Os teus vizinhos genocidas

Nacional

Depois do trágico, criminoso e injustificável atentado terrorista de Londres, as caixas de comentários dos jornais portugueses encheram-se de centenas apelos ao genocídio de todos os muçulmanos.

Entre milhares de comentários racistas, que atribuíam os crimes à cor da pele, à nacionalidade (depois soube-se que era britânico) ou à religião do suspeito, o denominador comum era a exigência de um castigo, o mais severo possível, para «todos», leia-se «todos os muçulmanos», «todos os negros», «todos os árabes», etc. Mas o mais preocupante é constatar que as pessoas que apelam publicamente a genocídios e deportações em massa não são os habituais neandertais do PNR mas pessoas que podiam ser as nossas tias, sobrinhos, primos e colegas de trabalho.

Não vale culpar os trolls e fingir que nada disto está a acontecer. As ameaças de genocídio e os apelos à violência física contra as famílias dos quase 60 mil muçulmanos que vivem em Portugal, reclamam um debate, urgente e lúcido, sobre o racismo, a xenofobia e a nossa História.

Pode-se debater a utilidade de dar tempo de antena às organizações de extrema-direita, como é legítimo perguntarmo-nos quantas vezes se deteve a ascensão do fascismo ignorando-o. O que não é aceitável é assistirmos, impávidos e serenos, à incubação assistida do ovo da serpente.

Estes apelos ao genocídio, crime tipificado no nosso código penal, devem merecer o nosso mais aceso repúdio, a repulsa de todas as pessoas com princípios e valores. Não são aceitáveis. Não são toleráveis. Não são discutíveis. Aceitar discuti-los, aos crimes, às micro-organizações que os querem cometer ou aos académicos fascistas que os defendem, é colocar os crimes no mesmo patamar da política. Liberdade de expressão é uma coisa, a criminalidade é outra.

E, no entanto, urge discutir. Urge discutir o problema do internacionalmente disseminado mito de que os portugueses não são racistas, a mentira de que a nossa colonização foi branda, a forma como as piadas racistas são socialmente aceitáveis nos locais de trabalho, a origem do preconceito e da discriminação e a própria História de Portugal. Este último é desconfortável, porque fomos educados para não conceber que Vasco da Gama tenha ordenado massacres de inocentes, para não acreditar que Afonso de Albuquerque pudesse encher bateis com narizes e orelhas de infiéis, para não conhecer os crimes contra a humanidade do colonialismo português.

É necessário levar a luta contra o racismo às escolas, às televisões, às forças policiais e, sobretudo, aos jornais. Todas as fotografias que ilustram este artigo foram retiradas de comentários publicados nas caixas do Correio da Manhã. Os exemplos são às centenas e todos os dias é assim.

Quando, há dias, o Correio da Manhã, noticiou o tiroteio à porta da discoteca Luanda, multiplicaram-se as piadas racistas, ampliaram-se os desejos sádicos a todos os que frequentam o espaço, lamentou-se que ninguém colocasse uma bomba, houve quem pedisse a morte dos filhos das vítimas.

O Correio da Manhã, facilmente o pior órgão de comunicação social português, transformou-se numa estufa de racistas e não foi um acidente. O «jornalismo» que fazem aprendeu a depender dos piores instintos das pessoas e, por isso, irriga-os constantemente, a qualquer preço e quanto mais rápido melhor. Ao renunciarem completamente à mediação informada do jornalista, à contextualização e ao contraste das fontes, sobra apenas o açougue onde se mata todos os dias a liberdade e a democracia.

30 Comments

  • Unknown

    1 Abril, 2017 às

    Um texto fantástico, como é óbvio não vai de encontro as ideias de uma extrema direita altamente racista que vai crescendo por esta Europa fora.

  • Miguel Frias

    25 Março, 2017 às

    Este comentário foi removido pelo autor.

  • Joaquim de Freitas

    25 Março, 2017 às

    Creio que é o maior drama da Democracia, de ter dado a possibilidade a tanta gente ignorante, de se exprimir nas redes sociais. Eles obtiveram esse direito antes de serem educados e formados à liberdade de expressão e aos valores fundamentais.
    Imaginem que visto o atraso no qual vivem, se considere que são irrecuperáveis e os façamos desaparecer como preconizam para aos muçulmanos. Porque para esta gente que se exprime aqui, pensar que os 100 000 milhões de muçulmanos que “existem no mundo deveriam desaparecer dá uma ideia do seu atraso.

    Por acaso sabem que os Portugueses foram entre os primeiros a ocupar pela violência as terras deles, na África, e que travamos muitas batalhas para lhes impor a nossa religião? O que não quer dizer que devemos aceitar agora a mesma sorte que lhes impusemos.

