Não há futuro para traidores

Nacional

Um orçamento feito à medida de quem domina a economia, para que a domine ainda mais. O mesmo orçamento que tira em salários em pensões mais de 2 200 milhões de euros, disponibiliza para os banqueiros uma verba de 24 000 milhões em garantias e 6 400 em fundos para recapitalização. O mesmo Orçamento que corta 700 milhões em Educação, 780 milhões em Saúde, 20 milhões em Cultura, 10 milhões em rendimentos sociais de inserção, entrega de mão beijada à agiotagem internacional 7 500 milhões só em juros da dívida, sobre a qual paga mais de 20 000 milhões anualmente em amortizações de capital.
O mesmo orçamento que cobra aos trabalhadores cerca de três vezes mais do que cobra ao patronato em impostos directos, apesar de o patronato concentrar mais riqueza que a soma de todos os trabalhadores, é o orçamento que alarga os benefícios fiscais aos grandes grupos económicos.

É um orçamento ao serviço de quem o Governo serve, ao serviço daqueles a quem, há mais de 38 anos, PS, PSD e CDS prestam vassalagem.

Os deputados do PS votarão contra, apesar de não votarem a favor do fim dos cortes nos salários. Votarão contra apesar de não votarem a favor do fim das PPP’s, ou da renegociação da dívida. O PS votará contra o orçamento apesar de não votar pelo fim das privatizações. Enfim, votará contra apenas porque não pode votar a favor, apesar de continuar a apoiar a intervenção da troika em Portugal.

Os deputados do PSD e do CDS votarão a favor porque o Orçamento traduz o que sempre quiseram para Portugal, para um Portugal que começaram a desfigurar com o golpe de 25 de Novembro de 1975. Traduz um país nas mãos dos monopólios e grandes grupos económicos, um país esventrado pela exploração e exaurido pela sobre-acumulação de riqueza. Este é orçamento da desgraça, um novo e rude golpe constitucional, um passo mais no longo processo de traição nacional.

Os comunistas, dentro e fora do parlamento, estarão em luta, contra Novembro e por Abril. Mas não estarão sozinhos. Estão, aliás, cada vez menos sós.

Amanhã de manhã, quando estiverem a votar o orçamento, os deputados do PSD e do CDS – cada um deles – vai estar a destruir milhares de vidas, a empurrar para o desespero, para o desemprego, para a miséria, milhares de portugueses. Cada um deles vai estar a decidir que os recursos do Estado servirão para financiar lucros de poderosos e que para isso serão retirados aos velhos, aos pensionistas, aos deficientes, aos jovens que precisam de apoio. Cada um deles está a decidir activa e deliberadamente que a educação, a saúde e a cultura serão comprimidas até a à quase destruição. Cada um dos deputados que vota favoravelmente este assalto à pátria será responsável pelas mortes, pelos suicídios, pela fome das crianças, pelo isolamento dos idosos, pelos despejos, pela emigração, pelo abandono escolar, pelo desespero de famílias inteiras, pela destruição do meio ambiente, pelo roubo às empresas públicas. Cada um deles e os seus partidos de traição nacional.

Cada um desses homens e mulheres eleito pelos portugueses estará a trair a quase totalidade de quem os elegeu e a favorecer apenas os que lhes pagaram as campanhas eleitorais, a favorecer os seus futuros, os seus lugares nas administrações de empresas ou nas consultadorias de bancos e semelhantes instituições parasitárias.

Amanhã, os portugueses lá fora e alguns, infelizmente poucos, dentro dessa casa da retórica, deixarão claro que não haverá futuro para traidores, porque o futuro não é suficientemente grande para a insídia e a felicidade. A luta é uma opção. Tal como o é a vida. E neste caso, a segunda depende da primeira.