Após a nomeação formal do “humilde” Donald Trump e seu vice Mike Pence, chegou a vez da Convenção do Partido Democrata que se inicia hoje. Não se esperam nenhumas surpresas. Hillary Clinton já anunciou o seu vice, Tim Kaine, uma escolha desinteressante de um centrista relativamente pouco conhecido pelo eleitorado. Mas mais seriamente, uma escolha que desilude o eleitorado progressista do Partido que se havia galvanizado e mobilizado com a candidatura de Bernie Sanders. Clinton parte para a Convenção, uma corrida começada há muitos anos, com uma diferença tangencial face a Trump (ver), mas parece desvalorizar o eleitorado de Sanders e os temas que foram os pilares da sua candidatura.
As eleições presidenciais têm tido taxas de participação na ordem dos 60%, embora nas últimas eleições intercalares, em 2012, tenha sido 36%, um dos valores mais baixos nas últimas décadas. A história recente também demonstra que algumas corridas estaduais podem ser muito renhidas, onde centenas de votos podem ser importantes para ganhar os representantes ao Congresso eleitoral. Assim, a capacidade de cada candidato mobilizar os seus apoiantes (ou os que fecham os olhos quando votam) a irem às urnas é crítico. E Clinton tem mostrado desdém pela base de apoio de Sanders. Há que ter em conta que Sanders, embora não obtendo o número de delegados à Convenção Partidária necessário para contestar a nomeação, venceu o processo das primárias em 22 estados, isto apesar de ter contra si o aparelho do próprio Partido Democrata, assim como a comunicação social. E embora a sua campanha tenha sido financiada fundamentalmente por pequenas contribuições (99.4% abaixo dos $250) conseguiu níveis de financiamento que em alguns meses ultrapassaram Clinton.
A alargada base de apoio de Sanders não está necessariamente ganha por Clinton. Não bastará ser melhor que Trump. Para tal também não ajudou os emails da liderança do Partido Democrata, tornados públicos pela WikiLeaks, que demonstram que o aparelho partidário estava enviesaram o processo das primárias contra Sanders. Esta será apenas uma confirmação para os apoiantes de Sanders, que já vinham protestando contra inúmeras irregularidades nas primárias de múltiplos estados, incluindo onde Sanders perdeu para Clinton por margens pequenas. No domingo, a presidente da Comité Nacional Democrata, Debbie Wasserman Schultz, pediu a demissão. Ainda mal os comentadores progressistas afirmavam que esta demissão não seria suficiente, e já Clinton nomeava Schultz chefe honorária da sua campanha. Com um desdém deste tipo pelo eleitorado de Sanders, Clinton só está a erodir a sua potential base eleitoral e aumentar as hipóteses de Trump.
* Autor Convidado
André Levy