“Europa”

Nacional

As “eleições europeias” são desde sempre marcadas por um equívoco enorme, uma manipulação evidente e significativa que no entanto nunca vi referida por aí: as eleições não são “europeias”, são apenas e tão só para eleição dos deputados no Parlamento Europeu. Nem todos os países que integram a Europa são membros da “União Europeia”, nem todos os assuntos da “União” dizem respeito a todos os países do continente. A Europa não nasceu com a “União “Europeia” nem morrerá com esta. As eleições não têm portanto âmbito continental.

Se as “eleições europeias” não se realizassem em Portugal, o nosso país não deixaria de fazer parte da Europa, muito menos deixaria de ser o mais ocidental [em sentido puramente geográfico, entenda-se] país do continente. As eleições para o Parlamento Europeu não deveriam ser comummente designadas por “eleições europeias” porque “europeias” é coisa que não são.

Da mesma forma é de evitar a expressão “discutir a Europa” porque o que verdadeiramente está em causa na campanha eleitoral é, quanto muito, “discutir a União Europeia”. Se Portugal um dia decidir abandonar o marco-europeu/Euro e/ou a União Europeia, ou se a isso for obrigado o país por vontade das potências da “União”, não deixará de poder “discutir a Europa”, em sentido lato, já que esta não começa nem termina em Berlim (perdão, em “Bruxelas”).

A semântica pré-eleitoral e eleitoral que rodeia as eleições para o Parlamento Europeu condiciona o olhar das pessoas comuns sobre o assunto, confunde Europa com “União Europeia”, fecha-nos irremediavelmente no interior de um bloco político-económico-diplomático-militar que não é a Europa mas apenas uma expressão de uma certa ideia federal que pretende submeter a Europa ao antigo projecto de dominação germânica – mas também francesa e inglesa – sobre os recursos, os mercados e os povos do continente.