PCP fora, dia santo para o patrão.

Nacional

Enquanto o senhor presidente abençoa grávidas na rua, promulga com ânimo o Orçamento do Estado para 2022 apresentado pelo Governo de maioria absoluta do PS, que obriga as grávidas a esperar por serviços de obstetrícia na fila ou a ir ao privado encher a conta dos accionistas que fazem da saúde um negócio.

Não faz ainda muito tempo que o PCP foi questionado como em interrogatório público sobre o seu “oportunismo”, “falta de sentido de estado”, “birra”, por ter decidido rejeitar o orçamento do estado que a maioria relativa do PS apresentava sem qualquer margem para manobrar. Mas, tal como há dias li, há uma coisa que vem sempre dar razão ao PCP: o tempo.

Se em Outubro de 2021 se levantava um coro dos habituais anticomunistas, por um lado, e de incompreensões menos mal intencionadas, por outro, já em Junho de 2022, esses parecem esquecer, agora perante a realidade da política do Orçamento do Estado e da maioria absoluta do PS, que afinal de contas, era justo, justificado, necessário e inevitável, o voto contra do Partido Comunista Português naquele documento.

Eis o que, parafraseando e sintetizando, sistematicamente e em todas as oportunidades que o PCP teve, se dizia sobre os motivos do voto contra: o orçamento não contém uma única das respostas necessárias para resolver problemas candentes e urgentes do Serviço Nacional de Saúde; o orçamento não responde à questão da habitação; o orçamento não lança um caminho de valorização dos salários em geral, em particular do salário mínimo nacional; o orçamento não comporta a necessária valorização da política cultural em nenhuma das suas dimensões e o orçamento não aponta nenhuma solução estrutural para sectores fundamentais de serviços públicos, como os transportes, combustíveis e energia.

Em suma, em Outubro de 2021, sob a intensa chuva dos habituais críticos e sob a suspeição de oportunismo e tacticismo político lançada de quadrantes diversos, o PCP anunciava como motivos do seu chumbo do orçamento precisamente os aspectos mais negativos e que hoje se sentem na vida dos portugueses com uma intensidade particularmente aguda.

Enquanto Rebelo de Sousa entretém a corte da comunicação social, Costa apela aos privados para aumentos de 20%, enquanto nega mais de 0,9% de aumento para a função pública, único aumento que realmente pode controlar. Enquanto Rebelo de Sousa se atira com espalhafato confrangedor para os braços de Xanana, fingindo defender a amizade entre os povos, o Governo que lhe saiu do bojo apoia a guerra em pleno continente euro-asiático e o aumento dos gastos com militarismo e belicismo.

Enquanto Costa se vangloria com os dados de Centeno sobre o crescimento do PIB revisto para 6,3%, nós sentimos a desvalorização do euro em mais de 7% perante a generalidade das mercadorias, com uma inflação acima desse valor e com aumentos de mais de 22% nos combustíveis.

Hoje, com os pouco respirados seis meses que nos separam das eleições legislativas e da constituição da maioria absoluta apadrinhada por Marcelo, é já possível compreender com mais clareza os motivos e a razão que levaram o PCP a afirmar sem tibieza o voto contra.

Imaginemos o que diriam agora os papagaios comentadores se o PCP tivesse aprovado este Orçamento do Estado.
Não é preciso muito.
“Como pode o PCP ter aprovado um orçamento que condena ao encerramento serviços de saúde inteiros?”
“Como pode o PCP compactuar com aumentos de 0,9% na função pública, perante uma inflação de 7%?”
“Como pode o PCP viabilizar um orçamento que permite o aumento diário dos combustíveis?”
“Como pode o PCP viabilizar um orçamento que não assegura o regular funcionamento da escola pública e da cultura?”

E do outro lado:
“O PCP viabiliza um governo da política de direita.”
“O PCP está vendido ao parlamentarismo.”
“O PCP está cativo do sentido de estado burguês.”
Entre um sem fim de outras possibilidades.

Também não é difícil relembrar que os mesmos que acusaram o PCP de chumbar o orçamento por mero tacticismo calam quando agora podiam perfeitamente, e apenas dizendo a verdade, afirmar: “o orçamento era tão mau que o PCP arriscou um provável mau resultado eleitoral para não apoiar um orçamento que não responde aos problemas actuais.”

A comunicação social tem utilizado a guerra na Ucrânia para esconder as posições dos comunistas portugueses e com isso avança na campanha de silenciamento e deturpação das posições e propostas do PCP. A pretexto de uma posição do PCP sobre a guerra na Ucrânia que a comunicação social decidiu falsificar e que não existe, escondem-se as posições do PCP sobre as questões fundamentais do dia-a-dia dos trabalhadores, dos jovens e dos reformados. E não virá tão cedo o dia em que a comunicação social seja verdadeiro eco da realidade em vez de uma falsificadora de realidades, pelo que nos resta fazer ecoar por essas fábricas, escolas, empresas e ruas afora: esta política que vivemos hoje é a que o PCP rejeitou em 2021.

Este orçamento é o orçamento que o PCP chumbou.

Como o PCP sempre disse, o PS nunca mudou, o que mudou foi apenas a circunstância em que exerceu o poder.

Este Governo é o que resultou da imensa chantagem sobre os eleitores e do alto patrocínio do Presidente da República e é o PS livre dos constrangimentos de que tanto se queixavam os patrões e os partidos à direita do PS. Este é o Governo livre da “extrema-esquerda”, livre de limites impostos por uma presença mais decisiva do PCP na Assembleia da República. Este é o Governo deles, dos que te diziam que o problema era a esquerda parlamentar e dos que lucram com os hospitais públicos encerrados, com a escola pública sem professores, com a banca desregulada, com o mercado livre dos combustíveis e da energia, com as privatizações de tudo o que ainda se puder vender.

Este é o Governo da IL, do PSD, do PS, do Livre e do PAN e até parece que foi o CH3G4 quem mais propostas de alteração do PS aprovou. Este é o Governo de quem domina a economia, finalmente sem ter de prestar contas a comunistas. Este é o Governo deles todos, o resto é um concurso de popularidade para escolher o títere de serviço. Nesse pódio de melhor fantoche nunca entrará o PCP.

2 Comments

  • Maria José

    1 Julho, 2022 às

    Tudo é de esperar do PS não espanta pois o que se segue, não foi não. é um partido fiavel, eis que este povo inteligente lhes coloca no colo a maioria, não tem de se queixar, 48 depoide Abril continuam a votar em “clubes”, só tem de se queixar de si próprios!

  • lucia silva

    21 Junho, 2022 às

    Sem comentários , 👏👏👏👏👏👏

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