O escândalo de corrupção conhecido como “caso Gürtel”, envolvendo directamente o Partido Popular espanhol e alguns dos seus mais destacados membros, começou em Novembro de 2007 e, volvidos dez longos anos, ainda não se acha concluído pela justiça espanhola. Em Julho deste ano, o chefe de governo, Mariano Rajoy, o ultimamente tido como arauto da justiça e da legalidade, foi ouvido pelas autoridades para dizer que “desconhecia” as questões económicas e financeiras do seu partido, até porque, à altura dos factos, se ocupava apenas de “questões políticas”. Outro dos casos de corrupção no mesmo país, desta feita envolvendo membros da família real – o caso Nóos ou Urdangarín – levou sete anos a ser concluído. Terminou com a sentença de prisão para Iñaki e uma ténue multa à infanta Cristina, que, coitada, “não sabia de nada”. Ou seja, eis a duplicidade da justiça que alguns alegam existir no seio da “pura” e “democrática” Espanha “constitucional”: anos e anos a julgar casos de complexa mas comprovada corrupção; escassos dias para meter na cadeia todo um governo catalão democraticamente eleito pelo povo!
Rajoy e Luís Filipe de Bourbon, figuras de topo de duas instituições manchadas por actos criminosos, usam da moral que não têm e de um poder assente sobre estacas podres, para apontar o dedo da legalidade e da ética a quem traduz o sentimento de um povo. A vontade dos catalães em libertar-se das amarras de Espanha não se prende, como alguns ignorantemente propalam, apenas com questões de correspondência a valores históricos ou culturais; é também e sobretudo, a vontade de libertação das amarras de uma abjecta teia capitalista e corrupta instalada, de uma governação insuportável, de um domínio económico e financeiro cada vez mais agressivo, de um sistema de justiça em que cada vez menos se pode confiar. Mas é claro como água que nunca, em circunstância alguma, será possível pensar em libertação a todos estes níveis sob tutela de um governo e de um país em cujos principais agentes políticos são eles próprios o rosto dessa falta de justiça. Nenhum catalão pode confiar nos tribunais de Madrid, nem aceitar uma eleição organizada por Madrid e poluída de ameaças, chantagens e de acções repressivas.
Puigdemont está longe de poder ser tomado como alguém puramente interessado na justiça, na equidade, na liberdade ou no bem-estar da maioria do povo que o elegeu. Não temos dúvidas de que, havendo efectiva independência, Puigdemont e seus pares correriam atrás da União Europeia e das instituições ligadas ao grande poderio económico e financeiro. Com estes representantes, nenhum outro destino seria de prever que não o de somar a Catalunha ao número de nações subservientes do federalismo capitalista europeu e mundial. Mas esta convicção não pode gerar a equívoca ideia de que o melhor é “manter tudo como está”. É errado, profundamente errado, diria até cobarde, não defender a abertura de um caminho que possa levar o povo, em francas condições de liberdade – que enquanto forem parte de Espanha nunca estará garantida – a aspirar a uma sociedade não só independente no que diga respeito a território e fronteiras, como também do ponto de vista económico, financeiro, social e político. A independência é urgente, como é urgente a sua efectivação enquanto caminho que abra ao povo catalão a possibilidade de, em efectiva liberdade, romper com governos, partidos e interesses capitalistas. A independência como primeiro passo para a construção de um futuro de desenvolvimento e solidariedade que sorria a todos os catalães.
As eleições agendadas estão por isso e à partida condenadas ao fracasso. Com a mais gritante falta de pudor ou vergonha, o centralismo governativo de tiques franquistas prepara-se para realizar umas eleições com uma parte da oposição na cadeia. É esta a concepção que Madrid tem de democracia, e é nesta forma de democracia que se vêem as reais intenções dos que clamam pela “legalidade”. Por outro lado, a participação voluntária dos partidos ditos independentistas no sufrágio comandado por Madrid, será um não menos gritante tiro no pé. É deitar ao lixo todos os argumentos invocados de respeito pela vontade manifestada em referendo, bem como aniquilar a legitimidade de eleitos em sede de parlamento regional.
Aqui, como noutras latitudes, no presente como no passado, a chave da solução reside no próprio povo. É pelo povo que deve passar a tarefa da verdadeira união, organização e luta, e não por acordos fictícios de partidos já comprometidos com outros interesses. É às ruas, aos locais de trabalho, aos homens e mulheres, aos estudantes e reformados, a todos, sem excepção, que compete fazer o que não se pode esperar de tecnocratas de bafio como Puigdemont. E não tenhamos dúvidas de que se a força da independência emanar do povo, ela por si só vencerá. Se emanar de gabinetes ou dos interstícios do parlamentarismo oco e burocrata, não passará de um gigantesco fracasso.
14 Novembro, 2017 às
Ora lá está a referência ao reinado dos Filipes, o que quer dizer que Portugal parou em 1640. Atraso absoluto. Há mais mundo entre o céu e a terra do que esse e essa referência "anti-espanholista" e unicamente portuguesa. É que no resto do mundo, Espanha é o país de Dolores Ibarruri e Durruti, Velázquez ou Picasso, Calderón e Gomez de la Serna ou Vila Matas. Enquanto uns sonham com uma Espanha totalmente livre do PP, de Franco e dos Borbons (e da monarquia), outros apenas sonham separar a Catalunha (com relações inseparáveis ao resto) de Espanha. Modestos, pá! Desafio os anti-espanholistas a, no próximo 1º Dezembro, celebrarem a data ao lado de Pinto Coelho e do PNR (ou junto do fantasma da fascista Vera Lagoa), as únicas pessoas (grupúsculos) que descem à rua no 1º Dezembro. Ora bem: porque é que esta data caiu nas mãos da extrema direita? Espero ver os "anti-espanholistas" (???) ao lado do PNR no próximo 1º Dezembro. Se não o fizerem já sabem que termo ou nome lhes cabe, a vocês. CARLOS VIDA
14 Novembro, 2017 às
CARLOS VIDAL
5 Novembro, 2017 às
E, ainda sobre a (in)justiça castelhana, lembremo-nos do que ela fez ao juiz que se atreveu a querer investigar o genocídio franquista. Lembremo-nos que o honesto burguês Baltazar Garçon está suspenso das suas funções. Lembremo-nos de que por pouco não foi preso quando quis abrir as valas comuns franquistas onde jazem os corpos dos heróis republicanos, homens e mulheres que defenderam a legalidade republicana, democraticamente sufragada e golpisticamente afogada num mar de sangue e violência pelo caudilho que, de áfrica, veio repor a monarquia dos bourbons, nunca votada, nunca sufragada, e que agora se arroga de uma qualquer (in)justiça para punir homens e mulheres eleitos com um programa que garantia a execução de um referendo.
Lembremo-nos sempre que a justiça espanhola continua a ser, antes de mais, a justiça franquista, falangista, fascista criada em cima dos cadáveres republicanos.
4 Novembro, 2017 às
Aquilo que se está a passar em Espanha é uma vergonha. A imagem que Espanha está a transmitir para fora é a de um país intolerante e violento, igual à Espanha de Franco. A forma como os juízes aplicaram a decisão do artigo 155 fez lembrar a Inquisição espanhola; e o modo maquiavélico como Mariano Rajoy está a decidir o futuro da Catalunha faz lembrar o reino dos Filipes. Se a Espanha quer inovar só há um caminho a seguir e esse é, sem dúvida, dar a voz ao povo e deixar que este decida sobre o seu futuro, seja em Independência de estados ou não.
5 Novembro, 2017 às
Quem pode calar a tua estupidez?