Oportunismo e mentira – a social democracia que lidera o Bloco de Esquerda

Nacional

Foram muitos os anos em que, por respeito institucional, político e atendendo à enorme ofensiva em curso contra os trabalhadores, nada se dizia contra o Bloco de Esquerda e as suas dezenas de pulhices.

Coisas como cópias integrais de projectos de lei do PCP, ataques sistemáticos às posições e mesmo a membros do PCP, aproveitamentos do anti-comunismo latente para cavalgar uma onda de pseudo-modernismo, enfim. Desonestidade intelectual ao rubro e comportamentos que não se admitem do ponto de vista ético e político mas que apenas revelavam o infantilismo e impreparação de muitos (que até já nem lá estão) e o seu ódio ao PCP.

Não me esqueço mesmo de uma vez, uma cabeça de lista do Bloco em Aveiro ter afirmado, no fim de umas eleições que levaram a direita ao poder: «Nem com a Ilda Figueiredo têm mais votos do que nós».

Diz muito, certo?

Mas ultimamente, o ziguezague do Bloco mostra essencialmente que perderam a vergonha, de uma vez por todas. Tratando os trabalhadores como os que estão «por baixo» (com o seu olhar que nunca foi senão de cima), e que farão coisas «por eles» (como se os trabalhadores não tivessem consciência de classe e capacidade de organização e acção). Não é à toa que nos sindicatos não existem quase dirigentes ou associados do Bloco – a sua grande maioria de apoio pertence à classe burguesa que não esconde – não consegue  esconder – o seu ódio ao movimento sindical.

Não contentes, fazem o que têm feito ultimamente: de cada vez que o PCP denuncia a sua incoerência e a sua inconsequência, parecem meninos birrentos e vai de campanha contra o PCP. De bicos de pés como se dissessem ao PS «escolhe-me, escolhe-me eu é que quero ser governo». Pois vão, à vontade. Nada de diferente se esperaria.

Seria, sim, de imaginar que o Bloco já tivesse percebido que há coisas que não se referendam: como direitos humanos. E ficar na União Europeia, ou sair, é uma questão de protecção dos direitos sociais, humanos, laborais e fundamentais dos povos. É proteger a sua soberania.

Mas para o Bloco tudo se referenda: a água, o direito a não ser preso por fazer uma interrupção da gravidez e poder fazê-lo no SNS, a permanência numa instituição opressora que encaminha os povos ao rumo da dependência do imperialismo, da concentração capitalista financeira, da guerra, da opressão e da miséria.

Mas isso pouco lhes interessa desde que dê audiências: e viu-se o resultado – levantaram-se e aplaudiram uma proposta inconstitucional. Ou seja: ao referendar seja lá o que for que querem referendar – que nem disseram o que é – nada tem a ver com o que disse acima: é só porque são uns senhores maus que querem impor sanções a Portugal. Se não impuserem, então está tudo bem outra vez e a UE é reformável e um sonho lindo, logo podemos continuar nesta bela forma de opressão e exploração.

Newsflash, Bloco de Esquerda: não é. E se querem seguir o caminho dos governos burgueses que apoiam e agora se envergonham, como o Syriza (que tiveram o desplante de convidar para assobiar, broncos) avancem, mas sozinhos. Porque a paciência para oportunistas acaba e esse caminho que querem seguir não é, nunca foi, o caminho de valorização do trabalho e dos trabalhadores, da independência dos povos.

Aliás, nem o Bloco sabe bem o que quer.

Em 24 de Junho de 2016, «Não é o momento dos países saltarem com cartadas de referendos»
A 26 de Junho de 2016, «Se houver sanções, Europa “declara guerra” a Portugal e BE põe referendo na mesa».

Mas como foram apanhados: PCP abandona defesa do referendo aos tratados europeus.

E pronto, está tudo dito sobre a política do Bloco. Independentemente de votos que venham a ter e dos muitos que conseguem enganar, a sua natureza de classe é inegável. E o seu oportunismo político evidente: não querem transformar a sociedade. Querem reformá-la e tornar o capitalismo mais humano. E isso, a história já comprovou: não é possível.