Sinhá Raquel e o seu marido (que até é brasileiro)

Nacional

Já são recorrentes as viagens na maionese da marquesa, nome carinhoso atribuído pela sua mãe e revelado nas suas crónicas sobre si própria, o seu tema preferido. Desde cedo a sobranceria em relação à classe trabalhadora é demasiado evidente, como nos beijinhos e bolos que gosta de enviar aos piquetes de grevistas que estão ao frio a lutar pelos seus postos de trabalho enquanto se diverte em programas de televisão a veicular informações absolutamente desinformadas.

De quando em vez, lá nos brinda com um burnout causado pela perda de um lenço azul de seda ou comentários sobre como as leggins sexualizam as crianças, enquanto instituições do ensino superior a elevam a coordenadora de vários estudos (apesar de, ela própria, escrever muito pouco a não ser a excessiva verborreia nas redes sociais), são atribuídas bolsas à medida, é dado palco a quem raramente é reconhecida pela comunidade científica e académica (aliás, não raras vezes motivo de críticas severas) e, numa escalada abstrusa, tem vindo a proferir afirmações da mais profunda sobranceria relativamente às classes trabalhadoras, a grupos específicos de pessoas («asiáticos», camponeses, favelados … é grande, a lista).

E foi precisamente, arrogando-se no direito de falar em nome de outros, porque eles precisam e a maioria nem falar sabe que assumiu a sua posição de sinhá da roça, que quer os seus pretos por perto para servir de criadagem. Uma espécie de Isabel Jonet auto-intitulada de esquerda. Mas quase soando a Trump.

Leiam:

“Rezam antes de entrar no ônibus, e sonham que os filhos “não morram”, é isso mesmo, a depiladora onde vou, de quando em quando, tem como objectivo que os filhos estejam vivos. Até me dói o coração quando a oiço, sempre alegre, comentar, “estão vivos Minha Portuguesa!, estão bem!”.

“No Rio a minha depiladora, que não teve a coragem de uma Marielle, tem pavor dos ladrões e pavor da polícia.”

“é curioso virem ainda com a história “do lugar de fala” quando a maioria deles chega ao fim do dia e esteve 3 horas no transporte, e comeu açúcar e hidratos de carbono, está esgotado…até para falar.”

“A maioria aqui teve uma educação tão baixa que não consegue distinguir numa simples indicação de rua a esquerda da direita.

“A regra é que os trabalhadores das favelas precisam de ajuda de quem está fora das favelas.”

“Socialismo é isso, é dar coragem para que os mais frágeis sintam força, é lutar pelos mais pobres, dizer-lhes “estamos ao vosso lado”. Não é exigir-lhes a toda a hora que façam sozinhos o que não podem fazer.”

Naturalmente criticada, justifica-se com o argumento típico do preconceito:

Agora digo-vos, sou casada com um brasileiro filho de um negro, a minha irmã brasileira é negra, ou parda, cor de bronze na verdade, luz por todo o lado. A minha mãe, branquinha, de olhos esverdeados, recusou-se, com 18 anos, a mudar do passeio dos negros para o passeio dos brancos na África do Sul do Apartheid. Pela tenra idade dos jovens fascistas da causa negra que me ameaçaram tenho ainda a dizer o seguinte – estavam vocês a nascer estava eu a começar a escrever livros e a dar aulas (…)

O lugar de fala desta senhora devia ser o silêncio. Porque as suas afirmações são racistas, sobranceiras, elitistas, supremacistas e de um preconceito de classe que a devia retirar de todos os fora académicos e sociais. Não pode admitir-se que alguém com estas afirmações públicas continue impunemente a vender-se (e a ser altamente recompensada por isso) como defensora de uma qualquer minoria, muito menos dos trabalhadores. Alguém que acha que a pobreza é sinónimo de iliteracia, de necessidade de ajuda exerce a complacência típica de quem nunca reconhecerá o outro e o seu direito de representação e participação.

Não, sinhá Raquel. Não é este o seu lado. O seu lado é a direita conservadora e opressora. Por isso é que o capital continua a financiá-la. Para que tão bem continue o seu jogo. Nessa sua ficção de que é a salvadora sabe-se lá do quê.

Mas como afirmava ontem, nós somos muitas mais. E não estaremos do mesmo lado.

7 Comments

  • CEBE

    16 Abril, 2018 às

    Olhem, só topei isto agora. Também escrevi sobre o execrável texto da RV logo a seguir à morte de Marielle, aqui – https://medium.com/@joao.mpfp/marielle-e-o-s%C3%ADndroma-de-s-salvador-2382967d9f63

    Vale pela citação directa de comentários de Brasileiros que reagiram ao post. Fica para registo.

  • Maxsense

    24 Março, 2018 às

    Perseguição e inveja pela dita cuja, o resto é só um aglomerado de letras e pontuações.
    A falar do capital que a patrocina.😀 invejoooooosa

    • Lúcia Gomes

      27 Março, 2018 às

      Sim, somos muitas as invejosas da marquesa.

  • DannyAdMasc

    21 Março, 2018 às

    Concordo, a Raquel Varela e seus seguidores se acham ''mal-interpretados'', mas ela realmente não foi muito feliz naquele texto dela.

  • Nunes

    21 Março, 2018 às

    Está muito bom, Lúcia. Os meus parabéns.

  • Lúcia Gomes

    21 Março, 2018 às

    Obrigada, Zillah. Há vários anos que venho a desconstruir o preconceito ínsito nas declarações desta senhora e a ignorância em muitas das suas informações. É perigoso quando alguém assim tem palcos que permitem que a sua voz chegue a tanta gente. Mas parece que finalmente há mais gente a perceber o logro que é esta criatura.

  • Zillah Branco

    21 Março, 2018 às

    Em boa hora uma Mulher em Portugal define quem é Raquel Varela. Pela quantidade de preconceitos e arrogância que despeja, muitos brasileiros recomendam que deixe o Brasil na próxima caravela.

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