15 falácias para não votar CDU

Nacional

Volvidos 39 anos de retrocessos sociais marcados pela continuada aleivosia de três partidos (PS, PSD e CDS-PP) que se alternam, ufanos, no poder, muitos portugueses parecem presos, na hora de votar, a velhos preconceitos. Extraordinariamente, mesmo diante de uma força política diferente e com décadas de provas dadas, há quem aposte por castigar a austeridade do PS votando no PSD, para, no acto eleitoral seguinte, punir o PSD votando no PS, (que desta vez é que vai ser diferente, não é?). A má notícia é que as arreigadas (mas espúrias) crendices sobre a exequibilidade política da CDU têm vaticinado o país a prosseguir o mesmo caminho de pobreza e injustiça. A boa notícia é que os argumentos de quem se recusa apaixonadamente a ver o óbvio são, regra geral, fáceis de compilar e desmontar.

1- «Os políticos são todos iguais»

Quem diz isto está secretamente a pensar nos três partidos em que andou a votar este tempo todo. É normal que depois de percorrer a cruzinhas os três partidos dos patrões, se descubra que têm ‘todos’ a vocação de reduzir salários, aumentar a carga de trabalho e cortar direitos. Por outro lado, aos 25 homens mais ricos do país que, no ano transacto, viram a sua fortuna aumentar para 14 mil milhões de euros num ano, convém que se acredite que «é tudo a mesma merda». Mas não é, como também não é igual taxar ou não taxar as grandes fortunas; como não é igual aumentar ou não aumentar o salário mínimo. É na prática e não em juramentos que se vê de que é feita cada força política. Ninguém, em honestidade, pode afirmar que os últimos governos têm defendido os interesses dos trabalhadores. Por outro lado, ninguém é capaz de dar sequer um exemplo de uma traição da CDU aos interesses de quem trabalha. Logo, iguais não são.

2 – «Já sei que não vão ganhar»

Se acreditamos que existe alternativa ao empobrecimento e à austeridade, é porque acreditamos que é possível uma alternativa política. Não serão nunca os mesmos partidos políticos que nos puseram no buraco a tirar-nos dele. O nosso voto pode ser justificado pelas propostas de cada partido, pela nossa experiência enquanto eleitores, mas nunca por empresas privadas de sondagens com amostras de 300 pessoas nem por comentadores pagos para pensarem por nós e que escondem, dentro de anafadas carteiras sob os seus rabos prolixos, o cartão de militante do PS/PSD/CDS-PP. Mais ainda, ao contrário da mentira amplamente difundida na comunicação social, nestas eleições não vamos eleger um primeiro-ministro, mas deputados que se candidatam por cada círculo eleitoral. Já basta do Sócrates, do Passos Coelho, do Armando Vara, do Cavaco Silva, do Duarte Lima, do Paulo Portas e do Dias Loureiro.

3 – «Mais vale votar no PS para não ganhar o PSD»

Votar útil no PS é como assinar um cheque em branco que termina sempre em arresto de bens. E se dúvidas sobrassem, veja-se a sintomática a recusa de António Costa em comprometer-se com um aumento do salário mínimo nacional: se o PS ganhar as eleições, atira o assunto para cima da mesa da improfícua «concertação social» e faz figas que os patrões decidam subir os salários. Se não o fizerem, é lá com eles. Querer que o PS ganhe para não ganhar o PSD é querer levar um pontapé na canela para não levar um murro no estômago. Foi o PS que criou as taxas moderadoras nos hospitais, as propinas nas universidades, os recibos verdes e metade de todos os cortes aos direitos dos trabalhadores desde 1975.

4 – «São um partido de protesto»

Ao longo dos últimos 39 anos, todos os governos têm contribuído para a destruição do país. Neste quadro, os partidos que se recusaram a juntar-se à pilhagem a troco de poleiro e tachos não são «de protesto», são de classe e de gente séria. A CDU tem um programa de governo detalhado, com respostas concretas para os problemas do país. PCP e PEV concorrem a estas eleições com um projecto que valoriza o trabalho e os trabalhadores, afirmando o papel social do Estado na economia e restituindo o governo e os serviços públicos ao serviço de quem trabalha. É um programa corajoso para taxar as grandes fortunas e devolver aos trabalhadores o que foi roubado, recuperando a necessária soberania nacional e exigindo a renegociação de uma dívida que, nestes moldes, é impagável.

