Autor: Miguel Tiago

O governo da colónia faz parte do império

Manifestação nacional CGTP-IN, 18 de Março de 2023. TIAGO PETINGA/LUSA

No mesmo dia em que os trabalhadores portugueses respondiam à chamada da CGTP-IN para a realização de um dia nacional de luta “Aumentar salários | Garantir direitos | Contra o aumento do custo e vida – Pelo direito à saúde e à habitação”, Lagarde anuncia que as taxas de juro do BCE vão continuar a subir, sendo a próxima subida já em Julho.

Terminou aliás nesse dia, 28 de junho, o encontro Fórum BCE, que se realizou em Portugal, supostamente para determinar as grandes causas da inflação e as respostas adequadas, juntando governadores dos bancos centrais (que é como quem diz, funcionários administrtaivos do BCE), decisores políticos (que é como quem diz governantes eleitos pelos povos mas ao serviço dos grandes grupos económicos) e “especialistas” no assunto.

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Nós sabemos. Mas eles também.

Da inflação temporária ao perigo de uma recessão global foi um tirinho que muitos não esperavam. António Costa anunciava no final de 2021, juntamente com Centeno, que a inflação não podia motivar um aumento salarial, porque era “um fenómeno temporário” . Aliás, não apenas a inflação era um fenómeno temporário, como o aumento dos salários poderia torná-la permanente, diziam como justificação para o tremendo corte salarial que impôs o governo de maioria absoluta do PS aos trabalhadores da função pública que, confrontados com uma inflação de 7 a 8% (acumulada), tiveram um aumento salarial de 0,9%. Ou seja, numa ordem de grandeza abaixo dos valores da inflação.

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PCP fora, dia santo para o patrão.

Enquanto o senhor presidente abençoa grávidas na rua, promulga com ânimo o Orçamento do Estado para 2022 apresentado pelo Governo de maioria absoluta do PS, que obriga as grávidas a esperar por serviços de obstetrícia na fila ou a ir ao privado encher a conta dos accionistas que fazem da saúde um negócio.

Não faz ainda muito tempo que o PCP foi questionado como em interrogatório público sobre o seu “oportunismo”, “falta de sentido de estado”, “birra”, por ter decidido rejeitar o orçamento do estado que a maioria relativa do PS apresentava sem qualquer margem para manobrar. Mas, tal como há dias li, há uma coisa que vem sempre dar razão ao PCP: o tempo.

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A “esquerda” pró-imperialista

“As ideias da classe dominante são, a todo o tempo, as ideias dominantes. Isto é, a classe que é a força material dominante da sociedade é ao mesmo tempo a sua força intelectual dominante”, K. Marx in A ideologia Alemã, 1845
Claro que apenas uma leitura de todo o capítulo “Oposição das perspectivas materialista e idealista” pode ajudar-nos a ter uma perfeita compreensão da extensão do significado desta afirmação de Marx, bem como a compreender as suas implicações históricas e a sua abordagem dialéctica, mas deixemos isso para o leitor mais afoito da obra e tentemos partir daqui para uma abordagem do panorama político e ideológico actual, numa tentativa de aprofundar uma descrição da “esquerda de direita” que ao longo do nosso tempo sempre cumpre com afinco o papel que o dono lhe destina.

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Cuba resiste. Colonialismo ainda existe.

A 1 de Janeiro de 1959 triunfara o movimento 26 de Julho em Cuba, substituindo o ditador Fulgêncio Batista – apoiado pelos Estados Unidos da América – pelo poder popular que viria a constituir, mais tarde, como força dirigente organizada o Partido Comunista de Cuba. Em Março do mesmo ano, os EUA, em resposta à ousadia do povo cubano, decide um embargo, impedindo a venda de armas a Cuba. Com o avanço da reforma agrária, os grandes proprietários norte-americanos perdem as terras que haviam usurpado na ilha caribenha e onde escravizavam o povo local, como fizeram praticamente em todo o Caribe. Ao mesmo tempo, perdem o poder económico na ilha, através das nacionalizações levadas a cabo pela nova democracia que se consolidava com o apoio da União Soviética.

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Basta de privilégios!

As importações no que à política diz respeito dão geralmente resultados enviesados. A adaptação mecânica de conceitos, por mais moda que se tenham tornado no contexto em que foram formados, nem sempre se adequa a um contexto mais geral de forma directa. A acrescentar a essa necessidade de questionar o esquematismo do uso de conceitos, coloca-se uma questão ainda mais fundamental que se relaciona com o significado do conceito e a sua utilidade para cada fim. Por exemplo, para simplificar: os conceitos de “classe baixa, média e alta” são perfeitamente passíveis de serem definidos em função de um nível de rendimento mas praticamente inúteis para qualquer aplicação política transformadora. Já o conceito de “classe social”, por exemplo, é igualmente passível de ser definido – até de forma mais perene e absoluta – e é indispensável para uma aplicação política transformadora.

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Great Reset ou Grande Salto em Frente?

O great reset, como lhe chamam os actuais teóricos e decisores do capitalismo global, é apresentado como a saída para a encruzilhada em que a humanidade se encontra perante as suas supostas incapacidades e perante as limitações do planeta em que vive. Até David Attenborough faz documentários para a Netflix em que nos alerta para os problemas da devastação da biodiversidade, relacionando-a com o número de seres humanos numa óptica verdadeiramente malthusiana, a juntar a toda a lavagem que sofremos diariamente, desde a escola à comunicação social em torno de erradas soluções para problemas reais.

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A evolução da composição orgânica do capital e a pandemia

O capital fixo, a máquina, não cria riqueza económica se não for operada por uma pessoa. Só o tempo de trabalho roubado a um trabalhador, a que chamamos “exploração”, pode criar riqueza do ponto de vista do valor de troca, valor especialmente essencial para o funcionamento do capitalismo e do seu sistema de acumulação.

Tendo em conta que, para alterar o valor de troca, é necessária a transformação de uma matéria-prima em mercadoria por um processo de trabalho e que o valor de troca é definido pelo trabalho socialmente necessário para a transformação da matéria-prima em mercadoria, a substituição do trabalho humano por capital (substituição de ser humano por máquina) não cria riqueza.

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