Louçã. Fica tudo dito.

Internacional

No dia 12 de Julho, o BE apresentou na Assembleia da República um voto de condenação e repúdio pela discriminação contra a comunidade cigana na Freguesia da Cabeça Gorda. De nada valeu que, pela altura da apresentação do voto, já a Freguesia da Cabeça Gorda tivesse esclarecido que o enterro do homem da comunidade cigana não se podia realizar no cemitério local pelo simples motivo de que existia um regulamento que o impedia, dado o facto de ali não ter pertença, nem morada passada ou presente.

Ora, o BE sabia que a impossibilidade de fazer o enterro no cemitério da Cabeça Gorda se devia, portanto, a um conjunto de factores, dos quais nenhum se relacionava com a etnia do cidadão. Ainda assim, pensou que seria mais um daqueles casos em que vale a pena ir a jogo contra o PCP – já que a autarquia da Cabeça Gorda é gerida pela CDU – e parece que estou a ver o Sr. Louçã lá na sua caverna a mandar umas linhas de intervenção para o Grupo Parlamentar que será sempre seu e a ponderar que já que o terreno é inclinado a seu favor, até a mentira pode ser recurso. Isto porque, para o BE, nas lutas que abre contra o PCP, o caminho está sempre facilitado. O BE sabe bem que a comunicação social tomará sempre o seu partido, o que é natural e não merece queixume mas sim denúncia, pelo simples motivo de que os óculos com que ambos olham para a sociedade são os mesmos. BE e comunicação social dominante usam os óculos da burguesia, da classe dominante, para descrever, interpretar e agir sobre os fenómenos. Falam a mesma língua e movem-se no seio da mesma classe, servindo-a portanto.

Ficaram o PCP e o PEV sozinhos na Assembleia da República a explicar a situação da freguesia da Cabeça Gorda, enquanto que os jornais e o BE se deliciavam com os títulos: “PCP vota contra a condenação da discriminação da comunidade cigana.”

Uns tempos antes, também pela mão do BE, todos estaremos recordados, chega ao Parlamento um voto de condenação pela existência de Campos de Concentração para Homossexuais na Tchetchénia, Rússia. De pouco importou se os campos de concentração de facto existiam. O PCP absteve-se num voto baseado apenas numa reportagem, sem testemunhos, sem confirmação absolutamente nenhuma. Mas o facebook é tramado, as redes sociais não perdoam, e portanto, ao PCP, na cabeça dos senhores Louçãs deste mundo, mais não podia fazer senão votar a favor. Uma vez mais, ao BE tanto importou se o campo de concentração existia ou não (não existia nenhum campo de concentração), o que importava era encostar o PCP a uma posição homofóbica que o BE construiu com a ajuda sempre pronta dos jornais e comentadores de serviço. Ora, para que não nos esqueçamos, o PCP fez nessa altura uma declaração de voto a associar-se à condenação de toda e qualquer espécie de perseguição a homossexuais, demarcando-se contudo do termo “campo de concentração” por não haver qualquer indício de que o Estado, na Tchetchénia estivesse a promover um programa de extermínio físico de homossexuais, que é o que “campo de concentração” representa. Se havia perseguições e torturas, praticadas por milícias ou forças policiais, isso devia ser condenado, mas isso não podia justificar que a Assembleia da República condenasse uma coisa que não existe.

Para o BE e para a comunicação social, a questão deixou de ser se o campo de concentração existe ou não, passou a ser o voto do PCP, a abstenção inaceitável do PCP num voto contra campos de concentração de homossexuais. Que importa se existem?

Esta é uma táctica habitual do BE. Sabendo que conta com o escudo da comunicação social, todas as guerras que compre com o PCP são à partida travadas em contexto de vantagem. O oposto é verdade para o PCP. O PCP sabe que todas as guerras que comprar com o BE serão travadas num contexto de desvantagem. A hegemonia cultural e a opinião dominante são tramadas e nenhuma delas é benevolente para com esse corpo estranho ao regime burguês que é o pensamento materialista, o pensamento dos comunistas.