  • M.E.

    25 Março, 2017 às

    Eu também acho que devíamos acabar com esta "raça".. de gente que comenta coisas ignorantes nas redes sociais!! É muita ignorância junta..

  • Unknown

    25 Março, 2017 às

    Quanto mais o discurso do "eles" vs "nós" pior é. Acho que isto tem muito a ver com a liberdade de expressão e as redes sociais. E aí vê-se de tudo. É bom que haja liberdade pra que alguns néscios se exprimam. Assim sabemos logo quem são. Quanto à questão religiosa,"graças a deus" sou ateu mas pelo que sei a nossa religião na idade média também não era flor que se cheirasse. Ainda hoje na biblia se admite escravidão num dos seus 10 mandamentos. Aquele da cobiça da mulher do próximo não termina na mulher. Se o corão incita mais à guerra contra os infieis que a biblia também é verdade que os verdadeiros crentes muçulmanos se assumem como pacifistas. Acho o iman de Lisboa uma pessoa cinco estrelas, inspirador até. Deixem-se lá disso do us vs them porque felizmente somos um povo culturalmente muito diverso e bem integrado. Acho que ainda somos um povo muito tolerante e somos um estado verdadeiramente laico. Isso deve-se obviamente ao facto de vivermos numa democracia que nos salvaguarda a liberdade de expressão. E isso é algo que nos devemos orgulhar. Já o sentimento de orgulho deve mesmo ficar por aí pois detesto ver a coisa descambar para que venham falar na "nação portuguesa" e o os de extrema direita sofrem logo um influxo sanguineo no pénis quando ouvem falar na "nação". Nós somos um povo um bocado que como o rafeiro. E atenção que não é no mau sentido. Eu adoro cães. Somos o povo que mais fornicado foi e enriquecemos o nosso código genético com centenas e centenas de gerações até termos o nosso adn apurado como está. E é nisso que devemos estar orgulhosos. Somos precisamente um povo que aceita o diferente. Aprendemos a ser mais tolerantes. Hoje em dia sabemos conviver diariamente e desde muito cedo com o outro e com a diferença. Os mais putos já tiveram muitos colegas na escola que eram "eles". Eram pretos ou amarelos ou mónhés e tb tiveram o "gordo" e o "caixa d óculos" e o "minorca". O "cromo" e o "nerd" já são mais recentes mas o "beto" foi uma invenção dos anos 80. Já existiamos há muito mas não tinhamos nome. Fui beto nos anos 80, grunger nos 90, rock n roll nos 00 e de repente chamam-me hipster. Deixei de usar as aspas em todas as palavras porque se iria tornar redundante. Elas são redundantes. Serviram o seu propósito que é o facto de querermos sublinhar e rotular. Apontar o que foge ao padrão é apenas humano e nisso também somos um só povo. Somos todos o mesmo povo a viver no único planeta habitável num imenso espaço fisico do nosso universo. Eu acredito que existem mais universos e são paralelos a este. Mas isso sou eu que até a teoria das cordas me convence. Se os principais génios da astro-fisica o dizem e mesmo a comunidade cientifica de outras áreas como a matemática não ousam discordar. Seria um bocado arrogante da parte de um ateu vir pedir agora contas a deus para poder discordar de esses conceitos. Somos como o dizia o outro. Pó de estrelas. Ou stardust que em inglês soa melhor e respeita o original. Somos todos apenas isso. Um pequenissimo evento. Um nano segundo quando em vista de todo o universo espaço temporal. E no entanto a humanidade já se regista a si própria há uns milénios. Já se passou e se viveu tanta coisa até chegarmos aqui hoje que nem a melhor biblioteca do mundo pode abranger tudo. Haja bom senso e sensibilidade para se perceber a importancia dos assuntos e sabermos distinguir as coisas também dá jeito. Sejamos inteligentes. Eu ainda acredito. Sou um optimista na humanidade. Um caso perdido hoje em dia…

    • Nunes

      25 Março, 2017 às

      «É bom que haja liberdade pra que alguns néscios se exprimam»

      Retirado da autobiografia de «Unknown». Néscio por simpatia?

    • Margarida

      26 Março, 2017 às

      Não diria melhor.

  • Unknown

    25 Março, 2017 às

    Peguem num livro de História e vejam onde e porquê a radicalização e a tentativa de criar um estado islâmico. Uma cultura com 1400 anos que salvou da fogueira Aristóteles. Se a "cultura europeia" (que um dia ainda me vão explicar qual é – a cristã? mas qual cristã? a católica? a protestante? a ortodoxa? ou a "celta" com os seus inúmeros "endovélicos" construídos por quem não conseguiu acabar o curso de arqueologia?

