São horas, senhor

Nacional

Já muito se escreveu e falou sobre o mais recente videoclip dos Mão Morta. Chocante, para alguns, violento, para outros, a verdade é que aqueles (quase) 4 minutos espelham bem a realidade de um país. A música, arrastada e hipnotizante, e o duro conteúdo das palavras grunhidas pelo Adolfo Luxúria Canibal, fazem um par perfeito com as imagens que vamos vendo lá atrás. É o BPN, é o Sócrates e o Passos, é a Igreja e a Troika, enfim, é tudo aquilo que nos tem empurrado para o buraco. E é sobretudo uma arma carregada que dispara e mata. Com precisão.

Assumindo frontalmente a necessidade e o objectivo de lançar um álbum de intervenção, os Mão Morta oferecem-nos 10 cantigas bem capazes de acordar os mortos. Letras directas, mordazes, politicamente activas, sempre associadas a melodias pesadas e vagarosas, pisando mesmo os terrenos pantanosos do industrial em “Os ossos de Marcello Caetano” – que, como o Adolfo nos repete até à exaustão, estão de volta ao Palácio de S. Bento.

Contudo, muito mais está presente neste disco. Como se consegue uma obra deste calibre, de onde vem a inspiração? As palavras do vocalista da banda de Braga são elucidativas:

“A generalidade das pessoas ficou com a sua vida estragada, com a sua vida de pantanas, os seus hábitos, os seus prazeres e os seus confortos completamente arruinados. (…) E há culpados para isto, há culpas que levam a este estado de coisas, e a culpa não é dos portugueses, não é das pessoas que ficaram com a sua vida estragada ou se suicidaram. Por muito que nos queiram fazer crer no contrário, a culpa não é dessas pessoas, a culpa é de outrém. E são culpas de cariz ideológico nítido (…). Enquanto alguns se suicidam e enquanto alguns atingem níveis de pobreza impensáveis e tentam sobreviver nas piores condições possíveis, há outros que estão a enriquecer como nunca enriqueceram na vida, e à conta disto tudo. Algo está profundamente errado nisto tudo e há que dizê-lo.
(…)

Há medo nas pessoas, a liberdade tornou-se numa charada e as pessoas têm medo de dizer o que lhes vai na alma antes de pensar nas consequências negativas que isso lhes possa trazer. Quando o emprego se torna um bem raro, as pessoas aceitam todas as condições pois tudo é melhor do que ficar sem nada. O medo tornou-se numa presença quotidiana na vida das pessoas.”

Ainda bem que ainda há quem não tenha medo. É neles que confiamos, é com eles que iremos construir o futuro!

Pelo Meu Relógio São Horas de Matar, um disco de audição obrigatória. Disponível em:
iTunes – http://bit.ly/1r93T5M
Spotify – http://spoti.fi/1r942Gq
MEO Music – http://bit.ly/1jmKDYO
Deezer – http://bit.ly/1khCytr
Xbox Music – http://bit.ly/1tFobS8
Vodafone Music – http://bit.ly/1payqhN
Google Play – http://bit.ly/1hqmT6i
Rdio – http://on.rdio.com/1lMVEE4
Nokia MixRadio – http://bit.ly/1jUfQs2

* Autor Convidado
João Moreira