Quem conhece o Campo dos Mártires da Pátria, em Lisboa, sabe que há lá um café-restaurante chamado “Coreto”. Tem duas zonas de esplanada e é dos sítios mais sossegados do centro da cidade. A taxa de ocupação é bastante alta, e por lá param moradores, utentes, visitantes dos hospitais da zona e turistas. Chegam até a acontecer pequenas reuniões de trabalho. Para além disto tudo, o serviço é bastante simpático e eficaz e os preços muito acessíveis – café a 60 cêntimos, por exemplo. Que mais se quer num estabelecimento destes? Um estabelecimento que serve a todos.
Pois é, mas mesmo com toda esta clientela e virtudes, o “Coreto” vai fechar. E porquê? Porque a Junta de Freguesia de Arroios e a sua presidente, Margarida Martins, assim decidiram. Uma das competências que passou da Câmara Municipal de Lisboa para a JFA foi a gestão da concessão daquele espaço. O estabelecimento está concessionado há 25 anos aos actuais gestores e é-lhes agora vedada a possibilidade de continuarem a gerir o espaço, sem sequer lhes ser permitido que apresentem um projecto com futuro.
Vamos então a alguns factos para que a situação se esclareça por ela própria.
O contrato de concessão termina, ao que sei, no final deste mês de Novembro. Ora, como o contrato prevê que os actuais gestores tenham direito de preferência sobre o espaço, seria natural que houvesse algum tipo de conversa entre estes e a JFA. Mas a JFA e a sua presidente, não responderam a um único contacto, repito, não responderam, nada, zero.
Sendo assim, o “Coreto” fecha no final do mês, e quais as consequências?
– o espaço fica fechado e ao abandono até que seja decidida a nova concessão;
– as e os trabalhadores do café vão para o desemprego, penso que 4 pessoas. Irão usufruir, com todo o direito, do subsídio de desemprego. Condição efectivamente criada pela JFA que pelos vistos esqueceu o desígnio nacional de baixar o desemprego e não aumentar o números de pessoas a viver de subsídios…;
– como o contrato de concessão do espaço pressupõe que os actuais gestores tenham direito de preferência e como a JFA e a sua presidente estão-se literalmente a marimbar para isso, muito legítima e naturalmente os actuais gestores terão direito a uma indemnização monetária por quebra de contrato. E quem paga essa indemnização? Pois, nós, não é? E quer-me parecer que não serão umas centenas de trocos… Mais um desígnio nacional esquecido, o de combater e baixar a dívida pública.
Desde que assumiu a liderança do executivo da JFA, Margarida Martins tem usado e abusado do cargo e do poder que ele lhe dá. Um dia faço uma lista de todos os casos e de todas as pessoas que são afectadas por um executivo que, deliberadamente, hostiliza uma das zonas da sua jurisdição – a antiga Junta da Pena. Mas nem tudo tem tido sido mau, porque apesar de uma data de serviços sociais terem desaparecido ou sido deslocalizados, a imagem gráfica da JFA estava nas ruas na semana seguinte à tomada de posse. Como se sabe, uma junta de freguesia não é nada sem um bom, moderno e caro logotipo…
Margarida Martins, a pouco e pouco, abraça os seus fregueses, um abraço de urso meticuloso e extremamente eficaz. O plano é criar para esta área da cidade uma zona exclusiva para futuros clientes habituais. Para isso, é preciso que os actuais clientes vão ficando cada vez mais…frágeis e que se vá decidindo quem por aqui pode morar ou ter negócios.
Margarida Martins vai provando que aqueles que defendem que a solução para o país são os independentes, em listas próprias ou em listas partidárias, deveriam estar mais atentos à forma como esses supostos independentes tratam a democracia durante os seus mandatos.
Dando uma de pitonisa, é-me fácil vaticinar que mais cedo do que tarde, o espaço do “Coreto” abrirá portas a uma conhecida cadeia de quiosques que vende limonada. Ou isto ou o gourmet a invadir os bolsos de quem quiser continuar a frequentar uma das mais apetecíveis esplanadas da cidade. Afinal, e em breve, os hotéis de charme irão rodear as redondezas, há que uniformizar a área dos Mártires da Pátria…os mártires da pátria, os mártires…
* Autor Convidado
André Albuquerque