CDU, naturalmente.

Nacional

Domingo há eleições. As eleições não são nem o início nem o fim da democracia. Mas são um instrumento importante ao serviço das populações. No domingo, independentemente de todos os condicionalismos e manipulações, cada pessoa tem direito ao mesmíssimo número de votos: um. É precisamente essa condição de igualdade que torna os momentos eleitorais oportunidades para se fazerem rupturas com políticas comprovadamente ineficazes para a maioria, ainda que extraordinariamente proveitosas para uma minoria.

A campanha foi diversa e heterogénea. Houve quem nela apostasse no esclarecimento (e incluo neste grupo várias listas e partidos concorrentes) e houve também quem a enchesse de manobras de diversão, cortinas de fumo, efeitos especiais e embrulhadas vexantes para o regime democrático que toda a gente afirma defender (fundamentalmente a coligação PàF, o PS e a lista unipessoal de Marinho e Pinto).
A principal manobra de diversão destas legislativas 2015 é velha mas continua a pegar: tanto a coligação de direita como o PS procuraram transformar eleições legislativas em eleições governativas. Fizeram-no com o discurso de sempre (“o que está em causa é eleger o próximo governo”), reproduzido ad nausea por uma comunicação social reverente, pouco imaginativa, repetitiva e profundamente condicionada na sua liberdade. Aliás, os debates entre “candidatos a primeiro-ministro” nos três canais abertos em simultâneo e em três grandes rádios em simultâneo marcaram um alinhamento absoluto dos media nacionais com este visão redutora e mentirosa sobre o que está em causa nestas eleições.

Eleições legislativas servem para eleger 230 deputados à câmara legislativa portuguesa (a Assembleia da República). É precisamente por isso que as eleições se chamam legislativas, sendo os deputados eleitos por círculos eleitorais distritais/regionais. O novo governo é designado pelo presidente da República com base nos resultados eleitorais, considerada a composição da Assembleia da República (AR). É precisamente por isso que não é indiferente a força relativa da CDU no seio da AR. Uma CDU com 16 deputados não tem as mesmas possibilidades de influenciar a actividade legislativa da AR que poderá ter uma CDU com 18, 20 ou 25 eleitos. É também por isso que aquilo que escreveu a deputada do Isabel Moreira (“No dia 4, votar PCP ou votar BE, é votar na coligação de direita. Não é nem patriótico, nem de esquerda.”) [1] elevou o sectarismo e a alucinação do PS para um novo patamar.

A grande cortina de fumo destas legislativas 2015 foram as “sondagens” e as “tracking polls”, tentativa de inovação mediática que revelou de forma cristalina a incapacidade das televisões e das empresas de estudos de mercado que contratam para deixarem de interferir directa e objectivamente na campanha e nos resultados eleitorais. Amostras ridículas, métodos de recolha de informação obsoletos e variações de resultados absolutamente inexplicáveis e incoerentes. Em 2015 ficou claro para todos que as sondagens não têm outra função que não seja interferir intencionalmente na campanha, em especial reforçando a manobra de diversão anteriormente referida.

Os efeitos especiais nestas legislativas 2015 marcaram presença sobretudo nas campanhas da coligação PàF e do PS. Em Braga, por exemplo, a PàF anunciou a presença de 3000 pessoas num auditório com capacidade para 1204 [2]. Pela mesma altura, o PS usou as suas juntas de freguesia na área de Lisboa para levar idosos a comícios acerca dos quais conheciam… nada [3]. Atenção: não me refiro à utilização de autocarros para levar pessoas do local A ao local B. O que o PS fez foi usar autarquias para tentar encher salas de gente que não é sequer capaz de perceber ao que vai.

No dia 4 os portugueses elegerão uma nova AR. A sua composição será determinante em vários domínios e parece-me cada vez mais óbvio que é imperioso alterar de forma significativa um panorama em que PS, PSD e CDS dominam mais de 70% dos lugares, com todo o poder legislativo que essa dominação lhes permite.

Seis revisões constitucionais cozinhadas e aprovadas em conjunto. Adesão à CEE e ao Euro, nas costas dos portugueses. Aprovação do Tratado Orçamental, apoio a guerras de agressão, envolvimento de Portugal nas aventuras bélicas da NATO e dos Estados Unidos. PS, PSD e CDS têm aprovado sempre em conjunto tudo aquilo que é estruturante na vida do país. Com as consequências à vista de todos.

É preciso reforçar quem pensa e sobretudo quem faz diferente.
O meu voto vai para a CDU, naturalmente. E vai para a CDU por duas razões fundamentais: porque me identifico com o seu programa e com as suas propostas; porque a CDU não usa o meu voto para depois de terminadas as eleições se esquecer do que disse que faria. Entre 2011 e 2015 todos (sublinho, todos) os compromissos da CDU com aqueles que nela votaram foram cumpridos. É por isso que não me queixo de ter sido enganado, como acontece com muitos. Pelo contrário: o compromisso que a CDU assumiu comigo (comigo, eleitor seu) foi integralmente respeitado. Ponto.

Que cada um vote de acordo com a sua consciência, para depois poder afirmar aquilo que desde o meus 18 anos afirmo sem pingo de hipocrisia ou instinto de auto-defesa: a minha consciência esteve, está e estará totalmente tranquila.

Notas:
[1] “Isabel Moreira, a ambidestra“, Manifesto74, 01.10.2015.
[2] “Mentir, mentir, mentir“, Der Terrorist, 27.09.2015
[3] “Vergonha alheia“, Blogue de Pedro Rolo Duarte, 26.09.2015.