloridas

Creio que vale a pena, pela sua actualidade, ler este texto de Carolus Wimmer escrito há alguns anos. A propósito das movimentações que a CIA e das suas estratégias de perturbação e ingerência em diversos países.

“(…) As chamadas revoluções de cores são, na realidade, mobilizações políticas propiciadas por representantes contra-revolucionários: burguesia apátrida, Agência Central de Inteligência (CIA) dos EUA e outros com interesses económicos. A estratégia consiste em propiciar ações de “resistência civil” contra “líderes autoritários”, “regimes não-democráticos ou comunistas”, “governos corruptos” ou “militaristas”.

Os grupos de manifestantes seguem o esquema preparado nos laboratórios de inteligência norte-americanos e tomam como “bandeira” uma cor ou um símbolo. Assim, rosas, cedros, tulipas, mãozinhas brancas, são utilizadas como emblemas da contra-revolução mundial. É importante destacar que, geralmente, estas representações não estão identificadas com um símbolo pátrio ou nacional, mas sim com os “ícones”, aparentemente, não relacionados com a política, mas com a “inocência” e a “leveza” da juventude.

(…) Nos países da ex-União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS), na Europa Oriental, a desorientação deixada pelo fracasso da primeira tentativa civilizadora de construção de uma sociedade socialista foi um incentivo para a proliferação destas “revoluções” que também têm tido seus reflexos no Oriente Médio.

O formato do esquema posto em prática por estas ações contra-revolucionárias conta com: 1) as mobilizações declaradas não violentas pelos porta-vozes do “movimento”, que na realidade possuem o propósito de subverter a ordem pública; 2) o discurso na defesa dos valores da democracia burguesa e ocidental; 3) rostos jovens como líderes das manifestações, pois um dos pilares fundamentais da estratégia é ressaltar mediaticamente que se trata “da juventude, dos estudantes e ONGs”, desvinculados dos tradicionais partidos políticos que, em muitos casos, vem perdendo influência e prestígio nas sociedades.”

São vários os casos que encaixam perfeitamente nas metodologias da CIA. O Movimento Octopor na Sérvia  com a deposição de Milosevic, as Damas de Branco em Cuba, a Revolução das Rosas na Geórgia, a Revolução Laranja na Ucrânia em 2004, a Revolução das Tulipas e a saída do Governo de Askar Akayev, no Quirguistão em 2005, a Revolução dos Cedros que teria por finalidade forçar a retirada das tropas sírias do Líbano e o desarmamento do Hezbollah, o derrube do presidente Manuel Zelaya nas Honduras em 2009, a implosão da Líbia em 2011, o início da guerra civil na Síria…

* Autor Convidado
Filipe Guerra