Que nunca se diga que o capital é ingrato

Nacional

A campanha presidencial em curso tem sido muito desvalorizada, especialmente, por aqueles a quem convém que fique tudo mais ou menos na mesma. Contudo, não é apenas a campanha ou a pré-campanha, com mais exactidão, que tem sido desvalorizada. Na desvalorização mediática, Edgar Silva faz quase o pleno.

Sobre a candidatura de Edgar Silva, ao início foi a surpresa e no instante seguinte a caricatura, logo após, cai o silêncio e a omissão, a censura portanto. Entrado o tempo em que já não é mais possível esconder tanto quanto o foi Edgar Silva, vem o ataque. E a coisa foi contagiando e ficando cada vez mais serventuária e suja.

O primeiro a picar o ponto foi o Dr. Correia Guedes. Já em Dezembro ido, de forma absolutamente intempestiva decidiu despejar o seu saco de ódio ao PCP, com as mais absurdas calúnias sobre a sua direcção, sobre o seu funcionamento interno, e mergulhando até numa analise muito própria sobre o pensamento de Lenine. Tendo logo levado a devida resposta por várias vias.1 2

Decidiu voltar à carga e, de uma penada só, desqualificando todos os candidatos presidenciais, sobre Edgar Silva, o excelso analista e reputado furioso cronista descreve apenas “um antigo padre, convertido ao PC, que se atrapalha com a nova teologia”. Além da repetida metáfora, já ensaiada em Dezembro e até anteriormente, o Dr. Correia Guedes não explica, onde, como e porquê a atrapalhação de Edgar Silva. Mas pronto, siga, o que era importante era dizer qualquer coisinha, mandar a pedrada e seguir em frente.

Segunda na SIC é dia do “comentário” de Miguel Sousa Tavares. Marialva de quinta-ordem, useiro e vezeiro em décadas de “comentário” e “opinião” repletos de simplismos que oscilam entre o medíocre, o impreparado e o leviano, visionário ansioso que no longínquo Agosto de 1991 anunciava que “O PCP acabou e ainda bem”(jornal Semanário), best-seller “Escritor”(com afamada inspiração na leitura de Cette nuit la liberté para o seu Equador),conhecido apreciador da mestria bancária de Ricardo Salgado, enfim, uma figura pública com décadas de histórias, contradições e malabarismos de toda a sorte.

No seu “comentário” na SIC, apressadamente e por tal desatento logo de inicio à sua patética soberba e contradição, Sousa Tavares arranca com um “não conheço ninguém que tenha visto um debate presidencial do princípio ao fim, das pessoas normais”. Outro alinhado na narrativa dominante e promotora da desvalorização do debate, dos seus intervenientes e ideias, permitindo até ao telespectador concluir que o próprio Sousa Tavares não terá visto nenhum debate na íntegra.

Passada a gralha inicial, deixou o ataque a sério do “comentário” para o fim, quando após mais umas quantas generalizações simplistas e mistificadoras como de costume sobre todos os candidatos, disparou exclusivamente para Edgar Silva dizendo que “Edgar Silva para mim tem tido o discurso político mais pobre, mais inconsequente e às vezes até mais leviano que tenho ouvido”. E já está, missão cumprida. Que fez, que disse Edgar para merecer esta desvalorização? Não sabemos, talvez nem Sousa Tavares saiba, mas também não é para isso que o “comentário” serve.

Dia 7 a festa continua, desta vez com Francisco Louçã, agora nas vestes de comentador por aí, na SIC, no Público, na TVI às vezes e sabe-se lá mais onde. E vale sempre a pena sorrir, lembrando os tempos em que pelo exótico PSR o Professor fazia campanha pelo encerramento da televisão aos Domingos…outros tempos.

Sem estilo nem classe, com a subtileza de um bronco ao volante, Louçã escolhe um título intimista, com um tom que se perceberá hipócrita, para um texto em que começa por glorificar os resultados eleitorais do partido que ele próprio dirige de facto, utiliza um oportunista falsamente afectivo “amigo” para se balancear numa crítica sobre as temáticas do Orçamento Rectificativo e claro, como sempre e para sempre a inevitável e previsível Coreia do Norte, onde, sabe Louçã que “deflagrou uma bomba nuclear”. Pelo meio mais umas tretas e conversa-fiada sobre o passado do PCP para poder contra-atacar com referências a processos eleitorais anteriores (que ele considera negativos, omitindo factos, descontextualizando e simplificando tudo). Truques costumeiros de quem toma o leitor por parvo, que começando o texto dizendo-se “amigo” de Edgar Silva termina com a acusação de “não diz o que pensa”.

É por coisas destas que convites para orador e escriba de Bilderberg e Belmiro não faltarão a Louçã. Que nunca se acuse o capital de ingratidão.

Este aqui titula o seu canto no jornal Expresso por “chamem-me o que quiserem”, e quase tudo fica dito com esta rendição anunciada e incondicional. Como não consegui ler a sua prosa até ao fim (ainda queriam que pagasse!), não há muito a dizer, o objectivo da coisa que se presume soberba está anunciado no seu título, a criatura diz que já tinha visto o Sousa Tavares dizer o mesmo (e quis ajudar, entrar na onda, presume-se) e compara Edgar Silva a “Tino de Rans”. Henrique Monteiro não é mais nem melhor que isto, um subproduto do capitalismo no “jornalismo”, afundado no seu amor ao (des)governo anterior PSDCDS de quem era admirador despudorado e servente, fruta da época dos androjosos tempos que se vivem na comunicação social dominada pelo capital, um humilde servo. Ele sabe, nós sabemos, não há vergonha nem pudor, é um serviço apenas, presumivelmente bem pago, “chamem-me o que quiserem” diz o moribundo.

Nestes tempos, além do desastre (anunciado) em que se transformou a qualidade da informação e da opinião na comunicação social dominante (e dominada), pela breve amostra, fica claro a concertação objectiva por parte do capital em procurar apoucar a candidatura de Edgar Silva. Do outro lado, estamos nós.

* Autor Convidado
Filipe Guerra