“Rebeldes”

Internacional

Com o “Estado Islâmico” a desaparecer a alucinante velocidade das notícias que por cá passam sobre a Síria, a expressão “rebeldes” (durante algum tempo caída em desuso e outrora usada no contexto da agressão contra a Líbia, que deixou o país à mercê do jihadismo transnacional) regressou em força às páginas dos jornais, noticiários radiofónicos e comentários televisivos sobre os mais de cinco anos de destruição absoluta daquele que foi um dos mais desenvolvidos e estáveis países da mais instável região do globo terrestre.

“Rebeldes” é uma designação propositadamente vaga, ainda que enquadrada numa narrativa mediática e política que visa apresentar aqueles que lutam “contra o regime de Assad” de forma inequivocamente benevolente. E no entanto, o que nunca nos é dito é quem são afinal os “rebeldes”.

Já poucos são capazes de negar aquilo que em 2013 fazia parte integrante do discurso oficial sobre o conflito na Síria: os grupos armados que actuam no país são não apenas parcial mas sobretudo maioritariamente constituídos por operacionais paramilitares estrangeiros – com origem em todo o mundo muçulmano, de Marrocos às ex-Repúblicas Soviéticas ao Cáucaso e da Ásia Central, passando pela China, Bósnia e por múltiplos países membros da União Europeia – organizados em múltiplas facções sectárias sunitas cujas motivações são diversas e não raras vezes contraditórias entre si.

Numerosos meios de comunicação social ocidentais foram reconhecendo, sobretudo no ano de 2014, a existência de jihadistas de cerca de 100 nacionalidades nas fileiras dos “rebeldes”, e no entanto quase nenhum dos comentadores de assuntos internacionais com lugar cativo nos jornais, rádios e televisões questionou alguma vez a legitimidade daqueles que numa primeira fase foram apresentados como um grupo de padeiros, estudantes e empregados de escritório armados e apoiados por desertores em massa do Exército Árabe da Síria.

Naturalmente que estes grupos encontraram na Síria apoio em alguns sectores da sociedade, mas a sua sobrevivência nos momentos mais críticas e o seu avanço nas fases do conflito durante os quais estiveram em vantagem face ao Exército Árabe da Síria resultam do apoio inicialmente mascarado e a partir de determinado momento explícito da Turquia, Arábia Saudita, União Europeia, Israel e Estados Unidos da América.

Quando me falam dos “rebeldes” pergunto imediatamente “quem são”? Ainda ninguém, de entre aqueles que atribuem todas as responsabilidades da destruição da Síria “ao regime de Assad” foi capaz de me responder. Continuo à espera.