  • Sara Muscaria

    24 Março, 2017 às

    Mas anda tudo doido? Ainda existe gente a defender o islão??? Se estão assim tão preocupados vão buscar uns para vossa casa….
    Pensam que eles vão se integrar ou são daqueles que julgam se uma galinha nascer num estábulo é um cavalo?

    • Nunes

      25 Março, 2017 às

      Vai tu buscar um menino católico do CDS-PP para viver contigo.
      Há louros, refinados e até muito salazaristas. Eles são muito bonzinhos para ti, até se tornarem em diabos…

  • Unknown

    24 Março, 2017 às

    Infelizmente comentários deste tipo também existem de islâmicos para com os ocidentais, o problema é que uns são legitimados pela sua religião levam estes actos à acção, os outros ficam apenas pela ameaça!!!

  • VISUAL iD25 - Soluções virtuais e Design gráfico

    24 Março, 2017 às

    Certo! Também sou contra a violência… mas qual a solução para a invasão cultural islâmica – cultura tal com +1.400 anos, profundamente enraizada na psique dos povos muçulmanos e que visa a completa dominação mu7ndial com a implementação da Sharia? Realmente, gostava de ouvir soluções pacíficas para tal problema…

    • Nunes

      25 Março, 2017 às

      E porque não abordar a invasão cultural católica, responsável pelo holocausto das populações indígenas americanas? Porque não abordar as missões, as cruzadas, as perseguições por bruxaria, as perseguições aos judeus, as guerras religiosas?

      Ou porque não a guerra contra as populações inocentes do Iraque, Iémen, Síria, Somália, Líbia, Paquistão, Afeganistão e Sudão, em nome de um Deus todo poderoso?

      Alguma solução pacífica para este problema?

    • Unknown

      12 Abril, 2017 às

      Eu aprecio sempre pessoal com conhecimento de história..
      então diga lah de sua justiça sobre, holocausto das populações indígenas americanas, as cruzadas e as perseguições aos judeus, as guerras religiosas..
      fico aguardar pelos seus factos, eu já tenho os meus prontos!
      inte!

    • Unknown

      1 Maio, 2017 às

      bem.. meio mes passado e nada… bye sr. historiador!

  • Augusto Martins

    24 Março, 2017 às

    Triste mesmo, é haver gentinha que não quer ver a onda de terror que os muçulmanos estão a causar na Europa.
    A única solução será irradicar o islão, sendo o modo mais humano, a deportação para os países de origem.

  • "Disparatar é saudável"

    24 Março, 2017 às

    Choca-me sempre que haja opiniões destas vindas de pessoas de um país historicamente emigrante, de pessoas que se benzem e se intitulam religiosas ou crentes de qualquer religião, que não condenam a violência mas o estereotipado que têm na cabeça. Assim vai o mundo… Um dia alguém se lembra que o tuga é um terrorista por defeito.

    • Nunes

      24 Março, 2017 às

      Choca-me ainda mais este seu comentário de alguém que vai buscar uma imagem de Einstein, sem perceber o que esta significa para depois colocar junto a um texto que nada tem a ver com a imagem e muito menos com aquilo que é debatido.
      Alguma coisa a dizer em relação à sugestão do idiota nazi Marco A. Parreira, ó seu Einstein das petas?

  • serges

    24 Março, 2017 às

    Muito triste… Pior ainda esta realidade ser demasiado grande para ser ignorada…

  • Nunes

    24 Março, 2017 às

    O mais cínico é ver um sorriso confiante na fotografia, acompanhado de um texto a apelar para a solução final.

    Em relação ao ataque terrorista, aquilo que começou por ser «Omar Brooks», tornou-se em «Abu Izzadeen», para finalmente se tornar em «Khalid Masood» (o autor do ataque).
    Os serviços secretos britânicos trabalharam mal e meteram muita água, no início desta operação. A comunicação social já tinha o guião preparado para seguir os passos da polícia britânica, sempre muito incompetente no seu dever (não é assim nos países fascistas ou que caminham nesse sentido?)
    No parlamento, discutia-se o segundo referendo escocês e a falta de plano do governo de Theresa May para a Inglaterra.
    Esta «operação» ou esquema ajuda Theresa May a ficar no governo e a dificultar ainda mais a democracia na Inlgaterra.

