Já poucos se lembram de declarações de Passos Coelho sobre a privatização da Caixa Geral de Depósito, propósito que o ex-primeiro ministro deixou cair pela simples razão de não ter relativamente a essa medida um mínimo de apoio ou sustentação capaz de o segurar. Passos não gosta da Caixa e a razão deste desamor é simples: a Caixa é pública.
É por isso irónico que venha agora apontar o dedo a Costa acusando-o de promover “uma destruição de valor sem perdão” (da CGD) quando há precisamente um ano atrás lançou contra o banco sob tutela directa do Estado um ataque que não terá ajudado grande coisa à sua situação, que de acordo com o jornal “i” já conhecia: em Julho de 2015 o então primeiro-ministro prestou declarações públicas nas quais se manifestava “preocupado por a Caixa ainda não ter feito reembolsos da ajuda pública“.
A Caixa, que é património do povo português, tem sido ao longo dos seus anos de vida sob controlo do Estado um verdadeiro peão das estratégias políticas de boa parte das administrações engajadas aos partidos do sistema e ali colocadas pelos sucessivos governos PS, PSD e CDS. Este dado, longe de demonstrar a necessidade de privatizar a Caixa, vem antes realçar que o banco público tem sido – por acção dos governos – tudo aquilo que um banco público não deve ser.
A Caixa não foi ainda, ao longo da sua história centenária, um verdadeiro banco público, ao serviço do povo, do país e da sua economia. E por isso os problemas múltiplos que enfrenta não decorrem da gestão pública; pelo contrário, são o resultado da aplicação de princípios da gestão privada a um banco que tem uma natureza e uma missão significativamente diferente das restantes instituições bancárias.
Passos Coelho nunca o percebeu, ou nunca quis perceber. As suas prioridades sempre foram outras e relativamente ao sector bancário sob tutela estatal ficou-se pela intenção pífia da criação de um banco de fomento nunca criado de acordo com as necessidades do país. É por isso verdadeiramente notável que quem ajudou a abrir a cova à CGD venha agora queixar-se do buraco para o qual contribuiu activamente.