André Ventura, uma das vozes da extrema-direita parlamentar, tem repetidamente referido a sessão solene a realizar na Assembleia da República no próximo dia 25 de Abril como uma “festa”, ridicularizando-a e procurando criar em quem o lê e ouve a ideia de uma espécie de arraial com bebidas à discrição na AR durante um período de confinamento decretado pela própria Assembleia, no quadro do chamado “Estado de Emergência”.
Ao contrário do que refere Ventura, a sessão solene não é “uma festa”, como todas as sessões que naquele espaço assinalaram o 25 de Abril desde a Revolução bem demonstram. Trata-se antes de um momento em que um órgão de soberania e cada uma das forças políticas ali representadas assinalam a mais importante data do Século XX português, e uma das mais relevantes da nossa história colectiva, posicionando-se à luz da visão que têm do significado do dia 25 de Abril de 1974 sobre os temas mais prementes do presente, aquilo que a Revolução deixou para trás e, sobretudo, aquilo que trouxe para o país ao longo destes 46 anos (quase meio-século) de democracia.
Tanto quanto se sabe, a sessão solene de 2020 sofrerá alterações face a sessões semelhantes realizados no passado, obedecendo a regras de defesa da saúde pública que aliás estão em vigor num parlamento que não fechou nem deixou de funcionar.
Será todavia interessante ouvir Ventura, se o deputado do “Chega!” decidir aparecer “na festa” que assinala o dia que é a antítese de tudo aquilo que representa, apresentar a sua visão sobre Abril, o que significou e significa num país que tem nos serviços públicos elementos estruturantes da sua democracia. Na saúde, desde logo, que ao contrário do que defende explicitamente o “Programa Político” do “Chega!”, tem no Estado aquilo a que Ventura chama “um prestador de bens e serviços”.
Poderá Ventura aproveitar o púlpito para por uma vez explicar políticas concretas do seu programa. Por exemplo, por que razão defender que a ideia de “concentrar a actuação do Estado, neste caso por intermédio do Ministério da Saúde numa função essencialmente de arbitragem, de regulação e de inspecção”. Ou quais seriam, na sua perspectiva, as consequências de um cenário desse género no combate à pandemia e na prestação de cuidados de saúde.
Pode também explicar aos milhares de trabalhadores que estão a perder o seu emprego e a ver drasticamente reduzidos os seus rendimentos por que razão o programa político do “Chega!” defende “maior flexibilização da legislação laboral a vários níveis”, “a liberalização das entradas e saídas do mercado de trabalho” e a “redução dos custos de empregabilidade”, nomeadamente no que se refere a “salários, restrições legais, horários de trabalho rígidos, difícil acesso a informação, contribuições para a segurança social e custos de despedimento”.
“Festa” seria ouvir Ventura e o “Chega!” falar do que quer para o país. É que não basta derramar indignação fingida e afunilar o discurso na zona de conforto da crónica criminal e do racismo mais ou menos disfarçado (mais menos que mais, como bem sabemos).
Ventura não gosta da Liberdade – pelo menos da Liberdade de Abril – mas já era tempo de se libertar de constrangimentos e de falar pelo menos uma vez do seu programa ultraliberal que faz corar de vergonha as propostas mais ou menos anedóticas da IL, como o “Salário Mínimo Municipal”. Estou absolutamente certo de que não ficará sem resposta, dentro e fora da AR.
18 Abril, 2020 às
Olá , estou acompanhando este site e estou adorando seus artigos são muito bons mesmo parabéns.
Resultado da tele sena rapa tudo
18 Abril, 2020 às
«mais ou menos anedóticas da IL, como o “Salário Mínimo Municipal”
Não sabia dessa!
Pode o autor dizer se a considera das mais ou das menos anedóticas?
17 Abril, 2020 às
André Ventura é um bimbo.