‘TAP’ar o sol com cinismo

Nacional

É de um cinismo atroz e insultuoso. O ministro Pires de Lima acaba de anunciar a requisição civil invocando o facto de a TAP prestar “serviços essenciais de interesse público” e fundamentais para o “funcionamento de sectores vitais da economia nacional.” Ao mesmo tempo que, no âmbito desta requisição civil, o governo se apresta a reconhecer a importância da TAP para o nosso país, prepara-se igualmente e com afinco para vendê-la o mais depressa possível ao grande capital estrangeiro.

Outra tirada cínica do governo é contestar a greve por considerá-la “ideológica”. Em primeiro lugar, muito cuidado com esta “gente”. Cuidado com “gente” que já não se mede nem mede as palavras, dando-se ao atrevimento de impor inibições ou proibições por razões “ideológicas”. Além disso, invoca-se uma posição ideológica como se a decisão da privatização e da entrega da TAP a privados não fosse ela outra coisa que não uma clara opção ideológica do governo. Como se aquilo que interessa aos privados não pudesse interessar também ao estado português. Como se os privados se arriscassem a querer algo potenciador de prejuízos, sem vislumbrar no embrulho a carne tenra da aviação nacional. Como se os despedimentos no privado também já não estivessem perfeitamente estabelecidos “debaixo da mesa”.

É importante perceber que a greve dos trabalhadores da TAP deixou de ser uma greve sectorial. Pela importância que tem, pela guerra que o governo desencadeou, esta greve diz-nos respeito a todos.

Esta requisição civil, que é uma autêntica declaração de guerra aos trabalhadores e ao direito à greve, é uma atitude repugnante, cínica, mas que não espanta. Sempre que pode, o governo afronta a Constituição. Sempre que pode, o governo ataca os trabalhadores. Sempre que é possível, o governo alimenta campanhas mediáticas que visam pôr patrões contra trabalhadores e sobretudo trabalhadores contra trabalhadores.

O governo tem feito tudo o que pode para dar cabo do que resta da economia nacional. Tem feito tudo o que pode para enfraquecer o sector público e favorecer interesses privados. Foi assim com a banca, foi assim com a PT, será assim com a TAP e há-de ser assim até ao último dia da legislatura.

Acordar agora já não é cedo, mas também não é tarde. É importante perceber que a greve dos trabalhadores da TAP deixou de ser uma greve sectorial. Pela importância que tem, pela guerra que o governo desencadeou, esta greve diz-nos respeito a todos. A todos os que defendem o que é de todos e não apenas de alguns. A todos os que não se vergam. A todos os que estão mesmo interessados em defender o interesse nacional. A todos os que são verdadeiramente patriotas.