Disseram-nos que devíamos 220 mil milhões a alguém por andarmos a viver acima das nossas possibilidades. Não sabemos bem a quem devemos esse dinheiro, mas sabemos que nos vieram ajudar a pagar a dívida para podermos ter trabalho e salário. Bancos acorreram a salvar-nos, através do FMI, e emprestaram-nos 82 mil milhões de euros.
No entanto, a bondade, paga-se. Chama-se juro. E de juros, pelo dinheiro que nos emprestaram para nos ajudar temos que pagar 8,2 mil milhões. Por ano.
É verdade que nem eu, nem tu, nem todos os leitores deste blog juntos podemos imaginar o que são 8,2 mil milhões. Na verdade, estamos a falar de cerca de 10% do valor total do Orçamento do Estado. Vamos escrever por extenso, oito mil e duzentos milhões de euros, ou em algarismos à unidade do euro, 8 200 000 000 €.
Mas este número vai crescer. Porquê? Porque se pagam juros sobre os juros. Ou seja, pagamos os juros mas eles continuam a aumentar. Mas a tal dívida já está paga. Mas os juros não. Pois.
Mas então, em que é que se traduz um ano de juros que são pagos aos grandes bancos internacionais? O que é que significam estes números? Um ano de juros significa:
701 anos de apoio directo às artes em Portugal.
8 anos de medicamentos gratuitos em todos os hospitais para todos os portugueses.
25 anos de propinas gratuitas para todos, até ao doutoramento.
Reposição de 3 anos de cortes salariais nos funcionários públicos.
60 vezes o valor da Empresa Geral de Fomento.
45 casas para cada sem-abrigo que existe em Portugal.
O abono de família tirado às crianças este ano e os próximos 389 anos de reposição.
Tudo isto com o dinheiro que se gasta num ano em juros da dívida. Este valor vai continuar a crescer. E a cada ano que passa, perdemos décadas ou séculos de investimento público em direitos constitucionais.
Cada português que trabalha paga 1640 euros por ano para os banqueiros e agiotas internacionais e nacionais, como os do BES, por exemplo.
Cada português, se dividirmos pelas crianças e jovens que ainda não trabalham, paga 820 euros por mês para esses banqueiros. Só em juros e comissões da dívida, sem contar as amortizações de capital.
De facto, vivemos acima das nossas possibilidades porque somos forçados a trocar um curso superior pelo que temos que pagar pelo BES.
Somos forçados a trocar tratamentos clínicos e medicamentosos pelo que o Governo nos obriga a pagar a bancos que financiam hospitais privados.
Somos forçados a viver pior para que poucos vivam bem.
Ainda acreditas que não há dinheiro para pagar salários? Ou agora percebes que há, está é no bolso dos ricos, e que foi tirado dos teus bolsos e posto nos deles pelo Governo?