Debater a Europa, esse eufemismo

Internacional

De repente, do alto sapiencial de quem adora «recentrar» ou «circunscrever» todas as discussões à órbita da sua própria mundividência, ou ego, aparece a afirmação ou acusação de que os candidatos às próximas europeias não estão a «debater a Europa». Mas o que é isso de «debater a Europa» afinal, quando esse apelo vem geralmente da direita, de liberais, de ditos europeístas, ou dos comentadores que se sentem muito confortáveis com o sistema? Vamos por partes, começando por referir aquilo que essa expressão definitivamente «não é».

«Debater a Europa» não é debater as condições de vida da população residente na UE, porque esses que exigem tal debate são os mesmos que fazem vista grossa ao colossal fosso existente entre os países que pertencem à mesma UE, nomeadamente nas brutais diferenças de salários, de pensões, de sistemas de saúde, de educação, nas quotas de produção, etc. São exactamente os mesmos que, sabendo que o papel de Portugal na UE esteve, está e continuará a estar reservado «à cauda» do sistema, mesmo assim acham «muito bem» que sejamos todos muito «europeístas» e muito defensores de uma união económica e financeira.

«Debater a Europa» não é debater política económica, porque os que clamam por esse «debate» não são nem nunca foram capazes de apontar o dedo a interferências e ingerências dos «grandes» da UE e dos mandantes do BCE na soberania económica e financeira dos demais países da União. São os mesmos que aceitam tacitamente um sistema que submete os países a jugos apertados, a troikas calculistas, a impostos sem o devido retorno ou a quotas de produção asfixiantes.

«Debater a Europa» não é debater a paz entre as nações, porque quem o exige não se importa nada que a UE pactue ou participe activamente nas acções de guerra e saque dos EUA a nações soberanas, por «mero acaso» ricas em recursos naturais.

«Debater a Europa» não é debater o ambiente ou as políticas ambientais, porque isso não se faz com uma postura ou posição de defesa ou de transigência para com o capitalismo desenfreado que a UE intrinsecamente desenvolve. Sob a capa de federalismos «verdes», falsos e hipócritas, é o capitalismo o inimigo primeiro e mais sério do meio ambiente e dos ecossistemas, que não tem pejo em destruir e submeter às suas «regras», lógicas, interesses e desmandos.

O que é então, para esses «exigentes» senhores, «debater a Europa»?

«Debater a Europa» não é um debate, é desde logo uma assunção. É a assunção de uma lógica de pertença inquestionada e inquestionável a uma federação capitalista que existe e vai sempre existir, sem espaço para perguntar verdadeiramente se é essa ou não a vontade do povo português (que nunca foi consultado ou referendado nessa matéria, por muito que digam o contrário).

«Debater a Europa» não é um debate, é uma abstracção. É fazer de conta que os assuntos que se «debatem» têm impacto nas decisões mais importantes e mais determinantes da UE relativamente à vida dos povos ou à soberania dos Estados, e que elas não são sobretudo impostas pelo directório do grande capital, pelos grandes países dentro e fora da própria UE, como é o caso dos EUA.

«Debater a Europa» não é um debate, é uma manobra de diversão. É retirar importância à luta social e laboral dos trabalhadores e dos povos, iludindo-os de que é apenas e só numa eleição para um parlamento cujo único grande poder é o direito de veto – e mesmo este, partilhado –, que reside a salvação para todos os males que os afligem. Isto não significa que devamos voltar costas à sua realização e à necessidade da eleição de deputados. Aliás, só na perspectiva de que esta eleição é apenas uma pequena parte de uma luta muito maior, é que todos devemos não menosprezá-la nem abandoná-la à sorte e ao arbítrio dos partidos do sistema, mas participar nela marcando a diferença, votando ao lado daqueles que querem verdadeiramente contrariar a sua lógica e obter os ganhos possíveis para quem menos tem e menos pode.

3 Comments

  • mensagensnanett

    6 Junho, 2019 às

    Europeístas: uma coisa de fugir, urge o separatismo desse pessoal.
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    DIZER NÃO À ECONOMIA NEO-ESCLAVAGISTA: SEPARATISMO-50-50
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    Economia neo-esclavagista: a ajuda aos pobres deve ser efectuada por meio da degradação das condições da mão-de-obra servil… e não por meio da introdução da Taxa-Tobin.
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    Existe uma tripla de 'supporters' da economia neo-esclavagista:
    1- a alta finança;
    2- europeístas (e afins);
    3- migrantes que se consideram seres superiores no caos.
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    Mais:
    – Os «grupos rebeldes» (daesh e outros), não possuem fábricas de armamento… no entanto, máfias do armamento fornecem-lhes armas… para depois terem acesso a recursos naturais (petróleo, etc) ao desbarato, e para depois deslocarem refugiados para locais aonde existem investimentos interessados em mão-de-obra servil de baixo custo.
    Ora, em vez de chamar à responsabilidade aqueles países que estão a fornecer armas aos «grupos rebeldes», ou seja, os países aonde a máfia do armamento possui as suas fábricas… os europeístas fazem outra coisa: decretam sanções contra os países que não permitem a chegada de mão-de-obra servil ao desbarato (refugiados) aos investimentos interessados em tal.
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    Urge dizer à elite deste sistema o mesmo que foi dito aos construtores de caravelas esclavagistas: a não existência de mão-de-obra servil ao desbarato não vai ser o fim da economia… vão continuar a existir muitas oportunidades de negócio (nomeadamente introduzindo mais tecnologia)!
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    O MOVIMENTO-50-50:
    1- defende o investimento em tecnologia que permita aumentar a produtividade, para que dessa forma, seja possível aumentar os ordenados às pessoas;
    2- defende respeito pela Diversidade;
    3- defende respeito pela Justiça Social;
    4- defende respeito pelos Povos de Menor Pegada-Ecológica;
    5- defende um planeta aonde povos autóctones possam viver e prosperar ao seu ritmo;
    6- defende uma sociedade que premeie quem se esforce mais (socialismo, não obrigado)… mas que, todavia, no entanto… seja uma sociedade que respeite os Direitos da mão-de-obra servil.
    —» Todos Diferentes, Todos Iguais… isto é: todas as Identidades Autóctones devem possuir o Direito de ter o seu espaço no planeta –»» INCLUSIVE as de rendimento demográfico mais baixo, INCLUSIVE as economicamente menos rentáveis.
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    Nota: Os 'globalization-lovers', UE-lovers. smartphone-lovers (i.e., os indiferentes para com as questões políticas), etc, que fiquem na sua… desde que respeitem os Direitos dos outros… e vice-versa.
    -»»» blog http://separatismo–50–50.blogspot.com/

  • Jose

    25 Maio, 2019 às

    «o povo português (que nunca foi consultado ou referendado nessa matéria, por muito que digam o contrário).»

    Essa é já uma longa tradição: desde S.Mamede e da Restauração, à República, não se fizeram referendos!

    • Nunes

      27 Maio, 2019 às

      O José sofre de meningite aguda.

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