Tio Zé Gomes Patinhas Ferreira

Nacional

«Se é pelo agregado, facilmente se atinge os 500 mil euros». Fácil, fácil. Zé Gomes Ferreira pegou na máquina de calcular, fez as continhas, somou os bens da malta lá de casa e chegou facilmente aos 500 mil euros de património. Mas quem nunca? Ou melhor, quem não? Que família portuguesa não chega “facilmente” ao meio milhãozito? Todos. Toda a “classe média”. Com jeitinho, metendo de permeio até valores mobiliários, somando um RSI, uma prestação do abono de família e 5 euros saídos numa raspadinha, até os de “classe baixa” vão levar com imposto. E “facilmente”. Ainda que muitos insistam em denegrir a sua imagem, mais uma vez, Zé Gomes Ferreira aparece a defender os mais fracos.

Mas Tio Zé Gomes Patinhas Ferreira não está só. Ao que parece, num noticiário da manhã na RTP3, também o Presidente de Associação de Empresas de Imobiliário se juntou à defesa de “quem menos tem e menos pode”. Imagine-se que uma família tem um apartamento de 200 ou 300 mil euros e compra mais dois ou três apartamentos… Ou seja, punhamos aqui em cima da mesa uma situação corriqueira, quotidiana, drama de qualquer família de “classe média”. Quer dizer, perante isso, vê-se agora hipoteticamente confrontada com um imposto sobre tão modesto património. Como é possível? Não dá para viver assim em Portugal. É sempre a carregar nos mesmos. Como é que isto há-de melhorar?

Mas falando um pouco mais a sério, independentemente da necessidade de uma maior justiça fiscal no que à tributação do imobiliário diga respeito, seria bom que ninguém esquecesse uma outra parte da grande riqueza, diria mesmo, da colossal riqueza patrimonial que escapa à economia do país. O património mobiliário de elevado valor, os grandes lucros de capitais investidos e arrecadados no estrangeiro, as contas e movimentos submergidos em paraísos fiscais, as sedes estrategicamente implantadas onde “dói menos” ao grande capital, etc., todo o conjunto de “património” sobre-acumulado e que contribui para a cada vez maior e cada vez mais escandalosa disparidade entre os muito ricos e os muito pobres. Nada que o PCP não venha a alertar há anos. Nada que o PCP não tenha já tentado alterar com sucessivas propostas nesse sentido. Nada que não tenha sido recusado por quem se serve do sistema. Nada que não seja preciso insistir e quebrar pela luta. Dentro e fora do parlamento, claro está.