Uma moção do povo

Nacional

Desde que o PCP, pela voz do seu secretário-geral, anunciou que iria apresentar uma moção de censura ao governo, que não pararam as conjecturas sobre o real significado da mesma e sobre a sua “utilidade”. Nada de novo. O PS, em desespero de causa, e como é costume, vitimizou-se tomando as dores de alvo a abater pelo PCP, considerando a moção como um «frete ao governo», anunciando contudo que votaria «a favor». Se, por um lado, se trata de uma moção que pelas circunstâncias de o governo ter maioria no parlamento terá os mesmíssimos efeitos práticos que teve a moção do próprio PS, por outro, o PS entende, assume, mas não admite nem pode admitir, que aquilo que o PCP combate com esta moção de censura, é também aquilo que, em grande medida, o PS defende e já começou por pôr prática com os PEC’s, bem como com as políticas levadas a cabo pelos seus anteriores governos.

A moção de censura do PCP é muito mais que um instrumento político de um grupo parlamentar. Ela é o grito de revolta de muitos milhares de portugueses. Ela configura, quer o tentem negar quer não, a tradução da realidade de perda da representatividade social da direita no parlamento, ela traduz a vontade da grande maioria do povo português de ver cair este governo de uma vez por todas. Ela traduz a vontade de todos aqueles e aquelas que, durante estes últimos três penosos anos, sentiram na pele os efeitos nefastos e injustos das políticas radicais do governo PSD/CDS, de todos aqueles e aquelas que recusam continuar a ser vítimas de uma ideologia cega e extremada que sacrifica a maioria para benefício de uma minoria. E a sua recusa, a sua reprovação na assembleia, não será uma negação ao PCP. Será uma negação ao país. Negação essa que começa no parlamento, no governo e acaba no presidente da república. O povo saberá interpretar e saberá, pela luta, construir a alternativa.

Quanto ao PS, fica no ar a mensagem, como que em jeito de sério aviso. Ainda que sem esperança que tal possa vir a ser entendido. Aquilo que há-de levar à derrota deste governo, há-de levar igualmente à derrota todos aqueles que no futuro seguirem as mesmas políticas. Todos aqueles que continuarem a atacar os trabalhadores e o povo, a destruir os serviços públicos, a condenar os jovens à emigração, os idosos à miséria, a pactuar com a ingerência da alta finança nacional e internacional. E não haverá máscara que tape a substância. A queda é certa seja qual for o rosto mais visível da desgraça. Chame-se ele Seguro,chame-se ele António Costa ou chame-se ele outra coisa qualquer.