Marca Portugal

Nacional

Se há coisa que os nossos meios de comunicação social gostam, é da finura de lábios estrangeiros a pronunciar a palavra “Portugal”. Estou em querer que basta um americano articular esse abracadabra para choverem parangonas nas manchetes nacionais sobre a “marca Portugal” e a nossa importância no mundo.

Celebramos qualquer referência: Pode ser o investigador que cá não tinha bolsa mas é uma estrela no MIT; pode ser a Joana Vasconcelos que forrou um cacilheiro a azulejos; pode ser uma actriz que pendurou ao pescoço qualquer coisa feita cá. Não importa, tudo serve. Porque, assim crê alguma imprensa, o nosso problema é falta de auto-estima e isso só se resolve com um adulto que nos dê duas palmadinhas nas costas e nos diga “vês? não és nada foleiro! Até passei uma semana no Oporto!“. Sob o pretexto de “valorizar o que fazemos bem”, os ineptos que nos governam procuram fomentar uma mentalidade servil e deslumbrada com os arrotos dos estrangeiros. A própria mercantilização do nome “Portugal”, como se uma pátria pudesse vender-se, alvitra um futuro para Portugal como nação de criados embevecidos com as loas dos senhores, marca de saloios embasbacados com as proporções.

Há no entanto, produtos da “Marca Portugal” muito populares no estrangeiro, a que os meios de comunicação social dedicam pouca ou nenhuma atenção: Há não muito tempo atrás, a televisão alemã perguntava-se “Será Portugal a nova Índia da Europa?” num longo panegírico ao número de línguas que falamos, ao nosso talento nato para a comunicação por telefone e às vantagens financeiras de instalar call centers na ocidental praia subcontratada.

Noutro registo, um belíssimo artigo de opinião na AlJazeera explicava há dias como o slogan da McDonald’s “Living la vida low cost” também poderia ser o mal-avisado slogan da própria “Marca Portugal”. Como os hambúrgueres da McDonald’s, a vida em Portugal vale muito pouco e lowcost é o epítome do nosso governo.

E mais recentemente ainda, o New York Times dava à estampa uma notícia sobre o chefe de um fundo de cobertura financeira que está a apostar milhões de dólares na bancarrota portuguesa. Curiosamente, nenhum meio de comunicação social quis saber da popularidade comercial da nossa bancarrota. É uma pena, porque a bancarrota pode bem vir a ser o mais popular de todos os produtos da “marca Portugal”.

David Salanic, é o dono da Tortus Capital, uma espécie de máquina de apostas tão arriscadas como avultadas. Mas, é o próprio NY Times que o atesta, David Salanic sabe do que fala quando diz que a dívida soberana portuguesa é, comos se apresenta hoje, impagável. Pelas suas contas, a dívida ascende a cerca de 150% do PIB, ao passo que a economia nacional continua a minguar. A Tortus Capital, insuspeita de simpatias comunistas, também argumenta que o governo perdeu toda a legitimidade, que o programa d troika falhou e que este governo é uma nódoa. A certeza que o fado de Portugal é o default é tal, que a Tortus até já criou e divulgou um detalhado “Programa de Reabilitação de Portugal“, onde acaba por prescrever um governo tecnocrata PS-PSD-CDS para acatar ditames estrangeiros.

Os mercados internacionais falaram sobre nós. Mas a comunicação social preferiu não ouvir. Parece-me até que entanto me lêem o governo manda retirar dos escaparates gamas inteiras de produtos “marca Portugal”.