5 – «É preciso um partido novo com ideias modernas»

A conclusão de que falta mais um partido modernaço é um clube esotérico a que se chega por quatro vias, a saber: a) através de boas intenções e desconhecimento dos partidos que já existem; b) pelos preconceitos expostos nesta lista; c) num concurso para ser o Paulo Portas do António Costa (sim, estou a olhar para ti, Rui Tavares); d) por meio de uma devastadora vaidade extrema e de um desejo burlesco e traiçoeiro de um dia ser chefe (p.f. não digam ao Gil Garcia onde eu moro). A crença de que são precisos novos partidos é fruto da incapacidade de compreender que em política a forma é sempre acessória do conteúdo. A prova provada é que no fim, os «novos partidos» soem acabar com «velhos problemas»: a fazer copy paste das propostas dos outros e à bulha para ver quem é que fica com o mítico mandato de Lisboa.

6 – «Se saíssemos do Euro estávamos perdidos»

A CDU, o PCP e o PEV foram as únicas forças políticas portuguesas que se opuseram inequivocamente à entrada de Portugal na moeda única, alertando para as devastadores consequências económicas que o presente se encarregou de comprovar. Cada vez mais, o euro é sinónimo de estagnação, recessão, desinvestimento, desemprego, endividamento, descontrolo orçamental, precariedade, redução dos salários e aumento da exploração. Porque aceitar cegamente a chantagem do euro só beneficia o chantagista, a CDU propõe que se estude e prepare a saída da moeda única de forma a garantir que essa solução, cada dia mais inevitável, possa ser gerida por um governo que proteja os interesses dos trabalhadores. Aqueles que, irresponsavelmente e diante do drama da Grécia, se benzem quando ouvem falar de uma saída do euro, preparam-se já para ser os carrascos de uma saída precipitada, e talvez forçada, que serviria para agudizar ainda mais a exploração.

7 – «Eu voto nos mais pequenos»

O problema não é a dimensão dos partidos, é o que eles defendem e quem eles representam socialmente. Votar num partido só porque ele é pequeno é o mesmo que ir uma farmácia e beber «só um bocadinho» de um frasco escolhido aleatoriamente.

8 – «O capital fugia do país»

Se a CDU fosse governo no dia quatro de Outubro, homens como Américo Amorim, Belmiro de Azevedo ou Soares dos Santos não ficariam, certamente, divertidos com a notícia, mas mesmo assim não tirariam o dinheiro. Porquê? Primeiro porque mesmo em menor escala, continuariam, a médio prazo, a conseguir grandes lucros. Por outro lado, porque parte do capital é extremamente difícil de deslocalizar: sobreiros, hipermercados, fábricas e aparelhos empresariais que só valem fortunas se bem implantados e com mercados estabelecidos. Finalmente, o Estado é soberano para nacionalizar, confiscar, expropriar ou deter quaisquer capitais indispensáveis ao interesse nacional.

9 – «Não é possível na UE»

Este é um argumento verdadeiro mas que esconde uma falácia. Efectivamente, é muito provável que não fosse possível construir um país mais justo dentro das amarras e imposições de uma União Europeia controlada por potências estrangeiras que não estão interessadas no bem-estar dos trabalhadores portugueses. Mas, nesse caso, a escolha não é só entre a soberania e a UE, é entre a possibilidade de uma vida melhor e a sentença a que nos votou a UE: sermos uma estância turística de mão-de-obra barata, sem fábricas, sem pescas, sem agricultura, com poucos serviços públicos e muitos miseráveis. Nesse caso, a CDU escolhe um país livre, soberano e ao serviço dos trabalhadores.

