Seis meses

Nacional

Há seis meses atrás o grupo Martifer, ou a empresa West Sea – criada para esse mesmo fim, tomou conta dos nossos Estaleiros Navais de Viana do Castelo, no tristemente famoso processo de subconcessão. O ano havia começado há 10 dias e dava-se a machadada final naquela que foi, e podia continuar a ser, uma das mais importantes empresas da região alto-minhota. As promessas de criação de postos de trabalho e contratos para construção e reparação naval, de forma a salvar os ENVC, eram o pão nosso de cada dia. Seis meses se passaram. O que temos hoje em Viana do Castelo?

O jornal Público referia, na altura, que “num período de seis meses deverão ser criados 400 postos de trabalho nos actuais estaleiros, na área da construção e reparação naval, prevendo o novo subconcessionário um investimento de modernização das instalações e equipamentos dos ENVC, empresa que entretanto será encerrada.” A verdade é que os ENVC foram, realmente, encerrados, mas o resto… Actualmente existem 60 trabalhadores a cumprir horário onde já laboraram mais de dois mil. O trabalho que têm desenvolvido prende-se com a venda em leilão de diverso material dos antigos Estaleiros, sendo que até um par de muletas (!!!) foi leiloado. Construção naval não existe (apesar da prometida carteira de encomendas), tendo sido entretanto reparados dois navios. Por quem? Não sabemos, mas certamente que a Martifer nos poderá esclarecer de onde vinham e quem transportavam nas suas carrinhas que todos os dias, de madrugada, chegavam a Viana do Castelo. Antigos trabalhadores dos ENVC não eram, concerteza.

Da mesma forma poderá falar do despedimento de 500 trabalhadores da Martifer Componentes em Oliveira de Frades, ou do seu passivo, superior ao dos próprios ENVC. O restante nós vamos adivinhando.

Não deixa de ser curioso que o relatório da Comissão Parlamentar de Inquérito procure absolver os partidos da direita directamente envolvidos no caso (refira-se aqui os navios para os Açores ou os asfalteiros para a Venezuela) e tente culpar os trabalhadores pelo encerramento da empresa. O PS procurou mesmo acrescentar estas palavras ao já duvidoso texto: “A empresa, em determinados períodos, apresentou excesso de mão-de-obra, relativamente às suas necessidades, com o elevado absentismo e baixa produtividade, abordados por muitos depoentes como difícil de contornar, a decorrer, muitas vezes, da ação das próprias estruturas sindicais e, nos últimos dois anos e meio, da total inatividade da empresa.”

Esclarecedor.

* Autor Convidado
João Moreira