“Porque é que ainda votas em Viseu?” Fazem-me esta pergunta repetidas vezes. Por várias razões talvez mais sentimentais do que de outra índole, mas também por uma muito racional. Porque gostava de ver deputados eleitos por Viseu a defender o seu distrito.
Vamos então aos nomes dos deputados eleitos por Viseu que votaram contra a extinção de portagens na A24 e A25: António Borges (PS), António Leitão Amaro (PSD), António Lima Costa (PSD), Hélder Amaral (CDS-PP), Inês Domingos (PSD), Isaura Pedro (PSD), José Rui Cruz (PS), Marisabel Moutela (PS), Pedro Alves (PSD). 9 em 9, BINGO! Nem um furou à disciplina de voto, e noutros distritos até houve quem furasse.
Mas também me podem dizer que os deputados do PCP cumprem à risca a disciplina de voto. Pois cumprem, mas os deputados do PCP sabem que um país mais justo implica necessariamente que ao interior sejam dadas condições para recuperar o que foi perdendo com política centralistas que acumularam população nas grandes áreas urbanas do litoral até ao limite do congestionamento molecular.
Estamos, como devíamos estar sempre aliás, num tempo de confronto ideológico aberto – tudo que não seja isto é uma brincadeira inócua -, e este confronto só tem ajudado a clarificar o que cada partido quer para o país, como bem fica demonstrado pela discussão sobre o financiamento das escolas, sobre a Uber, sobre a banca, e também sobre o pagamento de portagens nas ex-SCUT’s. Trata-se de saber o que é que devemos financiar com os nossos impostos, se o grupo GPS, que vai recebendo uns quantos milhões por ano para gerir escolas privadas que ajudaram literalmente a esvaziar escolas públicas das imediações, ou se devemos financiar o desenvolvimento do interior, facilitando a mobilidade naquela região.
É por isso que ir votar a Viseu é uma afirmação política e ideológica. Porque não adianta continuar a votar no “senhor doutor que sabe muito de leis”, ou na “senhora doutora que é tão simpática para a gente”. As leis que eles sabem são as que ajudam a afundar as pessoas e o território do interior, a simpatia que eles mostram é apenas na medida certa que funciona até ao voto. Tenho a certeza que cada vez que se levantam e votam contra os interesses do distrito, se viram uns para os outros e, de olhos saltitantes e a brilhar, lá se sorriem enquanto pensam “como é bom continuar a enganar aquela gente, o que vale é que eles, coitados, não têm dinheiro para vir à capital e escrutinar o nosso trabalho, falta-lhes o dinheiro para a portagem…”
Já têm os nomes e as caras. Se se cruzarem com eles e com elas nas ruas do distrito, estendam-lhes a mão e peçam-lhes “um eurito para a portagem”.
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