10 – «Vocês gostam de ditaduras»

O PCP não se limita a defender, no seu programa, uma democracia mais plural, participativa e verdadeira, tem um projecto e um modelo concretos de democracia: a Constituição da República Portuguesa. Essa democracia por que luta a CDU não se extingue nas urnas de voto, estendendo-se ao acesso à saúde, à cultura e à educação, traduzindo-se na liberdade de intervir e de mudar. Mais ainda, não há partido em Portugal com credenciais democráticas superiores às do PCP: foi ele que durante quase meio século arriscou tudo para derrubar a ditadura fascista; Enquanto os militantes comunistas se dispunham a perder a liberdade e a vida no combate pela democracia, uma geração inteira de futuros Presidentes da República, comentadores, ministros e vendedores de banha da cobra aninhavam-se nas instituições fascistas afiançando estar «integrados no regime».

11 – «Estivemos a consolidar as contas com sacrifícios»

Que contas são essas? O défice aumentou para 7,2%, a dívida pública cresceu para 130% do PIB (qualquer coisa como oito milhões de euros por dia) e os salários caíram, pelo menos, 10% desde que a «crise» começou. As únicas contas que, com os nossos sacrifícios, ficaram melhor consolidadas são as contas da Jerónimo Martins na Holanda e a do Cavaco no BPN. A consolidação é para as contas privadas deles, o desgoverno, a crise e a austeridade são para as nossas. Não é possível equilibrar as contas sem um aparelho produtivo forte, salários dignos, soberania económica e financeira e justiça fiscal.

12 – «Abstenção, voto nulo ou branco»

Consideremos uma amostra de 100 pessoas. Destas, 60 optam por nem ir à mesa de voto, outros dez votam em branco e cinco preferem inutilizar o voto. Ficamos com 75% de não-votos. Contudo, os outros 25% vão votar. Suponhamos então que o PS arrecada 10 votos, a PàF conta 8 votos, a CDU 4 votos e, por fim, 3 para o BE. Consequentemente, este parlamento hipotético seria formado com base nos seguintes resultados: PS – 40%; PàF – 32%; CDU – 16% e BE – 12%. Quando a CDU apresentasse, nesta assembleia, um projecto para aumentar os impostos sobre os produtos de luxo ou devolver os subsídios roubados, a imensa maioria dos deputados voltaria a fazer o que sempre faz: defender os mais ricos. Os três partidos da troika iam continuar a governar a seu bel-prazer apesar de 75% dos eleitores terem optado por deixar a decisão na caneta de apenas 25%. A nossa força está no voto consequente, no voto que não se verga perante os podres poderes instituídos. E se os não-votos equivalessem a cadeiras vazias, o resultado era o mesmo: as cadeiras ocupadas continuavam a decidir. Não votar, votar em branco ou votar nulo é não ter opinião formada sobre a nossa casa ser assaltada, é votar tacitamente nos mesmos que nos arruínam a vida.

13 – «Mas não há dinheiro»

Se o problema é receita e despesa, a CDU tem soluções: poupe-se 6,7 mil milhões de euros renegociando a dívida; tribute-se os lucros e dividendos das super-fortunas, aumentando a receita fiscal em 9,3 milhões; ataque-se evasão fiscal , arrecadando 3,5 mil milhões de euros; corte-se em 50% as contratações de serviços externos ao Estado, encaixando mais 600 milhões; renegoceie-se as Parcerias Público-Privadas e os ruinosos contratos swap. Mas, no essencial, a proposta do PCP para aumentar a receita centra-se na valorização do trabalho. Por exemplo, uma redução de cem mil desempregados permitiria um acréscimo directo de 900 milhões às receitas da segurança social, a par de um aumento da receita fiscal de 1,1 mil milhões de euros. Os partidos que dizem que não há dinheiro falam em nome de quem o tem todo guardado.

14 – «Voto na PàF para não ir para lá o PS outra vez»

Ver número 3, só que ao contrário.

15 – «Lobby gay! Quando a minha mãe me pariu isto não era assim!»

Ninguém estava a falar contigo, Marinho e Pinto.