Essa táctica do BE, intrinsecamente trotskyista, tem um ideólogo: Louçã. O mesmo que ontem mesmo colocou no seu facebook um documento falso sobre um suposto suborno do Governo Angolano a estudantes para que votassem no candidato do MPLA. Parece que o estou a ver todo contente a receber a falsificação de uma fonte qualquer e assanhado para espetar na sua página de facebook mais uma inequívoca prova de que Angola é uma ditadura e que o raio dos pretos vivem num regime corrupto que precisava de umas liçõezinhas da democracia ocidental. Quem sabe até um branco europeu tipo Luaty Beirão, com financiamento Soros, para pôr aquilo na linha?

Louçã não confirmou a veracidade do documento mas isso não demorou até que se tornasse evidente.O “documento” que Louçã anunciou como a prova irrefutável da inexistência de democracia em Angola não passava de uma má falsificação. Que Louçã use uma coisa destas não me admira. E a sorte é que estamos em Agosto, caso contrário, certamente o Dr, Conselheiro de Estado, vendedor de opiniões mastigadas, digníssimo senador da República, teria enviado uma cópia do “documento” para que o seu Grupo Parlamentar apresentasse o devido voto de condenação pelo suborno de estudantes em Angola. Que importa se o documento é falso? Absolutamente nada. Vejamos: a única notícia online que se encontra sobre o post do facebook de Louçã é do jornal Sol, que a divulga como uma acusação, sem dizer em nenhum momento que é baseada em documentos falsificados. Ou seja, Louçã pode dizer o que bem lhe apetecer, porque ninguém lhe cobra absolutamente nada.

Quem cobra ao BE os votos a favor das intervenções na Líbia, a passividade e cumplicidade com o imperialismo no ataque à Síria? Quem cobra ao BE o seu alinhamento com o imperialismo norte-americano e o ataque à revolução bolivariana? Quem cobra ao BE a sua hesitação em escolher um lado na luta pelo poder no Brasil? O BE está sempre a ver para que lado é mais fácil virar-se, em função da hegemonia, da opinião dominante do momento e não em função de pensamento próprio ou princípios. “Princípios” e “trotskyismo” na mesma frase é, por si só, um exercício de imaginação que só podia ser vencido por um documento falsificado. E mesmo nesse caso, eu duvidaria do emitente.

Não se trata de atacar Louçã, como ele não hesita em fazer a qualquer comunista, nem tampouco atacar o BE, porque sabemos que nos está vedado à partida esse direito sob pena de sermos imediatamente rotulados de sectários. Trata-se apenas de expor o carácter de quem mais não vê senão a sua ideia e que para a difundir está disposto a usar a mentira e a falsificação e de denunciar o branqueamento e a benevolência que a comunicação social tem para com os seus filhos.

4 Comments

  • Nunes

    25 Agosto, 2017 às

    Louçã esteve tão pronto a condenar a ETA no atentado de Madrid, em 11 de Março de 2004. Já não é a primeira vez que comete asneira.

  • Nunes

    25 Agosto, 2017 às

    «BE e comunicação social dominante usam os óculos da burguesia, da classe dominante, para descrever, interpretar e agir sobre os fenómenos. Falam a mesma língua e movem-se no seio da mesma classe, servindo-a portanto.»

    Aprovado! É isto mesmo.

  • MM

    24 Agosto, 2017 às

    Na mouche

  • Refer&ncia

    24 Agosto, 2017 às

    1. Acertam no alvo do loicinha. 2. Falham redondamente na senha anti-trotskysta. Um conselho, leiam "O Homem que gostava de cães" um romance bastante histórico sobre a perseguição de um Homem por um maluco, multipliquem-na por uns largos milhares e compreenderão melhor como é que depois de morrer o maluco o melhor que se arranjou para o substituir foi um careca que batia com o sapato na tribuna. Não, os métodos do loicinha não são trotskystas são estalinistas 😉

    https://referenciasemmais.blogspot.pt/2016/12/deixo-aqui-referencia-derrota-da-urss-e.html

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