  • Unknown

    24 Março, 2017 às

    Temos que fazer as crianças e os jovens nas escolas LER todas as semanas 1 livro…depois fazerem uma redação com 500 palavras sobre o assunto…

  • Leocardo

    24 Março, 2017 às

    Brilhante, fantástico, audaz, exemplar 👍👍👍👍👍

  • Manuel Baptista

    23 Março, 2017 às

    O que se passa na realidade é que a opinião pública ocidental é condicionada por ataques de falsa bandeira. Os atancantes são invariavelmente classificados (a posteriori) como terroristas que estavam sob vigilância dos serviços secretos, das polícias, etc. Invariavelmente, a sua vigilãncia é atenuada ou eliminada nas vésperas dos atentados. O que significa isto? Significa que as polícias tinham ordem dos poderes políticos, governamentais, de o fazerem… para quê? Para que os atentados se efetuem! Para quê? para tornarem cada vez mais aceitáveis as medidas de «excepção» que já se tornaram norma. A vigilância em massa constante de todos os cidadãos. A nulidade das garantias de defesa. A aceitação de crimes de estado, sob pretexto de «suspeita» de terrorismo. A tortura generalizada. A perseguição por «delito» de opinião. Finalmente, a histeria contra uma etnia, uma «raça», uma religião, exatamente como os nazis fizeram em relação aos judeus como forma de arregimentarem camadas populares e de aterrorizarem os «judeo-bolcheviques», etc. Acordem!

    • Ricardo

      24 Março, 2017 às

      Concordo com o seu comentário, é isso mesmo que se passa!
      Mas como solucionar o problema? O que se está a passar na Europa está há muito planeado chama-se Plano Kalergi! Os lideres não eleitos da União Europeia querem à força e a revelia das nações que constituem essa mesma União, criar um super estado sem fronteiras nem nações, O objectivo deste plano é destruir as Tribos Brancas da Europa pelo que eles chamam ‘diluição étnica’. Esta é uma teoria de conspiração? Se acha que sim então deve explicar por que a Merkel e Van Rompuy foi, a ambos concedido pela União Europeia, o prémio de Carlomagno por seus esforços por mover adiante o Plano de Coudenhove-Kalergi. A esquerda totalitária que quer restabelecer uma sociedade mundial de Senhores e servos.
      Os verdadeiros racistas são os Marxistas Culturais! PCP e Bloco de Esquerda os agentes em Portugal desta gente!

    • Nunes

      24 Março, 2017 às

      O fim do «Habeas Corpus», como Obama fez na América.

    • Unknown

      24 Março, 2017 às

      Concordo plenamente, nõa desfazendo das vitimas e não tirando qualquer responsabilidade aos autores e assassinos, a verdade é que este atentados surgem esporadicamente e em situações " soltas", em Nice o camião passou numa zona altamente vigiada de acesso muito difícil carregado de armas e sem o condutor responsável, e no entanto passou à vontade, a uma semana de acabar o estado de emergência. e no entanto no euro numa altura bastante critica e mais fácil de concretizar um ataque deste não surgiu nada. Por mais incrível que pareça estes atentados acabam por apenas reforçar as medidas de segurança destes países e permitir novas formas mais apertadas de vigilância. Estranho. digo eu.

    • Quito Arantes

      25 Março, 2017 às

      Penso que há pouco para refletir. Não podem ser os mulçumanos aculturar o ocidente, não faz qualquer sentido. o estado islamico quer consquitar o mundo aos infiéis. Pelo menos é o que eles dizem. Quanto ao texto do blogue li-o com atenção e não passa de mais um resabiado comunista, estalinista. O fanatismo tem que ser combatido do mundo ocidental, venha ele de onde vier. Aliás o titulo do post é completamente provocatório e de mau gosto.

    • Nunes

      25 Março, 2017 às

      «Resabiado» ou «Ressabiado»?

      De facto, a ignorância (como a de Quito Arantes) deve ser combatida.

    • justme

      26 Março, 2017 às

      Claro faz muito mais sentido serem os europeus a "aculturar"os muçulmanos, os hindus, os budistas, etc, não é senhor Quinto Arantes? Afinal somos missionários, cruzados, etc… A ignorância dói…. De que raça , etnia ou o que for melhor para o senhor, é aquele ser do norte de Portugal que esfaqueou 5 pessoas, porque para mim , um feto de 7 meses é já um bebé?

  • Rui Inácio

    23 Março, 2017 às

    Totalmente de acordo. Necessitamos todos de pesquisar a nossa história relatada pela perspectiva de fontes independentes, para reconhecer o nosso lugar no mundo. É necessário combater estas reacções primárias com educação e tolerância! É urgente!

Comments are closed.